Imagem de Samba: quando o ritmo brasileiro era considerado crime no megacurioso

O samba foi um dos principais alvos de racismo sistêmico e seus artistas foram perseguidos durante décadas

<p>Consolidado como um dos maiores ritmos tradicionais no Brasil e inspira&ccedil;&atilde;o para in&uacute;meros g&ecirc;neros musicais como MPB, pagode, ax&eacute; e outros, o <strong>samba</strong>, que faz 105 anos de hist&oacute;ria nesta quinta-feira (02), &eacute; uma refer&ecirc;ncia aos festejos, &agrave; alegria e &agrave; democracia social, tendo como base um movimento que come&ccedil;ou na periferia carioca e se espalhou por todo o Brasil. Apesar disso, o estilo &eacute; marcado por um passado de persegui&ccedil;&atilde;o e preconceito, em uma &eacute;poca em que os compositores eram tratados como &ldquo;vagabundos&rdquo; e relacionados a organiza&ccedil;&otilde;es criminosas.</p>
<p>No in&iacute;cio do s&eacute;culo XX, como reflexo dos resqu&iacute;cios deixados pela Lei &Aacute;urea &mdash; promulgada em 1888 e principal respons&aacute;vel pelo fim da <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120203-e-se-a-escravidao-nao-tivesse-existido.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">escravid&atilde;o</a> no Brasil &mdash; autoridades nacionais estabeleceram decretos que criminalizavam o desemprego. Isso quer dizer que, caso os policiais interpretassem que um cidad&atilde;o maior de 14 anos estava ofendendo a &ldquo;moral e os bons costumes&rdquo;, o indiv&iacute;duo poderia pegar uma pena de at&eacute; 30 dias de pris&atilde;o.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;BNDigital&nbsp;" data-fonte-url="http://bndigital.bn.gov.br/exposicoes/ai-ai-ai-cem-anos-o-samba-faz/a-marginalizacao-do-samba/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/12/02/02135315037213.jpg" alt="(Fonte: BNDigital / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: BNDigital/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>A ordem, que ficou conhecida como Lei dos Vadios e Capoeiragem, &eacute; datada do segundo C&oacute;digo Penal brasileiro e foi aprovada para inibir a atividade de capoeiristas, visto que a pr&aacute;tica teve origens com a etnia banto &mdash; grupo de escravizados africanos que encontrou, na <a href="https://www.megacurioso.com.br/musica-e-danca/" rel="noopener noreferrer" target="_blank">dan&ccedil;a</a>, uma forma de luta e resist&ecirc;ncia. Dessa forma, a norma foi um mecanismo de combate envolvendo quest&otilde;es raciais e sociais na tentativa de privar a ascens&atilde;o de manifesta&ccedil;&otilde;es da popula&ccedil;&atilde;o negra no Pa&iacute;s.</p>
<p>&ldquo;J&aacute; no final do s&eacute;culo XIX, buscou-se acabar com os corti&ccedil;os que existiam na cidade, em especial os do centro, pois j&aacute; se havia percebido que n&atilde;o era esse o tipo de habita&ccedil;&atilde;o que condizia com o novo tipo de organiza&ccedil;&atilde;o social que o Rio de Janeiro deveria apresentar&rdquo;, escreveram os pesquisadores Rafaela Cardoso Bezerra Cunha e Ricardo Augusto de Ara&uacute;jo Teixeira, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), esclarecendo as tentativas de &ldquo;embranquecimento&rdquo; e repress&atilde;o &agrave;s camadas pobres.</p>
<h2>Qual a rela&ccedil;&atilde;o entre capoeira e samba?</h2>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Casa do Choro&nbsp;" data-fonte-url="https://casadochoro.com.br/portal/view/acervo"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/12/02/02160106999285.jpg" alt="Jo&atilde;o da Baiana. (Fonte: Casa do Choro)" /><span class="desc">Jo&atilde;o da Baiana. (Fonte: Casa do Choro/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Al&eacute;m de ocorrerem em periferias e locais onde aconteciam festejos de capoeira, as rodas de samba tamb&eacute;m possuem ra&iacute;zes na cultura preta, e isso foi motivo suficiente para que artistas fossem perseguidos e colocados em p&aacute;ginas de jornais como criminosos. Segundo o historiador Lira Neto, um cidad&atilde;o poderia ser preso pelo simples fato de estar portando um <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119918-6-instrumentos-musicais-que-voce-nem-imaginou-que-existiam.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">instrumento musical</a>, caso fosse entendido, pelos policiais, como uma subvers&atilde;o &agrave; lei.</p>
<p>Um dos casos mais escandalosos foi relatado pelo sambista Jo&atilde;o da Baiana (1887-1974), que teve seu pandeiro apreendido pela pol&iacute;cia, em meados de 1920, como prova da suposta &ldquo;vadiagem&rdquo; do artista. Sem seu instrumento, Jo&atilde;o acabou n&atilde;o comparecendo a uma roda de samba prevista para ocorrer na mesma noite da abordagem, mas foi surpreendentemente convocado para o gabinete do ent&atilde;o senador Jos&eacute; Gomes Pinheiro Machado (1851-1915), f&atilde; declarado do ritmo musical.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Ag&ecirc;ncia Brasil&nbsp;" data-fonte-url="https://agenciabrasil.ebc.com.br/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/12/02/02135649132218.jpg" alt="(Fonte: Ag&ecirc;ncia Brasil / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Ag&ecirc;ncia Brasil/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>&ldquo;A persegui&ccedil;&atilde;o no in&iacute;cio do s&eacute;culo passada &eacute; t&atilde;o racista quanto o sistema de justi&ccedil;a criminal brasileiro, cujo crit&eacute;rio determinante &eacute; a posi&ccedil;&atilde;o de classe do autor, ao lado da cor de pele e outros indicadores sociais negativos, tais como pobreza, desemprego e falta de moradia&rdquo;, disse Reinaldo Santos de Almeida, professor de Direito Penal da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).</p>
<h2>Salvo pelo Carnaval</h2>
<p>Mesmo com a forte repress&atilde;o e com os sambistas cada vez mais escondidos em suas casas, as m&uacute;sicas do g&ecirc;nero sobreviveram por d&eacute;cadas e passaram a relatar casos de <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/118286-5-expressoes-que-sao-racistas-e-voce-nao-sabia.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">racismo</a> e preconceito em suas letras, de forma a denunciar um sistema agressivo que operava entre as classes mais pobres. Com o tempo, elas foram adaptadas para marchinhas de Carnaval e blocos de rua, que come&ccedil;aram a se intensificar por volta de 1940, mesmo com a Lei dos Vadios e Capoeiragem tendo sofrido uma renova&ccedil;&atilde;o em 1941.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Folhapress&nbsp;" data-fonte-url="https://folhapress.folha.com.br/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/12/02/02135531538217.jpg" alt="(Fonte: Folhapress / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Folhapress/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Como o Carnaval nunca havia sido proibido no Pa&iacute;s, artistas de todos os locais encontraram um espa&ccedil;o comum para compor e cantar, sempre resgatando a viol&ecirc;ncia simb&oacute;lica, f&iacute;sica e estrutural que incidiu sobre eles. Por&eacute;m, a regula&ccedil;&atilde;o ainda era forte na metade do s&eacute;culo XIX e o poder p&uacute;blico insistia em criar artif&iacute;cios &ldquo;fora da lei&rdquo;, baseando-se em chantagem atrav&eacute;s da inje&ccedil;&atilde;o de dinheiro e em uma fiscaliza&ccedil;&atilde;o rigorosa.</p>
<p>Por d&eacute;cadas, as escolas de samba eram privil&eacute;gios das pessoas ricas, que se aproveitavam das marchinhas de samba e da persegui&ccedil;&atilde;o para reivindicar autoria das m&uacute;sicas. A grande mudan&ccedil;a ocorreu apenas em 1967, quando o ent&atilde;o prefeito de S&atilde;o Paulo, Jos&eacute; Vicente Faria Lima, decidiu &ldquo;disciplinar&rdquo; a festa e editou um decreto que confinava os desfiles na avenida S&atilde;o Jo&atilde;o, no centro da cidade. O Samb&oacute;dromo do Anhembi, local dedicado &agrave;s escolas de samba, foi inaugurado apenas em 1991, pelas m&atilde;os da ex-prefeita paulista Luiza Erundina.</p>

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Samba: quando o ritmo brasileiro era considerado crime

Imagem de Conheça o gesto universal para denunciar a violência doméstica  no megacurioso

Muitas mulheres podem ser salvas de situações de abuso dentro de casa com um simples gesto

