Artes/cultura
10/02/2021 às 10:00•3 min de leitura
Ao lado de Machado de Assis, o poeta e cronista Carlos Drummond de Andrade é um dos maiores expoentes da literatura brasileira, sendo um dos grandes destaques do movimento do Modernismo no Brasil.
Drummond nasceu em 1902 e deixou um legado único para a escrita com grandes histórias e versos imortalizados. Então, mesmo que você não saiba quem foi o autor, provavelmente conhece versos clássicos de autoria dele, como “E agora, José?”, “Vai, Carlos! Ser gauche na vida” e “No meio do caminho tinha uma pedra”, só para citar alguns exemplos.
Dessa forma, a carreira do escritor, imortalizado em fotos e estátuas, foi bastante longa e produtiva. Além dos lançamentos mais difundidos e reeditados até hoje (utilizados em questões de vestibular ou aulas de Literatura), estão também coletâneas, livros e obras isoladas que não recebem a mesma divulgação, mas têm qualidade semelhante a das demais criações do mineiro.
Conhecer esses trabalhos ajuda não só a revelar faces menos conhecidas do escritor, mas também a reforçar a versatilidade de um gênio.
Essa coletânea, organizada em 1924 e publicada somente em 2009, mostra o poeta ainda em fase de descoberta de estilo — os textos datam de antes do livro Alguma poesia, de 1930, que marcou a sua estreia. Vários materiais reunidos nela não foram sequer publicados em jornais da época.
Guardados por Mário de Andrade e encontrados pelo curador Antonio Carlos Secchin, eles ainda contam com comentários feitos pelo próprio escritor décadas depois, com certo tom crítico em relação aos trabalhos iniciais.
O poeta nunca foi conhecido por ser um amante de esportes, mas ele não deixou de refletir sobre a paixão nacional pelo futebol e a importância das partidas no cotidiano. “Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério”, ele comentou em um dos textos.
Os textos da coletânea são de crônicas publicadas no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil, cobrindo o período de conquistas e derrotas em Copas do Mundo — com o mesmo tom reflexivo adorado pelos amantes da literatura de Drummond.
Nem todas as criações do escritor pararam em livros ou coletâneas. Esse poema foi publicado em 1984 no jornal Cometa Itabirano, comparando a mineração com a situação do Brasil na época, em processo de redemocratização e com uma dívida externa nas alturas. A citação à Vale do Rio Doce não é apenas uma crítica ao conglomerado, pois a multinacional é de Itabira, onde Drummond nasceu.
O poema tido como “profético” viralizou em 2015, após os incidentes nas barragens em Brumadinho e Mariana.
Este é o único livro infantil escrito por Drummond. A obra conta a curiosa história de convivência entre uma pulga e um elefante, movidos por sentimentos bastante humanos. A edição mais famosa da obra é ilustrada por Ziraldo, o que a torna ainda mais valiosa.
Entre todas as crônicas de Drummond, uma delas em especial revela a admiração do autor pelo jornalismo. Ciao foi o seu último trabalho nas páginas do Jornal do Brasil, publicado em 29 de setembro de 1984, 3 anos antes do falecimento do autor.
No texto, que pode ser consultado digitalmente no acervo do Google News, Drummond conta a própria trajetória de cronista na cidade de Belo Horizonte da década de 1920, celebrando o fato de não precisar ser especialista em um assunto ou apurar dados e acontecimentos como os repórteres.
“Claro que ele deve ser um cara confiável, ainda na divagação. Não se compreende, ou não compreendo, cronista faccioso, que sirva a interesse pessoal ou de grupo, porque a crônica é território livre da imaginação, empenhada em circular entre os acontecimentos do dia, sem procurar influir neles. […] Ele sabe que seu prazo de atuação é limitado: minutos no café da manhã ou à espera do coletivo”, ele escreveu.
Drummond faleceu em 1987, mas essa obra póstuma foi lançada somente 9 anos depois. Em Farewell, o escritor faz uma despedida ao seu modo, com uma coletânea de 49 poemas organizados por ele mesmo em uma pasta.
As poesias trazem um ar de nostalgia e retrospectiva, incluindo reflexões a respeito da morte e da velhice. “As plantas sofrem como nós sofremos/Por que não sofreriam/se esta é a chave da unidade do mundo?”, trecho do poema Unidade.