Ciência
04/06/2021 às 11:00•2 min de leitura
Quando a Primeira Guerra Mundial começou na Europa, em 28 de julho de 1914, a maioria dos homens com 17 anos que tivessem autorização dos pais foram lutar na frente de batalha, portanto as fábricas perderam milhares de seus funcionários.
Foi nesse momento que o governo britânico obrigou que as mulheres assumissem os empregos de seus filhos ou maridos nas fábricas para que a produção não despencasse, acabando por afetar o país mais do que a própria guerra. Em meio a todos os setores em que as mulheres foram admitidas, o que mais se destacou foi o de fabricação de munições de trinitrotolueno (TNT).
Essas mulheres ficaram conhecidas como “Garotas Canárias” (Canary Girls), um apelido que surgiu por causa da constante exposição tóxica que elas sofriam com o manuseio sem equipamento adequado dos componentes químicos da TNT, que deixava a pele delas com uma cor amarelo-alaranjada, tal qual a plumagem de um canário.
(Fonte: Long Street Typepad/Reprodução)
Como se a exposição não fosse o suficiente, as mulheres também trabalhavam sob circunstâncias altamente perigosas, fazendo a mistura de explosivos e o enchimento de munições e balas em troca de salários ainda mais baixos do que o dos homens.
Além das mulheres relatarem dores de cabeça, irritações cutâneas e náuseas, elas sofreram com anemia e icterícia, visto que o pó da TNT causa toxicidade hepática. Entre os 400 casos registrados de icterícia tóxica proveniente do manuseio dos agentes químicos, 100 foram fatais.
Em 1916, uma investigação médica realizada pelo governo determinou que os efeitos da TNT poderiam ser divididos em sintomas irritativos, que afetavam principalmente a pele; e sintomas tóxicos, que faziam os cabelos ficarem verdes e caírem completamente, junto com dores no peito, deformações dos seios, enfraquecimento do sistema imunológico, vômitos, enxaquecas e problemas de fertilidade. Na cidade de Banbury, foi até relatado um caso de uma mulher dando à luz um bebê amarelado.
(Fonte: Amusing Planet/Reprodução)
Em um cenário como esse, explosões nas fábricas se tornaram o menor dos medos das mulheres, tanto que apenas uma ocorreu nesse período, em 1918, causando a morte de mais de 130 trabalhadoras na National Shell Filling Factory, sendo considerado o pior desastre da Grã-Bretanha envolvendo explosões de munições.
No final da guerra, cerca de 80% do armamento usado pelo exército britânico era feito pelas "mulheres canárias", sendo que havia quase 3 milhões delas trabalhando em fábricas de munição pelo país, sofrendo com o envenenamento por TNT.
(Fonte: Messy Nessy Chic/Reprodução)
No final da guerra, haviam quase 3 milhões de mulheres trabalhando em fábricas, das quais 1 terço trabalhava na fabricação de munições.