Você não imagina quantos compostos não testados fazem parte da sua vida

07/05/2015 às 06:173 min de leitura

Você já parou para pensar na quantidade de compostos químicos que, de uma forma ou outra, fazem parte de nossas vidas? E não estamos falando apenas de produtos de limpeza, pigmentos utilizados nos tecidos das nossas roupas, materiais usados em embalagens e revestimentos, por exemplo.

De acordo com Clyde Haberman do The New York Times, as estimativas apontam que nós convivemos com milhares de compostos químicos que são aplicados ou inseridos nos mais variados tipos de produtos que consumimos — e a maioria jamais foi testada para comprovar sua segurança de uso. O problema é que isso significa que ninguém sabe se ou como essas substâncias todas podem afetar a saúde da população.

TRIS

Um exemplo emblemático do que estamos falando é o do TRIS — fosfato de tris(2,3-dibromopropilo) —, um composto que foi utilizado como retardador de chamas nos EUA. Na década de 70, devido ao grande número de crianças que morriam devido a acidentes relacionados com fogo em suas roupas, o governo norte-americano determinou que todos os pijamas infantis fossem tratados com TRIS.

Por sorte, o país vivia em uma época na qual existia uma grande preocupação com respeito aos compostos químicos e sua influência no meio ambiente, e não demorou até que pesquisadores iniciassem uma bateria de testes para comprovar a segurança do emprego do TRIS.

As análises revelaram que o retardador de chamas tinha propriedades mutagênicas, ou seja, que o TRIS era um agente que podia provocar mutações genéticas e, potencialmente, aumentar o risco do surgimento de cânceres. A descoberta provocou uma enorme polêmica na época, e a aplicação da substância em pijamas infantis foi banida.

Migração

Após uma acalorada batalha judicial, a proibição foi derrubada, mas os fabricantes de roupas infantis decidiram não tratar as peças com essa formulação do TRIS — nem com uma versão mais moderna da substância, o TRIS clorado ou fosfato de tris(1,3-dicloro-2-propilo). Contudo, essa substância e outras semelhantes começaram a ser aplicada em móveis como medida de segurança, para retardar a velocidade com a qual o fogo se espalha em caso de incêndio.

Como você sabe, a espuma utilizada em móveis — como sofás, poltronas, colchões etc. — é extremamente inflamável. Assim, em 1975, uma lei aprovada na Califórnia passou a determinar que esse material resistisse ao menos 12 segundos sem se incendiar quando exposto a pequenas chamas, como de velas ou cigarros.

Para cumprir com a nova regulamentação, os fabricantes de móveis passaram a tratar a espuma com grandes quantidades de retardadores. Acontece que, devido ao tamanho do mercado californiano, o novo padrão passou a valer para todo o país. Além disso, pesquisadores concluíram que não adiantava tratar apenas a espuma, já que, no caso dos móveis, ela fica protegida sob forros e tecidos, e são esses os que pegam fogo primeiro.

Problemas

Um dos problemas dessas substâncias retardadoras de chamas é que elas não se combinam quimicamente com a espuma. E você já prestou atenção no que acontece quando batemos sobre sofás ou colchões? Uma nuvem de poeira — por menor que seja — se levanta, não é mesmo? Pois, então... além de partículas de pó, pele, pelos etc., partículas das substâncias usadas para prevenir incêndios também entram em suspensão e se dispersam pelo ambiente.

Agora, imagine uma residência com crianças pequenas, que colocam tudo o que encontram na boca e passam o dia engatinhando para todo lado. E mais: essas partículas não se limitam a se espalhar apenas pelas salas ou quartos das casas. Elas também acabam escapando para o exterior, onde se depositam no solo e vão parar em cursos d’água.

Estudos realizados com crianças que foram expostas a substâncias retardadoras de chamas revelaram que elas têm mais dificuldades de aprendizado e QI mais baixo. As pesquisas também apontaram que esses produtos podem oferecer riscos associados ao surgimento de câncer, perda de memória e debilidades motoras. Inclusive existem experimentos que sugerem que esses compostos podem ser transmitidos por meio da amamentação.

Você já parou para pensar?

No caso dos EUA, nenhuma dessas substâncias para prevenção de incêndios foi banida no país — lembra que até a proibição do uso do TRIS foi derrubada? —, e atualmente existem mais de 80 mil compostos químicos em uso e sobre os quais não existem estudos com respeito à sua segurança.

E toda a história que contamos acima se refere a apenas um deles, que foi analisado não por determinação do governo norte-americano, mas por iniciativa de pesquisadores curiosos. Agora, você já parou para pensar se todas as substâncias aprovadas para uso e que fazem parte do nosso dia-a-dia fossem devidamente avaliadas? Ou, ainda, a quanta coisa a população é exposta sem saber?

***

As informações que usamos nesta matéria fazem parte de uma série de documentários apresentada pelo The New York Times criada pela organização Retro Report. Caso você tenha interesse em saber mais detalhes sobre o caso “TRIS”, não deixe de assistir ao vídeo — em inglês — que inserimos a seguir.

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