<p>Na semana passada (17), o influenciador digital <a href="https://twitter.com/search?q=felipe%20neto%20bruna&amp;src=typed_query" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Felipe Neto</a> foi v&iacute;tima de uma fake news sobre viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica. Em um v&iacute;deo publicado no TikTok, sua namorada Bruna Gomes fazia o n&uacute;mero 4 com a m&atilde;o para falar de seus cachorros. As imagens, no entanto, foram compartilhadas de maneira distorcida por algumas pessoas e da&iacute; surgiu a falsa not&iacute;cia de que o youtuber estaria agredindo sua companheira.</p>
<p>O caso j&aacute; foi esclarecido tanto por Felipe quanto por Bruna. O v&iacute;deo original, com &aacute;udio, evidenciando que Bruna falava mesmo de seus c&atilde;es, foi publicado no Instagram do youtuber. &nbsp;&nbsp;</p>
<p>Al&eacute;m de servir para nos ensinar mais uma vez que <strong>as&nbsp;</strong><strong>fake news devem ser combatidas</strong>, e que todo e qualquer conte&uacute;do deve ser verificado antes de ser compartilhado, a pol&ecirc;mica levou mais pessoas a conhecer um gesto que serve para alertar sobre a viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica.</p>
<h2>Seguran&ccedil;a dom&eacute;stica</h2>
<p>Com a <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/118567-a-era-das-pandemias-sera-essa-a-nossa-realidade.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">pandemia</a>, veio tamb&eacute;m o confinamento, e com ele ainda mais v&iacute;timas de abuso dom&eacute;stico. Foi pensando nisso que a Funda&ccedil;&atilde;o das Mulheres Canadenses, que luta pela igualdade de g&ecirc;nero e pelo empoderamento feminino no Canad&aacute;, lan&ccedil;ou o Sinal de Ajuda (Signal for Help). A ideia &eacute; que mulheres que precisem de aux&iacute;lio consigam pedir ajuda sem alardear o parceiro, por exemplo, em uma videochamada com os familiares.</p>
<p>No v&iacute;deo de divulga&ccedil;&atilde;o para ensinar as pessoas sobre o sinal criado, uma mo&ccedil;a conversa com a amiga e, em determinado momento, ela mostra a palma de uma das m&atilde;os, fecha o polegar (simulando fazer o n&uacute;mero 4) e, ent&atilde;o, abaixa todos os dedos, ficando de punho fechado por alguns segundos.</p>
<p style="text-align: center;"><iframe width="1350" height="480" src="https://www.youtube.com/embed/AFLZEQFIm7k" title="YouTube video player" frameborder="0" allowfullscreen="allowfullscreen"></iframe></p>
<h2>Sinal de socorro</h2>
<p>O gesto, de abrir e fechar uma das m&atilde;os seguindo os passos indicados, serve para alertar que aquela pessoa est&aacute; sendo v&iacute;tima de viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica. Muitas mulheres sentem medo de denunciar ou procurar ajuda, e isso se torna ainda pior em um confinamento, em virtude da dificuldade de acionar as autoridades sem que o parceiro descubra.</p>
<p>A ideia, ent&atilde;o, &eacute; disseminar o sinal para que mais pessoas consigam pedir socorro em situa&ccedil;&otilde;es de viol&ecirc;ncia dentro de casa. Um gesto simples, que, quando conhecido por todos, pode ajudar a salvar muitas v&iacute;timas.</p>
<p>Se voc&ecirc; ou alguma mulher que voc&ecirc; conhece &eacute; v&iacute;tima de viol&ecirc;ncia dom&eacute;stica e/ou de g&ecirc;nero, ligue para o 180, a Central de Atendimento &agrave; Mulher do Minist&eacute;rio da Mulher, da Fam&iacute;lia e dos Direitos Humanos. No <a href="https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/denuncie-violencia-contra-a-mulher/violencia-contra-a-mulher" rel="noopener noreferrer" target="_blank">site do governo federal</a> &eacute; poss&iacute;vel encontrar mais informa&ccedil;&otilde;es e outros canais de atendimento.</p>

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Conheça o gesto universal para denunciar a violência doméstica 

Imagem de Zoológicos humanos: o retrato do racismo no século XIX no megacurioso

Diferentemente dos freak shows, pessoas foram exibidas como animais só por não serem ocidentais

<p>Tamb&eacute;m foi usado o termo &ldquo;exposi&ccedil;&otilde;es etnol&oacute;gicas&rdquo; como um eufemismo para o que realmente era: um zool&oacute;gico de pessoas. Mas n&atilde;o qualquer pessoa, o espa&ccedil;o era destinado apenas para aquelas consideradas etnicamente diferentes da ra&ccedil;a predominante, ou seja, branca.</p>
<p>Ao longo do s&eacute;culo XIX e XX, essas exibi&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas de pessoas se tornaram cada vez mais comuns e frequentes quando os cientistas &mdash; e tamb&eacute;m os oportunistas &mdash; perceberam que a sociedade estava despertando &ldquo;um not&aacute;vel interesse&rdquo; por outras culturas. No entanto, essa curiosidade n&atilde;o era em nada educacional, pois surgiu apenas para demonstrar uma quest&atilde;o de superioridade ocidental contra aqueles que pertenciam a um mundo ainda &ldquo;b&aacute;rbaro&rdquo;, como os africanos.</p>
<p>O conceito dos zool&oacute;gicos humanos foi impulsionado pela promo&ccedil;&atilde;o dos "<a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/118685-eko-e-iko-os-irmaos-negros-e-albinos-sequestrados-pelo-freak-show.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">freak shows</a>" que acontecia na Am&eacute;rica e na Europa, popularizado por P.T. Barnum, que arrebanhou todos os tipos de &ldquo;rejeitados sociais&rdquo;, como pessoas com raridades biol&oacute;gicas, para lucrar com isso ao apresent&aacute;-las como animais em cima de palcos, por tr&aacute;s de grades ou redomas de vidro.</p>
<p>Mas n&atilde;o se engane, os zool&oacute;gicos &eacute;tnicos conseguiram ser ainda mais doentios.</p>
<h2>Entretenimento de &ldquo;gente do bem&rdquo;</h2>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Twitter&nbsp;" data-fonte-url="https://pbs.twimg.com/media/FC4hmWtWUAAzRwq.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10192101139541.jpg" alt="(Fonte: Twitter/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Twitter/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Foi Carl Hegebeck (1844-1913)&nbsp;que criou o primeiro zool&oacute;gico moderno, bem como o humano, tendo como inspira&ccedil;&atilde;o exibi&ccedil;&otilde;es p&uacute;blicas de pessoas que aconteciam desde o s&eacute;culo XV. Quando Crist&oacute;v&atilde;o Colombo embarcou nativos americanos para a Europa, eles desfilaram pelas ruas das grandes cidades espanholas, como Sevilha e Barcelona, como verdadeiros animais de circo, t&atilde;o &ldquo;ex&oacute;ticos&rdquo; e &ldquo;abomin&aacute;veis&rdquo;.</p>
<p>A partir daquele momento, n&atilde;o precisou de muito tempo para que se naturalizasse o gosto em ver &ldquo;esse tipo de gente&rdquo; diferente em feiras feitas em cidades europeias que se diziam muito orgulhosas de seu &ldquo;pensamento moderno&rdquo;. Em Bruxelas, Londres e Hamburgo, os zool&oacute;gicos humanos panfletaram pessoas naturais do Egito, da Coreia e de todas as partes da &Aacute;frica.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;CBC&nbsp;" data-fonte-url="https://www.cbc.ca/natureofthings/content/legacy/humanzoo_story.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10192211451543.jpg" alt="(Fonte: CBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: CBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Esses zool&oacute;gicos conseguiram ser ainda mais cru&eacute;is e abusivos que os shows de aberra&ccedil;&otilde;es que, ao menos, pagavam seus &ldquo;contratados&rdquo; e proporcionavam um ambiente onde eles se sentiam minimamente acolhidos &mdash; ainda que de maneira deturbada. Nos zool&oacute;gicos humanos n&atilde;o teve nada disso.</p>
<p>As exibi&ccedil;&otilde;es colocaram pessoas completamente saud&aacute;veis, cujo &uacute;nico &ldquo;defeito&rdquo; era ser de uma ra&ccedil;a diferente, atr&aacute;s de grades sem ganhar absolutamente nada, deixadas para morrer &agrave; m&iacute;ngua ap&oacute;s anos de explora&ccedil;&atilde;o, de doen&ccedil;as ou de causas naturais.</p>
<h2>Vida roubada</h2>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;History Collection&nbsp;" data-fonte-url="https://cdn.historycollection.com/wp-content/uploads/2018/04/image_thumb9.png"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10192405889544.png" alt="(Fonte: History Collection/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: History Collection/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Enquanto isso, a ind&uacute;stria de exibi&ccedil;&atilde;o de pessoas apenas aumentou, principalmente na segunda metade do s&eacute;culo XIX, quando os zool&oacute;gicos humanos j&aacute; eram populares nas principais capitais europeias, atraindo regularmente um p&uacute;blico de 200 a 300 mil visitantes por ano. Na Paris de 1877, por exemplo, famosa por apresentar povos n&uacute;bios e inu&iacute;tes, chegou a receber mais de 1 milh&atilde;o de espectadores.</p>
<p>Em 1889, a Feira Mundial de Paris recebeu mais de 28 milh&otilde;es de visitantes para apreciar a exposi&ccedil;&atilde;o mais famosa: a &ldquo;aldeia negra&rdquo;, que exibia 400 ind&iacute;genas de v&aacute;rias col&ocirc;nias francesas, divididos em seis pequenas &aacute;reas onde viviam, dormiam e trabalhavam como qualquer um. No entanto, para os espectadores, eles viam apenas a diferen&ccedil;a na forma de viver entre um &ldquo;civilizado&rdquo; e um &ldquo;selvagem&rdquo;.</p>
<p>O s&eacute;culo XX tamb&eacute;m prosperou com as exibi&ccedil;&otilde;es etnol&oacute;gicas que, dessa vez, levaram as atra&ccedil;&otilde;es para um pr&oacute;ximo n&iacute;vel ao mostrar humanos seminus em gaiolas, como aconteceu nas Exposi&ccedil;&otilde;es Coloniais organizadas em Marselha, entre 1906 e 1922. Quando foi encerrada, em 1931, a feira humana havia atra&iacute;do 34 milh&otilde;es de pessoas.</p>
<p>Apesar de a Europa ter sido o lar para esse tipo cruel e bizarro de pr&aacute;tica, os Estados Unidos foram o respons&aacute;vel por deter o t&iacute;tulo do maior zool&oacute;gico humano do mundo. Inaugurado em 1904, na Feira Mundial de St. Louis, a Exposi&ccedil;&atilde;o das Filipinas abrigou mais de mil filipinos de diferentes tribos, e a &aacute;rea onde foram confinados tinha mais de 130 edif&iacute;cios.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Onedio&nbsp;" data-fonte-url="https://img-s1.onedio.com/id-604b1f34c991cf881e9be5c3/rev-0/w-900/h-506/f-jpg/s-fd79a8e0835d28d550944a1a05a08efee55aea12.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10192537983545.jpg" alt="(Fonte: Onedio/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Onedio/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Anunciada como &ldquo;o lugar menos civilizado&rdquo; de todo o vilarejo, a Vila Igarot foi a exposi&ccedil;&atilde;o que atraiu mais visitantes, porque apresentava nativos seminus que recebiam c&atilde;es para cozinhar e comer diariamente. Tamb&eacute;m foi oferecido para o expectador cerim&ocirc;nias e dan&ccedil;as para sua divers&atilde;o durante o &ldquo;passeio&rdquo;.</p>
<p>As consequ&ecirc;ncias desse tipo de entretenimento foram extensas e, por vezes, irrevers&iacute;veis, tanto para quem foi submetido a elas quanto para a pr&oacute;pria constru&ccedil;&atilde;o do pensamento social &mdash; ainda mais em um pa&iacute;s tradicionalmente preconceituoso como os EUA.</p>
<p>Um exemplo disso foi o caso do congol&ecirc;s <a href="https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/98609-conheca-o-caso-do-homem-que-se-transformou-em-atracao-do-zoologico-do-bronx.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Ota Benga</a>, exibido na feira americana como um canibal devido a seus dentes afiados. Depois que o zool&oacute;gico terminou, o homem ainda foi vendido, mantido em uma gaiola com macacos em um zool&oacute;gico do Bronx, e acabou se suicidando quando liberto por n&atilde;o saber como se adaptar ao novo ambiente.</p>
<p>No final das contas, os brancos e ocidentais, demonstrando sempre seu complexo de superioridade, foram os &uacute;nicos que se beneficiaram dos zool&oacute;gicos humanos. E, quando esse tipo de atra&ccedil;&atilde;o deixou de ser novidade, n&atilde;o apenas eles descartaram essas pessoas para serem mastigadas e cuspidas pela sociedade, como tamb&eacute;m chafurdaram e destru&iacute;ram a heran&ccedil;a hist&oacute;rica de cada um deles em um apagamento sistem&aacute;tico de suas origens.</p>

