Ciência
04/09/2021 às 10:00•3 min de leitura
Depois que ocorreu a bem-sucedida Operação Overlord, em 6 de junho de 1944, estabelecendo a invasão das tropas Aliadas na Normandia para libertar os territórios ocupados da Europa noroeste pelos alemães nazistas, dois franceses em bicicletas se depararam com algo chocante quando cruzaram o perímetro da 23ª Divisão do Quartel-General das Tropas Especiais do Exército dos Estados Unidos.
Os homens viram quatro soldados americanos ao lado de modelos de tanques Sherman infláveis. A 23ª Divisão não estava em posse de uma artilharia pesada como os nazistas imaginavam, mas sim munidos de um bom placebo.
(Fonte: Air & Space Magazine/Reprodução)
Arthur Shilstone foi um dos 1.100 soldados recrutados que formaram a unidade conhecida como Exército Fantasma. Além de não possuírem armas, eles também não pertenciam às Forças Armadas, pois eram todos artistas e ilustradores.
Cada um deles foi escolhido a dedo das escolas de arte de Nova York e Filadélfia, em janeiro de 1944, para enganarem o inimigo com tanques infláveis feitos à mão, com operadores de equipamentos para emularem sons de tropas se reunindo, e radialistas que forjariam linhas de transmissões de rádio para serem captadas pela inteligência alemã.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a partir do momento em que o exército foi criado, estima-se que ele tenha salvado até 30 mil pessoas nos EUA em mais de 20 operações de guerrilha. Ninguém nunca descobriu a farsa, nem mesmo os próprios soldados reais que arriscavam a vida na frente de batalha, dando mais certo essa camuflagem do que jamais Adolf Hitler conseguiria com sua malfadada Operação Greif.
E como se não bastasse todo o segredo durante o conflito, a tática também ficou oculta por 40 anos.
(Fonte: Business Insider/Reprodução)
Segundo o diretor Rick Beyer, responsável pelo documentário The Ghost Army da PBS, ele ficou surpreso com o ceticismo que encontrou com relação à genuinidade da existência do Exército Fantasma.
“Enquanto eu estava contando a história, havia um cara que não parava de repetir que aquilo era besteira”, revelou o diretor, sobre quando deu uma palestra sobre o assunto na Escola Perkins para Cegos, em Massachusetts.
O idoso tentou convencer Beyer de que aquilo não era real porque ele servira no Terceiro Exército do General Patton, e nunca ficou sabendo sobre nada parecido.
“Mas isso é só um exemplo de quantas histórias surpreendentes ainda existem 70 anos depois, vindas direto da Segunda Guerra Mundial”, complementou Beyer.
(Fonte: Medium/Reprodução)
Para que a 23ª Divisão desse certo como uma grande ilusão, a unidade montou seus tanques infláveis equipados com alto-falantes gigantes com alcance de 24 quilômetros de distância para reforçar a sensação de que um enorme exército estava em formação. Seus aviões de observação eram tão convincentes que até os pilotos tentaram pousar no campo ao lado deles.
Para permanecerem anônimos e despistarem os enxeridos, os homens tinham que fingir pertencer a outras unidades, marcando seus caminhões com giz e costurando crachás falsos para afastar espiões em potencial nas cidades onde passavam o tempo de folga.
O maior feito da Divisão foi atrair os alemães nazistas simulando o barulho de mais de 30 mil homens enquanto o Nono Exército atravessava o Rio Reno para uma emboscada.
(Fonte: Air & Space Magazine/Reprodução)
Com a travessia bem-sucedida do rio, os 1.100 artistas foram homenageados por seu sucesso durante a operação. Eles também foram exaltados pela perspectiva incomum que deram para a guerra ao documentarem tudo o que viram, de Paris a Luxemburgo, desde as belas mulheres até as crianças órfãs em um Natal triste.
“As histórias de guerra tendem a ser sobre os homens na linha de fogo ou a estratégia de planejamento dos generais. O que você nem sempre tem é a sensação de como é a experiência para as pessoas”, revelou Beyer, que acumulou mais de 500 esboços, incluídos em uma exposição de arte na Edward Hopper House, em Nova York.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
A unidade do Esquadrão Fantasma foi desativada em 15 de setembro de 1945, e muitos de seus membros seguiram carreira artística. Eles nunca falaram que um dia tiveram participação na Segunda Guerra Mundial, apenas se conformaram com a convicção de que desempenharam bem o papel de derrotar o inimigo.
Mesmo agora, segundo Beyer, ainda existem histórias como essa escondidas por aí.