Ciência
02/09/2021 às 06:30•3 min de leitura
Depois de 20 anos, o grupo fundamentalista islâmico Talibã conseguiu derrubar o governo do Afeganistão neste ano pela 2ª vez na história ao cercar a capital Cabul em 15 de agosto.
Com essa derrocada governamental do país, ressurgiram os medos que precedem o legado sangrento do grupo, envolvendo repressão massiva, vingança, assassinato deliberado, feminicídio, suspensão dos direitos civis e também a destruição sistemática da cultura.
O Afeganistão é um país marcado por uma grande herança histórica, tendo sido palco para o budismo, que se espalhou pela China a partir de lá; enquanto o zoroastrismo, o cristianismo, o judaísmo e o hinduísmo floresceram antes e depois da chegada do islamismo no século VII d.C.
Uma verdadeira artéria na rota da seda, conectando a Índia ao Irã e à China, o país está repleto de restos de cidades antigas, mosteiros e caravançarais que hospedavam viajantes, incluindo Marco Polo em seu caminho para a corte de Kublai Khan.
Buda Vairocana após a destruição. (Fonte: Pinterest/Reprodução)
“Temos grandes preocupações com a segurança de nossa equipe e coleções”, disse Mohammad Fahim Rahimi, diretor do Museu Nacional do Afeganistão, em entrevista ao National Geographic. Isso porque mais de 80 mil artefatos estão vulneráveis sob o poder de destruição iminente do Talibã, que rejeita imagens de humanos, animais e não gosta do passado pré-islâmico.
Em 26 de fevereiro de 2001, o Afeganistão testemunhou a maior destruição de sua cultura quando o líder do Talibã, Muhammad Omar, emitiu um decreto ordenando a eliminação de todas as estátuas e os santuários não islâmicos do país.
Gautama Buda após a destruição. (Fonte: Ranker/Reprodução)
O primeiro alvo foram os Budas de Bamiyan, duas estátuas monumentais do século VI do Buda Vairocana e Gautama Buda, esculpidas na lateral de um penhasco no vale de Bamyan, no centro do Afeganistão, a uma altitude de 2,5 mil metros.
De acordo com uma datação por carbono dos componentes estruturais das estátuas, os arqueólogos chegaram à conclusão de que o Buda Vairocana de 55 metros de altura foi construído em 618 d.C.,enquanto o Gautama de 38 metros de altura foi feito em 570 d.C.
(Fonte: Min News/Reprodução)
Começando em 2 de março daquele ano, as estátuas foram alvejadas por artilharia antiaérea, explosivos e disparos por vários dias, causando nelas danos graves. Como ato final, em 14 de março, o Talibã lançou um foguete que deixou um buraco imenso onde estava o buda Gautama. Antes que se tornassem apenas pedras, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e alguns países tentaram salvar o monumento se oferecendo até para "comprá-los".
Em 13 de agosto desse ano, 2 dias antes da retomada do Talibã, muitos funcionários do patrimônio cultural em todo o país receberam textos e telefonemas de funcionários do grupo acusando-os de trabalharem em conluio com organizações internacionais.
“Se eles tiverem más intenções, isso ficará óbvio no futuro”, disse Cheryl Benard, que dirige a Aliança para a Restauração do Patrimônio Cultural (ARCH), com sede em Washington. “Eles estão lidando com questões de fronteiras e infraestrutura agora ”, afirmou Benard.
(Fonte: BBC/Reprodução)
No entanto, como os vários historiadores políticos já observaram, é incapaz de determinar quando entrará em vigor os princípios da ideologia maníaca e mortal do grupo.
As autoridades afegãs não especificaram quais são os planos que tinham para a coleção mundialmente famosa do Museu Nacional. Uma fonte do governo antes da queda declarou que eles não sabiam como encontrar um local seguro para as obras. Enquanto isso, eles convivem com a ideia de que a Organização das Nações Unidas (ONU) faça pressão sobre o Talibã para proteger as autoridades do patrimônio cultural e dos artefatos.
Nesse momento, o grupo já está no controle de Mes Aynak, um dos grandes mosteiros budistas antigos da Ásia Central localizado fora de Cabul. O local abrange 10 mil artefatos escavados na própria região, incluindo mais de 2 mil moedas raras.
Esperar é o que resta.