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Zoológicos humanos: o retrato do racismo no século XIX

Imagem de Do lixo à energia eólica: as indústrias que a máfia controla no mundo no megacurioso

A organização criminosa está em todos os lugares

<p>Para muitas pessoas, a organiza&ccedil;&atilde;o criminosa que &eacute; a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119411-operacao-husky-o-controverso-acordo-dos-eua-com-a-mafia-italiana.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">m&aacute;fia</a>, que muito prosperou durante o s&eacute;culo XX, principalmente nos Estados Unidos e na It&aacute;lia, se baseia em produtos e atividades que s&atilde;o altamente rent&aacute;veis devido a sua ilegalidade, como drogas,<a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119526-brasil-ja-foi-um-dos-centros-dos-jogos-de-azar-do-mundo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">&nbsp;jogos de azar</a> e prostitui&ccedil;&atilde;o.</p>
<p>No entanto, os grandes chef&otilde;es colocaram suas m&atilde;os exploradoras em qualquer coisa que trouxesse lucro, al&eacute;m de tamb&eacute;m terem entrado em conluio com muitas autoridades para manter seu imp&eacute;rio de sujeira rendendo para eles e para o pa&iacute;s.</p>
<p>Ao longo da hist&oacute;ria da m&aacute;fia nos EUA, seu alcance foi muito al&eacute;m do que se possa imaginar. Para criar incurs&otilde;es em outras ind&uacute;strias sem chamar muita aten&ccedil;&atilde;o para si mesmos, as fam&iacute;lias criminosas encontraram maneiras criativas e discretas de lavar dinheiro e governar onde menos se esperava.</p>
<h2>Lixo adulterado &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp; &nbsp;</h2>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Portland Art Museum&nbsp;" data-fonte-url="https://lh3.googleusercontent.com/proxy/WvDn4V4sDGW75C6dFtc2jbJjb9aOwmrgXAEGp76WWzCgcxAyAnu9_wphURYeVVHxMkBK2kWT1ZLzX_XQC2vAwWjeDwoQPWsB5GBdsmzi0VPj1iIzqgWbci3N9iCXDqbaE8imRObSQJPzFGFBWNP0fCGA3eDRmw"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/29/29141954858236.jpg" alt="(Fonte: Portaland Art Museum/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Portaland Art Museum/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Uma das maiores organiza&ccedil;&otilde;es mafiosas da hist&oacute;ria, a fam&iacute;lia italiana La Cosa Nostra, encontrou uma das maneiras de ocultar seus neg&oacute;cios, na Nova York de 1950, atrav&eacute;s do sistema de saneamento comercial da ind&uacute;stria de transporte de lixo da cidade.</p>
<p>A m&aacute;fia se infiltrou no neg&oacute;cio atrav&eacute;s do sindicato dos Teamsters, ganhando influ&ecirc;ncia sobre as rotas que os Carters, como s&atilde;o chamados os caminh&otilde;es de lixo do Departamento de Saneamento da Cidade, faziam. O sistema de coleta sempre foi considerado vulner&aacute;vel, ent&atilde;o os criminosos se aproveitaram disso para controlarem os caminh&otilde;es ou adicionarem pessoas que faziam nem sequer parte do trabalho.</p>
<p>Quando a empresa terceirizada Browning-Ferris Industries entrou no mercado de coleta de lixo, em 1992, a esposa de um dos executivos encontrou a cabe&ccedil;a decapitada de um pastor alem&atilde;o em seu gramado no dia seguinte, com uma mensagem de &ldquo;Bem-vindo a Nova York&rdquo; em sua boca.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Wikimedia&nbsp;" data-fonte-url="https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a7/SANITATION_WORKERS_COLLECT_GARBAGE_ON_172ND_STREET_IN_MANHATTAN_-_NARA_-_549844.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/29/29142145874237.jpg" alt="(Fonte: Wikimedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Wikimedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Quando o prefeito Rudolph Giuliani assumiu o comando de Nova York, uma de suas prioridades pol&iacute;ticas foi inspecionar o que a m&aacute;fia aprontava em meio aos sacos de lixo da ind&uacute;stria de coleta. Contudo, a presen&ccedil;a dos criminosos resistiram, tanto que, em janeiro de 2013, 30 pessoas membros das fam&iacute;lias Gambino, Genovese e Luchese foram indiciadas por extors&atilde;o.</p>
<p>Em N&aacute;poles, It&aacute;lia, por&eacute;m, o controle das fam&iacute;lias no sistema de lixo ainda &eacute; considerado imenso, desde o in&iacute;cio da d&eacute;cada de 1980. Isso virou not&iacute;cia mundial em 2008, quando o lixo n&atilde;o coletado se amontou pelas ruas da cidade por mais de duas semanas porque os criminosos mantiveram a ind&uacute;stria parada.</p>
<h2>Tijolos marcados</h2>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Local 157&nbsp;" data-fonte-url="http://3.bp.blogspot.com/_wBo373jwGBQ/TNUhYZ98T8I/AAAAAAAABgs/SgznaJZ6lo4/w1200-h630-p-k-no-nu/Construction1.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/29/29142301655238.jpg" alt="(Fonte: Local 157/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Local 157/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>A m&aacute;fia tamb&eacute;m entrou no ramo da constru&ccedil;&atilde;o atrav&eacute;s dos sindicatos, que eram a melhor maneira de instaurar controle. Visto que as empresas de constru&ccedil;&atilde;o fazem propostas de empregos que incluem equipes sindicais, os criminosos adicionam taxas nas licita&ccedil;&otilde;es e ganham os contratos das construtoras comandadas por eles, pagando bem menos aos seus trabalhadores.</p>
<p>A sujeira se espalhou atrav&eacute;s da amea&ccedil;a, injusti&ccedil;a e viol&ecirc;ncia nos sindicatos, com os comparsas da m&aacute;fia conseguindo os melhores empregos, abalando as equipes leg&iacute;timas. O crime se infiltrou em empresas que forneciam materiais para acumular custos e aumentar o pre&ccedil;o da constru&ccedil;&atilde;o.</p>
<p>S&oacute; em 1986, o escrit&oacute;rio do prefeito Giuliani julgou cinco fam&iacute;lias que controlavam sindicatos de trabalhadores e exigiam propinas que custaram milh&otilde;es &agrave; cidade. Ainda hoje existem subcontratados com conex&otilde;es aos mafiosos que continuam a construir projetos pela cidade para desviar dinheiro. Isso aconteceu, por exemplo, durante a constru&ccedil;&atilde;o do One World Trade Center, em 2006.</p>
<h2>Ventos brandos</h2>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Verge&nbsp;" data-fonte-url="https://cdn.vox-cdn.com/thumbor/T7wLAjcrn5Z6KTX7OwjbobxvV1E=/0x0:1024x683/1400x1400/filters:focal(0x0:1024x683):format(jpeg)/cdn.vox-cdn.com/assets/2414285/6182343865_cdb6c8efe1_b.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/29/29142428202241.jpg" alt="(Fonte: The Verge/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: The Verge/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Foi em pa&iacute;ses da Europa que surgiu o termo &ldquo;ecom&aacute;fia&rdquo;, que cresceu na It&aacute;lia, claro, ao se aproveitar de vantagens ambientais oferecidas pelo governo pela Uni&atilde;o Europeia para entrar no ramo de energia e&oacute;lica e outros tipos de energia verde para poder fazer lavagem de dinheiro.</p>
<p>A falta de regulamenta&ccedil;&atilde;o no setor, pre&ccedil;o alto do produto, financiamento complicado e subs&iacute;dios governamentais foram uma combina&ccedil;&atilde;o de fatores que tornaram a energia e&oacute;lica atrativa para os criminosos. Na It&aacute;lia, ela &eacute; vendida por um pre&ccedil;o mais alto que em qualquer lugar do mundo, por isso que surgiram diversos moinhos de vento nas colinas da Sic&iacute;lia. Enquanto isso, os fornecedores e&oacute;licos leg&iacute;timos perderam suas licen&ccedil;as na ind&uacute;stria ou acabaram vendendo seu neg&oacute;cio para a pr&oacute;pria m&aacute;fia sem saber.</p>
<p>Muito embora a presen&ccedil;a e as atividades tradicionais da m&aacute;fia tenham diminu&iacute;do ao longo dos anos, ela ainda resiste em v&aacute;rios setores, como no tr&aacute;fico de drogas, restaurantes, bares e jogos de azar.</p>
<p>S&oacute; na It&aacute;lia, por exemplo, a fam&iacute;lia La Cosa Nostra controla uma em cada cinco empresas do pa&iacute;s, com ramifica&ccedil;&otilde;es em outras partes do mundo. Ela, literalmente, est&aacute; por todos os lugares.</p>

