Artes/cultura
23/09/2020 às 15:00•3 min de leitura
Vasili Alexandrovich Arkhipov nasceu em 30 de janeiro de 1926 em uma família de camponeses que moravam na cidade de Staraya Kupavna, localizada a cerca de 23 km a leste de Moscou, na Rússia. A sua escolarização na Escola Naval Superior do Pacífico já indicava que ele seguiria a carreira militar, visto que naquela época os pobres não tinham muitas opções para prosperar na vida.
Depois que participou da Guerra Soviética-Japonesa, ele se transferiu para a Escola Naval do Cáspio e conseguiu se formar em meados de 1947. Em 4 de julho de 1961, Arkhipov se tornou vice-comandante do K-19, um dos primeiros submarinos soviéticos equipados com mísseis balísticos nucleares.
Ao lado do capitão Nikolai Zateyev, eles conduziram uma operação na costa sudeste da Groenlândia quando aconteceu um vazamento crítico, que levou à falha no sistema de refrigeração do reator da embarcação. Em poucos minutos, o calor da decomposição dos produtos de fissão produzidos ao longo da operação normal do reator superaqueceu-o.
Com as linhas de comunicação afetadas por causa de uma pane elétrica no controle geral do submarino, eles não conseguiram contatar ninguém em Moscou. Então, o comandante Zateyev ordenou que a equipe de engenheiros encontrasse uma solução, o que significava expô-los a níveis mortais de radiação.
Eles conseguiram evitar que o núcleo do reator derretesse, mas toda a tripulação foi exposta à radiação. Em 3 semanas, oito tripulantes morreram de síndrome aguda da radiação. Depois de 30 dias, Arkhipov viu todos os engenheiros morrerem.
Em maio de 1960, o ex-primeiro-ministro soviético Nikita Krushchev prometeu aos seus aliados comunistas defender Cuba de qualquer tipo de ameaça, usando armas soviéticas. Por volta de julho de 1962, eles chegaram a um acordo para colocar mísseis balísticos e armas nucleares em Cuba para reforçar a capacidade de ataque contra os Estados Unidos, uma vez que o país recentemente colocara mísseis na fronteira com a Turquia. Os cubanos aceitaram o acordo principalmente porque queriam impedir que os norte-americanos tentassem outra invasão à ilha, como a que aconteceu em abril de 1961, na Baía dos Porcos.
A instalação desses mísseis a cerca de 144 km do leste dos Estados Unidos significava que um ataque poderia explodir o país em poucos minutos. No ápice da tensão da Guerra Fria, os EUA foram informados em julho de 1962 que a União Soviética estava enviando mísseis para Cuba. Em 14 de outubro, aviões U.S U-2 do governo norte-americano sobrevoaram a ilha em uma operação secreta e confirmaram a presença de um míssil balístico SS-4 de médio porte sendo montado em um local de lançamento.
A informação foi passada para John F. Kennedy e seus conselheiros em 16 de outubro daquele ano. Apesar de a União Soviética ter posicionado os mísseis sem futuras intenções, o presidente entendeu isso como uma provocação.
Em 22 de outubro, Kennedy entrou em rede nacional para dizer que o governo desconhecia a ação soviética que feria e violava o direito internacional. Seu contra-ataque foi colocar Cuba em uma “quarentena”, estabelecendo um bloqueio ao redor da ilha para impedir que os navios soviéticos a acessassem. O presidente ainda deixou claro que, se os mísseis não fossem removidos, eles atacariam. Moscou tentou resolver as questões diplomáticas, porém ambas as potências já estavam à beira de um Armagedom nuclear.
Enquanto isso, mal eles sabiam que o futuro do mundo estava nas mãos de uma única pessoa.
Em 27 de outubro, aos 34 anos, Arkhipov estava a bordo do submarino B-59, no mar do Caribe, quando a Marinha dos EUA os encontrou e começou a atingi-los com bombas de baixo impacto para forçá-los a emergir.
No entanto, os norte-americanos não imaginavam que a embarcação estava equipada com um torpedo nuclear de mesma potência que a bomba de Hiroshima. Se os soviéticos atacassem e depois fossem bombardeados significaria o rompimento da Guerra Fria e início de uma guerra nuclear que poderia ter dizimado vários países, visto que ambas as potências estavam em posse de dispositivos nucleares de poder catastrófico.
Apesar de se tratar de um procedimento de emergência para que o submarino emergisse, a maioria dos militares a bordo do B-59 entendeu o que parecia: a guerra havia começado, uma vez que estavam sem comunicação há dias com Moscou.
Com a temperatura do submarino alcançando 100 ºC e o sistema de ar-condicionado arruinado, o capitão Vitali Savitsky entrou em pânico. “Talvez a guerra já tenha começado lá em cima. Nós vamos explodi-los agora! Vamos morrer, mas vamos afundar todos eles! Não vamos desonrar nossa marinha”, disse o comandante, aprovando o lançamento do torpedo.
Mas para que isso acontecesse, ele ainda precisava da aprovação dos outros dois capitães. Ivan Maslennikov disse sim, mas Arkhipov disse não.
Arkhipov conseguiu manter a cabeça no lugar e não ceder à pressão dos outros comandantes, que jogaram nele o peso de uma possível desonra e da morte de todos. Depois de muito tempo, ele conseguiu convencer Savitsky de que o ataque era só uma maneira de atraí-los para a superfície. Quando o B-59 emergiu, todos perceberam que de fato uma guerra ainda não havia começado. Eles deram meia-volta e foram embora.
Em 28 de outubro, após uma série de negociações tensas durante 13 dias de crise, os norte-americanos concordaram em retirar seus mísseis da Turquia depois que os soviéticos removessem os seus mísseis de Cuba.
Apesar de ter evitado uma guerra nuclear, Arkhipov foi muito criticado pelos líderes soviéticos. Além disso, ele morreu em 19 de agosto de 1998, aos 72 anos, sem que o mundo soubesse de sua relevância na história moderna, que só foi revelada em 2002 pelo ex-oficial soviético Vadim Orlov.
Enquanto o assassino Alfred Naujocks se tornou “o homem que começou a guerra”, ficou definido por consenso popular de que Vasili Arkhipov foi “o homem que salvou o mundo”.