Estilo de vida
13/04/2021 às 11:00•3 min de leitura
Nascido em 1599 em Siena, na Itália, Fabio Chigi se tornaria uma pessoa simbólica dentro na história da humanidade. No dia 7 de abril de 1655, o italiano foi eleito o 237º papa da Igreja Católica e passou a ser conhecido pelo nome de Alexandre VII. Entretanto, sua maior contribuição para o mundo foi marcada no campo da saúde.
Extremamente intelectual, fã de arquitetura e artes, doutor em filosofia, teologia e direito, o pontífice jamais imaginou que precisaria ter que lidar com uma epidemia de peste enquanto estivesse ocupando o cargo. De acordo com historiadores, o papa Alexandre VII foi responsável por decretar meditas sanitárias que contribuíram para diminuir a letalidade da doença e livrar a população de Roma de males maiores.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar de o bacilo causador da peste só ter sido descoberto em 1894 pelo bacteriologista Alexandre Yersin, a doença já matava milhares de pessoas séculos antes dessa data. Pesquisadores da Universidade de Roma La Sapienza estimam que, entre 1656 e 1657, a peste matou 55% da população da Sardenha, metade da população de Nápoles e 60% dos habitantes de Gênova.
Roma, porém, parecia ter um destino diferente. Mesmo com sua população de 120 mil habitantes e sendo considerada um grande centro urbano na época, a cidade teve apenas 9,5 mil mortos nesse mesmo intervalo de tempo — números que giram na casa dos 8%.
Cientistas estimam que a peste dizimou metade da população europeia durante diversas levas, mas não progrediu da forma que se esperava na capital italiana. Quando os primeiros relatos de mortes vindas de Nápoles se espalhavam, Alexandre VII havia acabado de assumir a Igreja e se preparava para enfrentar esse novo desafio.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Se hoje o papado serve mais como uma figura representativa e com poder diminuto sobre uma pequena região encravada em Roma — o Vaticano —, antigamente as proporções eram muito maiores. Na época em que Alexandre VII assumiu o título de papa, o pontífice comandava os chamados Estados Pontifícios, o que englobava Roma e praticamente todo o centro da Itália.
Então, vendo que a população estava morrendo pelas ruas, o líder religioso estipulou um sistema de medidas de vigilância sanitária para controlar a disseminação da doença. Em seu primeiro ato, o papa convocou a Congregação da Saúde, um conselho criado em um surto anterior para ajudar nas tomadas de decisão.
No dia 20 de maio de 1656, o primeiro decreto mais rígido passou a funcionar. Todas as atividades comerciais de Nápoles foram suspensas por tempo indeterminado e os habitantes locais ficaram proibidos de se locomover até Roma. A espécie de "lockdown" tinha como objetivo manter os romanos afastados do foco da peste.
O mesmo acabou acontecendo com a cidade de Civitavecchia quando houve o registro dos primeiros casos da doença. Nos meses seguintes, diversos Estados Papais foram colocados em isolamento e os portões de entrada para Roma quase todos estiveram fechados para forasteiros.
(Fonte: Wikimedia Commons)
A única maneira de entrar em Roma durante a epidemia era com uma justificativa registrada e entregue às autoridades. Mesmo assim, a capital italiana detectou o primeiro caso de peste em seu território quando um soldado napolitano morreu em um hospital local no dia 15 de julho de 1656.
Cinco dias depois, Alexandre VII desenvolveu uma lei que obrigava os habitantes a comunicarem qualquer caso conhecido da doença. Dessa forma, ficava mais fácil fazer o rastreio de casos e evitar com que famílias potencialmente contaminadas entrassem em contato e transmitissem a doença para outros romanos.
A legislação foi endurecendo até chegar a necessidade da criação de um lockdown completo. Reuniões públicas, festividades, encontros diplomáticos e religiosos, todos foram suspensos até que a situação se acalmasse. Em dado momento, ficou decretado a pena de morte para qualquer habitante que descumprisse com as medidas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Apesar do número de casos pipocando por todos os campos da Itália, o papa Alexandre VII não escapou da crítica dos negacionistas. Pelas ruas de Roma, parte da população desdenhava da epidemia e dizia que ela havia sido inventada pelo próprio pontífice para angariar popularidade.
Nos bastidores, o líder da Igreja Católica era aconselhado a evitar o conflito com comerciantes e largar mão de medidas que atrapalhassem o comércio. Mesmo assim, ele decidiu bater o pé e estipulou que as políticas sanitárias eram o melhor caminho para sair da crise do melhor modo possível.
Em agosto de 1657, o surto foi vencido e Roma saiu como uma grande vencedora. Graças ao papa Alexandre VII, muito menos vidas foram perdidas do que o esperado. Como marca da celebração de uma vitória e do renascimento da Igreja Católica, o líder católico decretou a criação de novos monumentos que marcassem aquele período.
Um dos exemplos disso fica pelo conjunto de colunas da Praça de São Pedro, obra do escultor e arquiteto Gian Lorenzo Bernini e que permanecem de pé pela praça do Vaticano até os dias de hoje.