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Do lixo à energia eólica: as indústrias que a máfia controla no mundo

Imagem de 4 escândalos de pirâmides financeiras registrados no Brasil no megacurioso

Golpe vem afetando milhares de brasileiros nos últimos anos, com mais de 50% das vítimas nunca mais recuperando o dinheiro

<p>De acordo com uma pesquisa realizada pelo&nbsp;Servi&ccedil;o Brasileiro de Apoio &agrave;s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 11% da popula&ccedil;&atilde;o brasileira j&aacute; foi v&iacute;tima de golpes de pir&acirc;mide financeira, com 62% dos investidores nunca mais recuperando seu dinheiro. A pr&aacute;tica, considerada criminosa por lei, surge com a promessa de rendimento f&aacute;cil e com um retorno muito superior ao investimento inicial, quando na verdade &eacute; apenas uma justificativa para roubar recursos de milhares de pessoas que buscam renda extra.</p>
<h2>Como funciona um golpe de pir&acirc;mide?</h2>
<p>Tamb&eacute;m conhecido como esquema Ponzi &mdash; em homenagem a Charles Ponzi, seu precursor &mdash;, a pir&acirc;mide financeira &eacute; uma categoria de marketing multin&iacute;vel que garante rendimentos muito superiores aos investidos a partir da recomenda&ccedil;&atilde;o de novos clientes, constituindo a base da <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/119379-cono-de-arita-conheca-a-curiosa-piramide-natural-da-argentina.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">pir&acirc;mide</a> em um ciclo sem fim. Para isso, &eacute; necess&aacute;rio pagar uma taxa para entrar e indicar pessoas para &ldquo;cobrir&rdquo; esse valor, al&eacute;m de contar que as pessoas dos n&iacute;veis abaixo &ldquo;trabalhem&rdquo; para voc&ecirc;.</p>
<p>A inviabilidade de que todas as pessoas sejam adequadamente pagas, as promessas que raramente se cumprem e o modelo pouco sustent&aacute;vel s&atilde;o justificativas para considerar o esquema como crime federal no Brasil, de acordo com a Lei n&ordm; 1.521/51. De fato, o que ocorre &eacute; uma iminente quebra do sistema, onde os investidores de baixos n&iacute;veis saem no preju&iacute;zo e o lucro se concentra a quem est&aacute; no topo.</p>
<p>Confira abaixo alguns dos esquemas de pir&acirc;mides mais not&aacute;veis no Brasil.</p>
<h2>1. Fazendas Reunidas Boi Gordo</h2>
<p>Entre os anos de 1980 e 1990, mais de 30 mil pessoas foram atra&iacute;das para um promissor neg&oacute;cio de bezerros e &ldquo;engorda do gado&rdquo; no interior de Goi&aacute;s, que prometia um retorno de at&eacute; 42% em 18 meses sem a necessidade de trabalhar muito. Para atrair essa multid&atilde;o, os golpistas apostaram em massa na divulga&ccedil;&atilde;o do esquema em TVs e r&aacute;dios, enviando an&uacute;ncios que eram exibidos em hor&aacute;rio nobre nos canais abertos.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Veja&nbsp;" data-fonte-url="https://veja.abril.com.br/economia/ultimo-leilao-das-fazendas-boi-gordo-12-anos-depois-da-falencia/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10093551999046.jpg" alt="(Fonte: Ricardo Benichio - Veja / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Ricardo Benichio/Veja/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Em 2004, a empresa decretou fal&ecirc;ncia e desapareceu com quase R$ 4 bilh&otilde;es em patrim&ocirc;nio passivo, passando a ser investigada pelas autoridades competentes. Ap&oacute;s a Justi&ccedil;a identificar o grupo atuante por tr&aacute;s do &ldquo;scam&rdquo;, foi determinada a venda de bens &mdash; que pagariam 10% do valor investido a credores &mdash; e de mais de 60 fazendas com um total de 220 mil hectares de extens&atilde;o.</p>
<h2>2. Avestruz Master</h2>
<p>No in&iacute;cio dos anos 2000, a empresa <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/117519-artista-vietnamita-perfura-458-mil-buracos-em-ovo-de-avestruz.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Avestruz</a> Master liberou a compra e venda de mais de 600 mil esp&eacute;cimes da ave para milhares de investidores, mediante assinatura de contrato e pagamento antecipado, e garantindo um retorno acima de 10% ao m&ecirc;s. Com isso, quase 50 mil pessoas foram atra&iacute;das para uma esp&eacute;cie de trade de animais, sem saber que eram v&iacute;timas de um neg&oacute;cio que falsificava at&eacute; mesmo sua oferta.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Pixabay&nbsp;" data-fonte-url="https://pixabay.com/cs/photos/search/stado/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10093812655047.jpg" alt="(Fonte: Pixabay / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Pixabay/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Ap&oacute;s a declara&ccedil;&atilde;o de mais de R$ 4 milh&otilde;es em publicidade, os s&oacute;cios da Avestruz Master decretaram fal&ecirc;ncia e fugiram para o Paraguai em um cl&aacute;ssico esquema de &ldquo;rug pull&rdquo; (&ldquo;puxar o tapete&rdquo;, express&atilde;o comum nos EUA para abandono de neg&oacute;cios ap&oacute;s o alcance de um certo lucro). Anos depois, os filhos e o genro do diretor da empresa foram condenados e tiveram que pagar R$ 100 milh&otilde;es aos investidores, mas deixando um preju&iacute;zo total estimado em R$ 1 bilh&atilde;o.</p>
<h2>3. Telexfree</h2>
<p>Com um preju&iacute;zo de quase US$ 3 bilh&otilde;es (cerca de R$ 16 bilh&otilde;es, em convers&atilde;o direta) causado a clientes de todo o mundo, a Telexfree foi um dos golpes financeiros que mais marcou a d&eacute;cada passada, com a empresa chegando a patrocinar o clube de futebol Botafogo em 2014, e investir milh&otilde;es em propaganda. O esquema era baseado na realiza&ccedil;&atilde;o de liga&ccedil;&otilde;es telef&ocirc;nicas via internet e prometia 200% a 250% de lucro &agrave; medida que os &ldquo;divulgadores&rdquo;, que compram e revendem pacote de contas, indicassem novos candidatos &agrave; pir&acirc;mide.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Wikipedia&nbsp;" data-fonte-url="https://pt.wikipedia.org/wiki/Telexfree"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10093928843048.jpg" alt="(Fonte: Wikipedia / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Wikipedia/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>O golpe foi desbancado ainda em 2014, quando uma megaopera&ccedil;&atilde;o ordenou o fim da empresa ao acus&aacute;-la de ser um esquema de pir&acirc;mide e atuar como institui&ccedil;&atilde;o clandestina, captando, administrando e intermediando recursos de terceiros por meio de processos ilegais. Em 2020, Carlos Nataniel Wanzeler, um dos donos da TelexFree, e o s&oacute;cio Carlos Roberto Costa foram condenados, e at&eacute; hoje milhares de pessoas aguardam indeniza&ccedil;&atilde;o.</p>
<h2>4. Atlas Quantum</h2>
<p>Com a ascens&atilde;o das criptomoedas nos &uacute;ltimos anos, centenas de pessoas passaram a aplicar golpes de &ldquo;scams&rdquo; e &ldquo;rug pulls&rdquo;, abrindo corretoras de tokens e coins para, em seguida, desaparecer com o dinheiro dos clientes, muitas vezes usando como desculpa um suposto ataque <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/117387-hacker-invade-cintos-de-castidade-smart-e-prende-penis-de-vitimas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">hacker</a>. Um dos casos mais recentes foi a empresa Atlas Quantum, que repentinamente travou o saque de investidores ap&oacute;s o an&uacute;ncio de falsas promessas de pagamento, sob a justificativa de ter quebrado.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Suno&nbsp;" data-fonte-url="https://www.suno.com.br/noticias/clientes-da-atlas-quantum-solicitam-r-18-milhoes-na-justica/"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/10/10094448499050.jpg" alt="(Fonte: Suno / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Suno/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Estima-se que a companhia tenha causado um preju&iacute;zo de mais de R$ 1 bilh&atilde;o no Brasil, chegando a afetar a carteira de celebridades, como a do comediante ex-CQC Marcelo Tas. Hoje, um longo processo corre na Justi&ccedil;a e os s&oacute;cios da empresa se defendem alegando falta de recursos para indenizar clientes e uma d&iacute;vida causada pela delibera&ccedil;&atilde;o do antigo regulador.</p>

