Ciência
16/11/2017 às 11:36•3 min de leitura
Sempre que uma obra de Leonardo da Vinci vai a leilão, podemos apostar que ela será vendida por muitos – MUITOS — milhões. No entanto, uma pintura arrematada ontem por um comprador anônimo durante um evento organizado pela afamada casa de leilões Christie’s, em Nova York, superou todas as expectativas e obliterou todos os recordes anteriores de valores já pagos por uma obra de arte: a peça foi adquirida por astronômicos US$ 450.312.500 (contando as comissões) ou o equivalente a quase R$ 1,5 bilhão!
Valor recorde (BBC)
A pintura em questão é um quadro (óleo sobre madeira) chamado Salvator Mundi que mostra Cristo como rei e salvador do mundo. A obra, que mede 45,5 x 65,6 centímetros e foi atribuída a da Vinci, teria sido criada no início do século 16 para o monarca francês Luís 17 — e, por sinal, tem uma história bem interessante!
Os especialistas acreditam que o quadro — do qual Leonardo criou alguns esboços — foi pintado entre os anos de 1506 e 1513 para o monarca francês, mas acabou indo parar nas mãos do Rei Carlos I da Inglaterra, que era um ávido colecionador de obras de arte. Só que o governante foi executado em 1649, por ocasião de uma guerra entre os monarquistas e o parlamento inglês e escocês, e a pintura ficou em posse de um cara chamado John Stone.
Salvator Mundi, de Leonardo da Vinci
A pintura permaneceu com Stone até 1660, quando Carlos II (filho de Carlos I) voltou do exílio para reconquistar o trono inglês e ela foi devolvida. Depois disso, o que se sabe é que, aparentemente, a obra foi passando de um monarca a outro e permaneceu no Palácio de Whitehall, em Londres, até meados do século 18 — quando foi leiloada.
A partir daí não existem informações sobre as andanças do quadro, e ele só foi reaparecer no início do século 20 após ser comprada por Sir Charles Robinson como sendo uma obra de Bernardino Luini, um famoso discípulo de da Vinci. Depois, a pintura caiu no esquecimento até 1958, quando foi leiloada pela “merreca” de £ 45 — quantia que, hoje, seria equivalente ao preço de um iPhone novo.
Então, a peça voltou a sumir e só apareceu novamente em 2005, após ser comprada por um consórcio de negociantes de arte dos EUA por menos de US$ 10 mil (cerca de R$ 33 mil). Quando foi adquirida, a obra se encontrava bastante danificada e estava parcialmente coberta por outra pintura.
Mas, depois de ser restaurado e de ter sua autenticidade comprovada como sendo uma obra da Vinci, o quadro foi vendido ao colecionador suíço Yves Bouvier por US$ 80 milhões (R$ 265 milhões) em 2013 — e “revendido” ao bilionário russo Dmitry Rybolovlev por US$ 127,5 milhões (mais de R$ 420 milhões) no mesmo ano.
Atualmente, a pintura é conhecida entre os especialistas como “Santo Graal do Mundo da Arte”, e o leilão, que aconteceu ontem (15 de novembro), tinha como lance inicial US$ 70 milhões (quase R$ 232 milhões). No fim, apesar da enorme expectativa, a briga pelos lances ficou entre dois participantes cujas identidades não foram divulgadas e durou perto de vinte minutos.
O comprador deve ser bem "pobrinho" (BBC)
O martelo foi batido quando um dos compradores deu o lance de US$ 400 milhões (pouco mais de R$ 1,3 bilhão), e o valor total desembolsado pela pessoa ficou em mais de US$ 450 milhões depois da adição das devidas comissões e taxas.
“Mulheres de Argel”, de Picasso (Vistazo/Reuters)
Com esse montante extraordinário, a peça roubou o recorde de obra de arte mais cara já leiloada de “Mulheres de Argel”, de Pablo Picasso, arrematado há dois anos por quase R$ 630 milhões. Ela ainda superou o valor pago durante a maior negociação privada de que se tem notícia — quando o financista Kenneth Griffin desembolsou por volta de R$ 995 milhões pela obra “Interchange”, de Willem de Kooning, e até de outro da Vinci — também leiloado pela Christie’s por R$ 38 milhões em 2001.