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4 escândalos de pirâmides financeiras registrados no Brasil

Imagem de Como a fiscalização da poluição permite que empresas quebrem regras no megacurioso

Monitoramento de qualidade do ar realizado nos Estados Unidos indica bons resultados em dias de inspeção, mas evidencia piora em dias livres

<p>Promulgada inicialmente em 1963, a Lei do Ar Limpo &eacute; uma das medidas ambientais mais importantes no combate &agrave; emiss&atilde;o de gases poluentes e hoje opera em todo territ&oacute;rio norte-americano, sob vigil&acirc;ncia da Ag&ecirc;ncia de Prote&ccedil;&atilde;o Ambiental dos Estados Unidos (EPA). Por&eacute;m, de acordo com um novo estudo da Universidade de Oregon, entidades empresariais estariam supostamente quebrando os padr&otilde;es federais em dias que n&atilde;o h&aacute; fiscaliza&ccedil;&atilde;o, indicando uma preocupa&ccedil;&atilde;o para a manuten&ccedil;&atilde;o do ar e redu&ccedil;&atilde;o de part&iacute;culas prejudiciais.</p>
<p>Atualmente, a EPA opera com monitoramento presencial em um a cada seis dias, visitando empresas para coletar dados e encontrar os resultados esperados pelo &oacute;rg&atilde;o de fiscaliza&ccedil;&atilde;o. Essa intermit&ecirc;ncia, que ocorre em longos per&iacute;odos &mdash; considerando o prazo semanal &mdash; surge como impacto do or&ccedil;amento limitado e de um cronograma apertado, muitas vezes incapaz de atender adequadamente programas de problemas espec&iacute;ficos como chuva &aacute;cida, prote&ccedil;&atilde;o da camada de oz&ocirc;nio e <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/120153-5-formas-incriveis-de-proteger-o-mundo-das-mudancas-climaticas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">mudan&ccedil;as clim&aacute;ticas</a>.</p>
<p>Conforme uma an&aacute;lise de pixels em fotos de sat&eacute;lite da <a href="https://www.megacurioso.com.br/ciencia/120277-mapas-de-calor-da-nasa-uma-arma-para-combater-o-aquecimento-global.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">NASA</a>, o professor assistente do departamento de economia de Oregon, Eric Zou, identificou inconsist&ecirc;ncias entre os per&iacute;odos em que h&aacute; fiscaliza&ccedil;&atilde;o e os que n&atilde;o h&aacute;, sugerindo que apesar da ag&ecirc;ncia contribuir com o meio ambiente em dias de monitoramento, algumas empresas est&atilde;o burlando as regras estabelecidas em dias que n&atilde;o s&atilde;o vistoriadas, resultando no aumento da emiss&atilde;o de gases estufa.</p>
<p>A diferen&ccedil;a estabelecida entre as datas registrou uma lacuna de 1,6%, que aumentava consideravelmente &mdash; at&eacute; 7% &mdash; &agrave; medida que os n&iacute;veis de emiss&atilde;o dos gases ficava mais pr&oacute;ximo do limite estabelecido. Em contrapartida, os n&iacute;veis de polui&ccedil;&atilde;o permaneceram praticamente inalterados durante os dias em que houve fiscaliza&ccedil;&atilde;o. &ldquo;Parte do projeto est&aacute; tentando pensar que encontramos esse fen&ocirc;meno&rdquo;, diz Zou. &ldquo;E a segunda parte do artigo est&aacute; tentando descobrir o que est&aacute; acontecendo, o que potencialmente poderia ser a causa subjacente.&rdquo;</p>
<h2>Descoberta dos indicadores</h2>
<p>Os dados apontam que as grandes lacunas de <a href="https://www.megacurioso.com.br/saude-bem-estar/120026-alem-da-respiracao-outras-formas-como-a-poluicao-nos-afeta.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">polui&ccedil;&atilde;o</a> ocorreram em &aacute;reas com n&iacute;veis de qualidade do ar mais baixos, onde h&aacute; a maior incid&ecirc;ncia de hist&oacute;rico de recebimento de penalidades por viola&ccedil;&otilde;es e monitoramento intermitente. Al&eacute;m disso, esses territ&oacute;rios abrigam ind&uacute;strias que se destacam por entregar as ditas &ldquo;respostas estrat&eacute;gicas&rdquo;, com algumas delas isentas de cronogramas de produ&ccedil;&atilde;o definidos e mais propensas a reduzir a produtividade nos dias de visitas t&eacute;cnicas.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;NBC&nbsp;" data-fonte-url="https://www.nbcnews.com/science/science-news/air-pollution-listed-cause-9-year-olds-death-uk-rcna202"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/09/09103541504115.jpg" alt="(Fonte: NBC / Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: NBC/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>&ldquo;Existem v&aacute;rios setores que esperamos conduzir isso e que, de fato, n&atilde;o o est&atilde;o fazendo&rdquo;, diz Zou. &ldquo;Por exemplo, descobri que as usinas de energia n&atilde;o s&atilde;o preditivas sobre onde esses pontos de acesso est&atilde;o. Voc&ecirc; pensa nas usinas como poluidoras, mas, por outro lado, o quanto elas produzem &eacute; quase totalmente determinado por quanto as pessoas precisam. &Eacute; muito caro aumentar e diminuir a produtividade de usinas de energia. E tamb&eacute;m &eacute; caro armazenar eletricidade. Elas podem adiar um procedimento gigante para o dia seguinte.&rdquo;</p>
<p>Outro ponto importante observado pelo cientista foi a participa&ccedil;&atilde;o dos governos locais na averigua&ccedil;&atilde;o correta dos agentes poluidores. Segundo an&aacute;lise de avisos emitidos pelas autoridades em 346 cidades e &aacute;reas metropolitanas, h&aacute; uma probabilidade 10% maior do comunicado ter sido realizado no dia da vistoria, indicando que nesses locais houve maiores &iacute;ndices de polui&ccedil;&atilde;o se comparados com &aacute;reas de aviso antecipado.</p>
<p>&ldquo;Os governos estaduais e locais n&atilde;o dizem 'eu simplesmente n&atilde;o me importo com a sa&uacute;de humana'. &Eacute; mais como, '&eacute; muito caro para mim', e se o regulamento for estabelecido de forma que eles tenham um incentivo e uma capacidade de ganhar, talvez alguns deles v&atilde;o fazer isso", critica Zou. &ldquo;O custo de reduzir ainda mais a polui&ccedil;&atilde;o &eacute; bastante alto. Portanto, voc&ecirc; precisa pesar o custo e o benef&iacute;cio.&rdquo;</p>

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Como a fiscalização da poluição permite que empresas quebrem regras

Imagem de Ana Rosa: a jovem morta pelo marido que se tornou milagreira no megacurioso

Mais de 200 milagres são atribuídos à Ana Rosa

<p class="uk-text-justify">No dia 22 de junho de 1885, os habitantes da regi&atilde;o de Botucatu (S&atilde;o Paulo) ficaram horrorizados com a <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/117595-as-teorias-sobre-a-misteriosa-morte-de-brittany-murphy.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">descoberta do corpo</a> de uma mulher nas proximidades da cidade. Sem dedos, l&aacute;bios, orelhas e l&iacute;ngua, a cena dificilmente poderia ser esquecida por quem a visse.</p>
<p class="uk-text-justify">Mais tarde, descobriu-se que aquele corpo mutilado era da jovem Ana Rosa. Na &eacute;poca, ela tinha apenas 20 anos. At&eacute; hoje sua sepultura atrai muitos curiosos, especialmente porque muitas pessoas atribuem ao esp&iacute;rito da mo&ccedil;a assassinada a uma s&eacute;rie de milagres.</p>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)&nbsp;" data-fonte-url="https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46070076"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/04/04105841316122.jpg" alt="Capele em homenagem a Ana. (Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">Capela em homenagem &agrave; Ana. (Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<h2 class="uk-text-justify">Uma vida de viol&ecirc;ncia</h2>
<p class="uk-text-justify">Ana Rosa n&atilde;o teve uma juventude f&aacute;cil. Foi obrigada a se casar com apenas 15 anos com Francisco Carvalho Bastos, popularmente chamado de Chicuta, um homem influente e bastante violento, que tinha em torno dos 40 anos.</p>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)&nbsp;" data-fonte-url="https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46070076"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/04/04105617737121.jpg" alt="(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Ap&oacute;s se casarem, Ana e Chicuta viveram em uma propriedade nos arredores de Avar&eacute;, cidade a 77 quil&ocirc;metros de Botucatu. A jovem era alvo constante da viol&ecirc;ncia e dos ci&uacute;mes do marido. O sofrimento s&oacute; aumentava, e Ana n&atilde;o sabia mais o que fazer at&eacute; que, certo dia, seu algoz decidiu viajar. Era a oportunidade perfeita para fugir daquele lugar e tentar se manter longe das surras.</p>
<p class="uk-text-justify">Ana conseguiu a ajuda de um homem escravizado para fugir. O objetivo dela era se esconder no cabar&eacute; de uma tia na cidade de Botucatu. Quando Chicuta descobriu o que havia acontecido, identificou o escravizado e o matou. Depois, foi atr&aacute;s da esposa.</p>
<p class="uk-text-justify">Como suas tentativas de tirar Ana do cabar&eacute; da tia n&atilde;o foram bem-sucedidas, Chicuta contratou dois homens, sendo que um deles, de nome Costinha, tinha uma miss&atilde;o bem espec&iacute;fica: ganhar a confian&ccedil;a da jovem para, depois, engan&aacute;-la, prometendo que a ajudaria chegar ao Paran&aacute; para que o marido nunca mais a encontrasse.</p>
<p class="uk-text-justify">Por desespero ou inoc&ecirc;ncia, Ana Rosa acabou acreditando no capanga contratado pelo seu esposo. No dia 21 de junho de 1885, ela seguiu Costinha at&eacute; as proximidades do Rio Lavap&eacute;s, em Botucatu, onde foi entregue a Chicuta que a matou lentamente, mutilando seu corpo.</p>
<p class="uk-text-justify">O assassinato de Ana Rosa foi descoberto por acaso: uma mulher escravizada tinha se escondido no local onde Chicuta <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/105088-em-nome-do-amor-mulher-mata-marido-e-joga-acido-na-cara-do-amante.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">cometeu o crime</a> e, por isso, viu como tudo aconteceu. Depois que o corpo foi encontrado por um fazendeiro da regi&atilde;o, ela decidiu contar o ocorrido.</p>
<h2 class="uk-text-justify">Vingan&ccedil;a</h2>
<p class="uk-text-justify">Apenas um dos dois capangas contratados foi condenado, Minigirdo era filho de escravizados. Costinha, por ser filho de uma rica fam&iacute;lia das redondezas, foi absolvido. Quanto a Chicuta, sua desculpa para o crime foi a defesa da honra. Ele tamb&eacute;m foi absolvido.</p>
<p class="uk-text-justify">O enterro de Ana Rosa atraiu centenas de pessoas. A hist&oacute;ria n&atilde;o acaba aqui, mais tarde, os tr&ecirc;s envolvidos em seu assassinato tiveram fins horr&iacute;veis. Chicuta morreu com o pesco&ccedil;o cortado por uma roda de carro de boi; Costinha viu seu fim sendo esmagado por uma &aacute;rvore; enquanto Minigirdo contraiu var&iacute;ola e morreu na pris&atilde;o.</p>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)&nbsp;" data-fonte-url="https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46070076"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/04/04105507236120.jpg" alt="(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: BBC/ S. de Turismo de Botucatu/ Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Esses eventos fizeram as pessoas come&ccedil;arem a pensar que o esp&iacute;rito de Ana Rosa foi quem <a href="https://www.megacurioso.com.br/misterios/117731-caso-daniella-perez-o-marcante-assassinato-de-uma-atriz-global.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">puniu os assassinos</a>. Nas d&eacute;cadas que se seguiram &agrave; sua morte, diversos milagres foram atribu&iacute;dos a ela. No local onde foi encontrada, uma capela foi erguida pelos moradores em homenagem &agrave; mo&ccedil;a. A figura da jovem &eacute; t&atilde;o importante na regi&atilde;o que existe at&eacute; um movimento popular pela sua canoniza&ccedil;&atilde;o.</p>

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Ana Rosa: a jovem morta pelo marido que se tornou milagreira

Imagem de Contrabando de Bíblias: a antiga prática cristã no megacurioso

A maior história de contrabando de todos os tempos começou com o Livro Sagrado e acontece até hoje

<p class="uk-text-justify">A maior hist&oacute;ria de contrabando de todos os tempos come&ccedil;ou com um livro sagrado: a <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/119966-5-coisas-que-a-biblia-proibe-mas-nos-ainda-fazemos.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">B&iacute;blia</a>.&nbsp;Essa obra foi infiltrada de um pa&iacute;s para outro durante per&iacute;odos tensos de intoler&acirc;ncia religiosa, quando as pessoas n&atilde;o tinham a liberdade de acreditar no que desejavam.</p>
<p class="uk-text-justify">Isso tudo come&ccedil;ou em meados de 1550, quando o livro foi contrabandeado para Inglaterra, depois se estendeu de Israel para a S&iacute;ria na d&eacute;cada de 1990. Na era moderna, a pr&aacute;tica aconteceu muito em pa&iacute;ses de regime <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120195-comunismo-e-socialismo-existe-diferenca-entre-as-duas-coisas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">comunista</a>, apesar de ter um papel fundamental em todos os regimes ditatoriais, porque restringiam o acesso &agrave; literatura religiosa e violaram os direitos religiosos de seus cidad&atilde;os.</p>
<p class="uk-text-justify">O contrabando foi dirigido por grupos protestantes privados de todo o mundo, sendo a organiza&ccedil;&atilde;o cat&oacute;lica russa crist&atilde; a mais not&aacute;vel entre eles. E, por mais que haja poucos estudos e dados sobre a hist&oacute;ria dessas organiza&ccedil;&otilde;es, nos pa&iacute;ses comunistas o poder delas de influ&ecirc;ncia sempre foi temido pelas autoridades.</p>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Gospel&nbsp;" data-fonte-url="https://www.billionbibles.com/photos/chinese-bible.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/01/01221825839024.jpg" alt="(Fonte: The Gospel/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: The Gospel/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">O reverendo David Hathway, um ex-contrabandista do Evangelismo Subterr&acirc;neo (uma das organiza&ccedil;&otilde;es protestantes antissovi&eacute;ticas dos Estados Unidos, considerada a mais perigosa pela KGB), continuou a trabalhar na Europa Oriental ap&oacute;s alegar que teve sucesso ao infiltrar a B&iacute;blia, abalando a ideologia comunista. Pessoas como ele se arriscaram em viagens perigosas durante anos para transmitir a mensagem de que os cidad&atilde;os reprimidos n&atilde;o estavam sozinhos e de que existiam outras pessoas por a&iacute; procurando se certificar de que eles estavam recebendo conhecimento diferente do que o pregado pelo governo ao qual estavam submetidos.</p>
<p class="uk-text-justify">Contudo, esses contrabandistas pagaram com a pr&oacute;pria vida pela pr&oacute;pria ousadia, sendo espancados, presos e fuzilados. Conforme a <em>CBN News</em>, s&oacute; na Coreia do Norte, estima-se que, dos 300 mil crist&atilde;os no pa&iacute;s, 70 mil est&atilde;o em&nbsp;<a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/116259-hoeryong-e-os-bizarros-campos-de-concentracao-da-coreia-do-norte.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">campos de concentra&ccedil;&atilde;o de trabalho for&ccedil;ado</a>. No pa&iacute;s, o simples fato de proferir o nome "Jesus" pode sentenciar uma pessoa a 15 anos de trabalho for&ccedil;ado.</p>
<h2 class="uk-text-justify">A miss&atilde;o</h2>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Vision Beyond Borders&nbsp;" data-fonte-url="https://visionbeyondborders.org/mt-content/uploads/2019/09/46452376_10156736990453389_6643673980043526144_o.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/01/01221939151025.jpg" alt="(Fonte: Vision Beyond Borders/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Vision Beyond Borders/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Andrew van der Bijl, mais conhecido como Irm&atilde;o Andrew, foi um oper&aacute;rio holand&ecirc;s que come&ccedil;ou a praticar o contrabando de B&iacute;blia na modernidade, em 1955, no apogeu da <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/119421-aos-10-anos-samantha-smith-tentou-acabar-com-a-guerra-fria.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Guerra Fria</a>. Ele se juntou &agrave; Cruzada de Evangelismo Mundial em 1953, em que ouviu sobre a falta de B&iacute;blias na R&uacute;ssia.</p>
<p class="uk-text-justify">Tr&ecirc;s anos depois, ele j&aacute; ministrava para refugiados da Europa Oriental e havia fundado a organiza&ccedil;&atilde;o Portas Abertas para apoiar seu trabalho com fam&iacute;lias de m&aacute;rtires e estudantes de semin&aacute;rio.</p>
<p class="uk-text-justify">Com seu exemplo aos poucos se espalhando, de repente pessoas seguiam seus passos em pa&iacute;ses escandinavos, nos Estados Unidos, na Su&iacute;&ccedil;a, na Alemanha Ocidental e at&eacute; na Holanda. Todos se ocupavam em angariar tradutores, produtores e impressoras para ajudar na fabrica&ccedil;&atilde;o de B&iacute;blias destinadas &agrave;s pessoas que as contrabandeavam.</p>
<h2 class="uk-text-justify">Os meios</h2>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Voice of Martyrs&nbsp;" data-fonte-url="https://assets.persecution.com/public/graphics/lp_specific/lp_202003_LP4_nk_bibles/holding-tattered-bible-full.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/11/01/01222142323026.jpg" alt="(Fonte: The Voice of Martyrs/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: The Voice of Martyrs/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Com o passar dos anos, a pr&aacute;tica de contrabando foi se tornando cada vez mais aprimorada para que as autoridades n&atilde;o descobrissem. Em 1961, a Miss&atilde;o do Leste Europeu, como ficou conhecida a mudan&ccedil;a de v&aacute;rios casais do Texas para Viena e &Aacute;ustria, contrabandeou o Novo Testamento impresso em letras t&atilde;o pequenas, que passou despercebido, como um ma&ccedil;o de cigarros no bolso de uma camisa.</p>
<p class="uk-text-justify">As B&iacute;blias tamb&eacute;m foram armazenadas em pneus, cal&ccedil;as jeans e at&eacute; emboladas em feno prensado. Atualmente, o livro &eacute; colocado em pen drives e flutuado em bal&otilde;es ao longo da fronteira de pa&iacute;ses como a Coreia do Norte.</p>
<p class="uk-text-justify">Cinquenta anos depois do in&iacute;cio das miss&otilde;es de contrabando, os europeus j&aacute; assumiram seu papel de lideran&ccedil;a, produzindo B&iacute;blias para escolas na Ucr&acirc;nia e na R&uacute;ssia. O contrabando at&eacute; patrocina competi&ccedil;&otilde;es em que crian&ccedil;as disputam seu conhecimento sobre o livro e ganham pr&ecirc;mios.&nbsp;</p>
<p class="uk-text-justify">Atualmente, no leste europeu, a B&iacute;blia &eacute; impressa em mais de 20 idiomas, sendo redistribu&iacute;da para grupos de jovens durante o ver&atilde;o ucraniano.</p>

thumb-image-2024-02-29T14:05:50.641Z

Contrabando de Bíblias: a antiga prática cristã

Imagem de "Freio de bruxa": o método de torturar mulheres na Idade Média  no megacurioso

Por incrível que pareça, o dispositivo foi usado até o final do século XIX

<p class="uk-text-justify">Uma das caracter&iacute;sticas pelas quais a Idade M&eacute;dia &eacute; lembrada &eacute; como uma &eacute;poca sombria em que a brutalidade e a tortura reinavam, mas, pior ainda, eram consideradas aceit&aacute;veis na maioria das circunst&acirc;ncias.</p>
<p class="uk-text-justify">Isso significa que era muito comum que as pessoas usassem v&aacute;rios m&eacute;todos de tortura para punir, for&ccedil;ar e obter confiss&otilde;es tanto de inocentes como de culpados. A amea&ccedil;a era uma ferramenta eficiente para assustar as pessoas at&eacute; a submiss&atilde;o.</p>
<p class="uk-text-justify">Foi na Idade M&eacute;dia que surgiram os pelourinhos, muito famosos durante a era da escravid&atilde;o no Brasil, que era uma moldura de madeira colocada ao redor do pesco&ccedil;o, m&atilde;os e at&eacute; p&eacute;s da pessoa, imobilizando-a completamente, sendo um grande instrumento que incentivava agress&atilde;o p&uacute;blica e vexa&ccedil;&atilde;o.</p>
<p class="uk-text-justify">Enganam-se aqueles que acreditam que as mulheres, por algum momento, tiveram algum tipo de privil&eacute;gio nos idos tempos sombrios dos b&aacute;rbaros, muito pelo contr&aacute;rio.</p>
<h2 class="uk-text-justify">A gaiola</h2>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;History Notes&nbsp;" data-fonte-url="https://www.historynotes.info/wp-content/uploads/2012/10/scolds-bridle2.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/28/28183232052462.jpg" alt="(Fonte: History Notes/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: History Notes/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Na Idade M&eacute;dia, as mulheres de classe baixa costumavam ter um trabalho que ajudava a sustentar a fam&iacute;lia, apesar de em grande parte da hist&oacute;ria antiga elas n&atilde;o terem pertencido a um lugar significativo na composi&ccedil;&atilde;o da pir&acirc;mide social.</p>
<p class="uk-text-justify">Elas eram proibidas de possuir terras ou propriedades e, uma vez casadas, seu trabalho principal se tornava a cria&ccedil;&atilde;o dos filhos. As mulheres ficavam subordinadas aos seus maridos como se fossem propriedades, a quem deveriam honrar e obedecer de maneira incondicional.</p>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Museum of Witchcraft and Magic&nbsp;" data-fonte-url="http://3.bp.blogspot.com/-4NgmXF1eiIM/ViuNalT4vLI/AAAAAAAAC6A/dhzE-smLOEA/s1600/bridle6.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/28/28183315052463.jpg" alt="(Fonte: Museum of Witchcraft and Magic/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Museum of Witchcraft and Magic/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Aquelas que resistiam a seguir esse molde social, eram brutalmente punidas e envergonhadas em pra&ccedil;a p&uacute;blica. Por vezes, essa humilha&ccedil;&atilde;o era encomendada pelo pr&oacute;prio marido, visando dar &agrave; sua mulher uma "li&ccedil;&atilde;o" de "onde era seu lugar" na vida &mdash; tamb&eacute;m porque ele n&atilde;o podia "se dar ao luxo" de ter uma esposa "descontrolada" ao seu lado, desafiando sua masculinidade e colocando em d&uacute;vida sua autoridade como homem.</p>
<p class="uk-text-justify">Para os crimes que inclu&iacute;am importunar os maridos, perturbar a paz ou responder quando repreendidas, as mulheres foram submetidas a um dispositivo chamado "freio de bruxa", uma esp&eacute;cie de cabresto usado em cavalos.</p>
<h2 class="uk-text-justify">A ferramenta</h2>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;The Vintage News&nbsp;" data-fonte-url="https://www.thevintagenews.com/wp-content/uploads/2017/10/an-iron-scolds-bridle-mask-used-to-publicaly-humiliate.jpg"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/28/28183458224464.jpg" alt="(Fonte: The Vintage News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: The Vintage News/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">A ferramenta do s&eacute;culo XVII tinha como objetivo humilhar a mulher em vez de causar dor, ainda que n&atilde;o fosse em nada confort&aacute;vel para quem a usava. A estrutura de ferro envolvia a cabe&ccedil;a da mulher, por vezes com o adicional de uma m&aacute;scara que cobria todo seu rosto, com um peda&ccedil;o de metal conhecido como <em>bridle-bit&nbsp;</em>estendido entre os l&aacute;bios, pressionando a l&iacute;ngua e impedido a mulher de falar.</p>
<p class="uk-text-justify">No s&eacute;culo XVI, o acess&oacute;rio de tortura foi usado, principalmente, na Esc&oacute;cia para torturar mulheres acusadas de <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120070-por-que-a-bruxaria-esta-em-alta-na-sociedade.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">bruxaria</a> &mdash; por isso ganhou o infame nome. No entanto, esse modelo usado, em vez de ter uma &uacute;nica pe&ccedil;a de metal segurando a l&iacute;ngua, tinha pontas afiadas que entravam na boca e perfuravam a l&iacute;ngua e as bochechas da mulher.</p>
<p class="uk-text-justify">Durante a Idade M&eacute;dia, o freio de repress&atilde;o foi usado durante os m&eacute;todos de humilha&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica quando as mulheres foram amarradas nos banquinhos de picar, chamados <em>cucking stool:</em> cadeiras que eram abaixadas em lagos para aterrorizar as mulheres com a sensa&ccedil;&atilde;o de afogamento.</p>
<p class="uk-text-justify"><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Medieval Chronicles&nbsp;" data-fonte-url="https://www.medievalchronicles.com/wp-content/uploads/2015/07/Medieval-People-Dunking-Witch-Water-Medieval-Witchcraft.png"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/28/28183608240465.png" alt="(Fonte: Medieval Chronicles/Reprodu&ccedil;&atilde;o)" /><span class="desc">(Fonte: Medieval Chronicles/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p class="uk-text-justify">Durante a pr&aacute;tica, os transeuntes poderiam gritar, insultar ou arremessar coisas na mulher "desordeira" presa na cadeira.&nbsp;Por incr&iacute;vel que pare&ccedil;a, o freio de repress&atilde;o foi usado, ainda que com menos frequ&ecirc;ncia, at&eacute; o final do s&eacute;culo XIX, normalmente em mulheres vi&uacute;vas, solteiras ou mais velhas. Isso porque elas eram consideradas uma "amea&ccedil;a &agrave; posi&ccedil;&atilde;o moral e social de uma cidade".</p>
<p class="uk-text-justify">A <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120004-o-luto-na-era-vitoriana-possuia-um-conjunto-de-etiquetas.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Era Vitoriana</a> foi a respons&aacute;vel por abolir o dispositivo b&aacute;rbaro e antiquado, devido a uma vis&atilde;o mais "moderada" em rela&ccedil;&atilde;o a como uma mulher deveria ser punida.</p>

thumb-image-2024-02-29T14:05:50.508Z

'Freio de bruxa': o método de torturar mulheres na Idade Média 

Imagem de Polêmica: ter opinião é crime? Entenda os pontos de vista no megacurioso

Assunto voltou a ser pauta após caso envolvendo jogador de vôlei demitido após declarações consideradas homofóbicas

<p>O limite entre opini&atilde;o e crime voltou a dominar os debates depois que o jogador de v&ocirc;lei Maur&iacute;cio Souza (n&atilde;o confundir com o criador da <a href="https://www.megacurioso.com.br/quadrinhos/99941-25-personagens-da-turma-da-monica-e-seus-nomes-verdadeiros.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Turma da M&ocirc;nica</a>, Maur&iacute;cio de Sousa) fez publica&ccedil;&otilde;es pol&ecirc;micas no Instagram criticando uma nova hist&oacute;ria na qual o Super-Homem &eacute; bissexual.</p>
<p>Esse Super-Homem bi &eacute; o filho do <a href="https://www.megacurioso.com.br/quadrinhos/39850-por-que-ninguem-reconhece-que-clark-kent-e-super-homem-sao-a-mesma-pessoa-.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Clark Kent</a>, que continua h&eacute;tero e casado com a Lois Lane, at&eacute; onde a gente sabe.&nbsp;</p>
<p>Depois desse post sobre o Super-Homem, Souza fez outros, falando que "o errado virou certo e o certo virou errado", que "defende valores" e por a&iacute; vai. Talvez isso tenha "engrossado o caldo" para ele, porque disse com todas as letras que acha que ser gay e bi &eacute; errado. Para bom entendedor&hellip;</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Twitter/Reprodu&ccedil;&atilde;o&nbsp;" data-fonte-url="https://twitter.com/ZellFlorizel/status/1453871076010831889/photo/1"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/28/28231908063023.jpeg" alt="Imagem: Twitter/Reprodu&ccedil;&atilde;o" /><span class="desc">(Fonte: Twitter/Reprodu&ccedil;&atilde;o)</span></span></p>
<p>Para complicar ainda mais a hist&oacute;ria, boa parte do p&uacute;blico come&ccedil;ou a pressionar o Minas T&ecirc;nis Clube, time no qual ele jogava, e seus patrocinadores a tomarem uma decis&atilde;o. Souza fez um tweet de desculpas &mdash; s&oacute; que no Twitter tem quase nada de seguidores, ent&atilde;o n&atilde;o funcionou t&atilde;o bem... No <a href="https://www.megacurioso.com.br/produto/119657-como-baixar-videos-do-instagram-em-alta-qualidade.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Instagram</a>, onde a confus&atilde;o teve in&iacute;cio, ele postou um v&iacute;deo que foi meio um pedido de desculpas, meio uma confirma&ccedil;&atilde;o de "&eacute; isso que eu penso e n&atilde;o vou mudar". O resultado foi que o clube decidiu demiti-lo.</p>
<p>A&iacute; &eacute; claro que meio mundo resolveu dar sua opini&atilde;o, e at&eacute; famosos e pol&iacute;ticos &mdash; de esquerda e de direita &mdash; acabaram entrando na onda. Tem gente pedindo boicote contra os patrocinadores (e gente falando que n&atilde;o temos dinheiro nem para comprar carne, quem dir&aacute; carro...) e a coisa toda tomou uma propor&ccedil;&atilde;o muito maior. Sabemos como funciona a internet, n&atilde;o &eacute;?</p>
<p style="text-align: center;"></p>
<blockquote class="instagram-media" data-instgrm-captioned="" data-instgrm-permalink="https://www.instagram.com/p/CVlSUtcghs0/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" data-instgrm-version="14" style="background: #FFF; border: 0; border-radius: 3px; box-shadow: 0 0 1px 0 rgba(0,0,0,0.5),0 1px 10px 0 rgba(0,0,0,0.15); margin: 1px; max-width: 540px; min-width: 326px; padding: 0; width: calc(100% - 2px);">
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<p style="color: #c9c8cd; font-family: Arial,sans-serif; font-size: 14px; line-height: 17px; margin-bottom: 0; margin-top: 8px; overflow: hidden; padding: 8px 0 7px; text-align: center; text-overflow: ellipsis; white-space: nowrap;"><a href="https://www.instagram.com/p/CVlSUtcghs0/?utm_source=ig_embed&amp;utm_campaign=loading" style="color: #c9c8cd; font-family: Arial,sans-serif; font-size: 14px; font-style: normal; font-weight: normal; line-height: 17px; text-decoration: none;" target="_blank">Uma publica&ccedil;&atilde;o compartilhada por andreolifelipe (@andreolifelipe)</a></p>
</div>
</blockquote>
<p></p>
<h2>Mas, afinal, &eacute; crime ter opini&atilde;o?</h2>
<p>Respondendo diretamente &agrave; pergunta do t&iacute;tulo: ter opini&atilde;o n&atilde;o &eacute; crime <em>per se</em>. O problema &eacute; quando essa "opini&atilde;o" &eacute; exposta de forma ofensiva, o que pode ser enquadrado em crimes como racismo, homofobia, intoler&acirc;ncia religiosa, difama&ccedil;&atilde;o e incita&ccedil;&atilde;o ao crime. Em resumo, a liberdade de express&atilde;o &eacute; um direito garantido pela <a href="https://www.megacurioso.com.br/artes-cultura/120010-as-6-constituicoes-mais-antigas-do-mundo.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Constitui&ccedil;&atilde;o</a> (Art. 5), mas h&aacute; limites. Voc&ecirc; pode falar o que quiser, mas tem de arcar com as consequ&ecirc;ncias do que disse. Se voc&ecirc; cometer um crime pelo que disse, essa consequ&ecirc;ncia pode vir na Justi&ccedil;a. No caso do jogador, foi a demiss&atilde;o.</p>
<p>A pol&ecirc;mica come&ccedil;a quando algumas pessoas enxergam <a href="https://www.megacurioso.com.br/crimes/" rel="noopener noreferrer" target="_blank">crimes</a> enquanto outras enxergam uma simples opini&atilde;o. Como o Direito n&atilde;o &eacute; uma ci&ecirc;ncia exata e a pol&ecirc;mica corre solta at&eacute; um crime ser provado ou n&atilde;o, &eacute; dif&iacute;cil chegar a um consenso.&nbsp;</p>
<p>Para quem se diz conservador, como os donos do jornal <em>Gazeta do Povo</em>, que at&eacute; publicou um editorial sobre o assunto, Souza n&atilde;o cometeu homofobia com suas postagens; aqueles que foram contra ele &eacute; que est&atilde;o agredindo o atleta, cometendo um crime contra sua liberdade de express&atilde;o. Ele n&atilde;o teria incitado viol&ecirc;ncia com suas postagens, segundo seus defensores &mdash; e ainda perdeu seu ganha-p&atilde;o.</p>
<p>Por outro lado, cr&iacute;ticos dizem que mostrar a homossexualidade como algo reprov&aacute;vel por si s&oacute; fere direitos fundamentais de v&aacute;rias pessoas. Se esses coment&aacute;rios n&atilde;o s&atilde;o combatidos nas redes sociais, pessoas LGBT podem sofrer viol&ecirc;ncia fora delas. Ao dizer "Vai ver onde vamos parar", Souza deixa impl&iacute;cita sua vontade de que a <a href="https://www.megacurioso.com.br/estilo-de-vida/118134-dia-nacional-do-orgulho-lgbt-curiosidades-sobre-a-data.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">homo/bissexualidade</a> tenha fim ou n&atilde;o tenha espa&ccedil;o na m&iacute;dia &mdash; algo que casais heterossexuais sempre tiveram, inclusive nas HQs.</p>
<p><span class="img-fc" data-fonte="&nbsp;Freepik&nbsp;" data-fonte-url="https://www.freepik.com/free-photo/high-angle-shot-gavel-scale-wooden-surface_13701660.htm"><img src="https://mega.ibxk.com.br/2021/10/29/29001052754002.jpg" alt="Imagem: Freepik" /><span class="desc">(Fonte: Freepik)</span></span></p>
<h2>O que dizem a lei e os especialistas?</h2>
<p>H&aacute; um (quase) consenso nessa hist&oacute;ria: a liberdade de express&atilde;o deve ter limites se for usada para incitar viol&ecirc;ncia, agress&otilde;es ou perda de direitos de uma pessoa ou um grupo.</p>
<p>At&eacute; John Stuart Mill, um dos mais famosos autores liberais, dizia que: "Ningu&eacute;m pretende que as a&ccedil;&otilde;es sejam livres como as opini&otilde;es. Pelo contr&aacute;rio, at&eacute; as opini&otilde;es perdem sua imunidade quando s&atilde;o expressas em circunst&acirc;ncias tais que convertem essa sua express&atilde;o em franca instiga&ccedil;&atilde;o a alguma a&ccedil;&atilde;o perniciosa". Benjamin Constant, outro liberal, escreveu: "A manifesta&ccedil;&atilde;o de uma opini&atilde;o pode, num caso particular, produzir um efeito t&atilde;o infal&iacute;vel que precise ser considerada como uma a&ccedil;&atilde;o. Ent&atilde;o, se essa a&ccedil;&atilde;o for culpada, a palavra deve ser punida".&nbsp;</p>
<p>Na lei brasileira, a liberdade de express&atilde;o &eacute; "limitada" em casos de cal&uacute;nia, inj&uacute;ria, difama&ccedil;&atilde;o, amea&ccedil;a, apologia ao crime, incita&ccedil;&atilde;o ao crime, racismo etc. No caso de homofobia, o crime &eacute; equiparado ao racismo, regido pela <a href="http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Lei n. 7.716/1989</a>, que descreve v&aacute;rias situa&ccedil;&otilde;es que podem ser tipificadas como racismo e suas penas, incluindo "Praticar, induzir ou incitar a discrimina&ccedil;&atilde;o ou preconceito de ra&ccedil;a, cor, etnia, religi&atilde;o ou proced&ecirc;ncia nacional". Essas "limita&ccedil;&otilde;es" na liberdade de express&atilde;o existem para assegurar outros direitos t&atilde;o importantes quanto ela: honra, seguran&ccedil;a, dignidade&hellip; </p>
<p>Juristas como Conrado H&uuml;bner Mendes colocam ainda outra quest&atilde;o na mesa: o alcance que atletas, artistas e pol&iacute;ticos t&ecirc;m. Uma coisa &eacute; a express&atilde;o de pessoas quaisquer, como eu e voc&ecirc;, outra &eacute; uma opini&atilde;o divulgada para milhares de seguidores que podem transformar aquilo em a&ccedil;&atilde;o. Ainda assim, &eacute; dif&iacute;cil desenhar uma linha entre o que &eacute; opini&atilde;o e o que &eacute; crime &mdash; se fosse f&aacute;cil definir crimes, n&atilde;o precisar&iacute;amos de advogados e ju&iacute;zes.</p>
<p>Na d&uacute;vida, a gente pode seguir aquela boa e velha frase: "A sua liberdade termina onde come&ccedil;a a do outro".</p>

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