Saúde/bem-estar
25/09/2021 às 08:00•2 min de leitura
A pequena aldeia de Nagyrév, na Hungria, era movida a agricultura, e seus habitantes seguiam tradições rígidas. A vida era difícil para as mulheres, principalmente devido aos abusos praticados pelos maridos. Mas essa situação começou a mudar em 1911, quando Julia Fazekas chegou à vila.
Nagyrév raramente tinha médico fixo, então os cuidados ficavam por conta de algumas “mulheres sábias” que tinha conhecimentos medicinais e ofereciam serviços de cura e remédios aos moradores. Nesse cenário, Fazekas não demorou muito para se tornar uma das mais respeitadas sábias curandeiras e parteiras. Curiosamente, estava sozinha, já que o marido havia desaparecido de forma misteriosa há alguns anos.
Julia Fazekas. (Fonte: Murderpedia/Pexels/Reprodução)
Com o início da Primeira Guerra Mundial, as coisas em Nagyrév mudaram de forma drástica. Os homens foram servir ao exército, e as mulheres ficaram responsáveis por todas as tarefas. Além disso, devido à localização remota da pequena aldeia, logo ela se tornou um local para campos de prisioneiros de guerra. Consequentemente, relacionamentos entre as mulheres locais e os prisioneiros se tornaram inevitáveis, assim como as gravidezes indesejadas.
Novamente, Fazekas entrou em cena. Mesmo o aborto sendo ilegal na Hungria, ela resolveu ajudar as mulheres que queriam realizar o procedimento. Aliás, chegou a ser presa pelo menos dez vezes devido à prática. Mas, por falta de médicos na aldeia ou de dinheiro na aldeia, foi absolvida.
Por volta de 1918, os homens que foram para a guerra começaram a retornar ao lar. Com eles, o rigor do antigo modo de vida voltou a ser algo comum. Porém, aquilo já não combinava mais com as mulheres que adquiriram independência, muito menos com o que pensava Fazekas.
Algumas das cerca de 40 mulheres acusadas de envenenar a família. (Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Em uma noite, uma mulher espancada buscou a médica. Enquanto lidava com os ferimentos da moça, Fazekas disse haver uma forma de acabar com aquilo. A solução era arsênico, substância que ela extraía habilmente de um papel impregnado do veneno comum na época. Com isso, logo outras mulheres começaram a pedir ajuda para acabar com os abusos do marido.
Fazekas passou a chamar de Criadoras de Anjos o grupo próximo de mulheres que envenenavam homens abusivos. E havia algumas regras que deveriam ser cumpridas, como matar apenas aqueles que maltratavam as mulheres. Mas era uma questão de tempo até que alguém se desviasse.
As Criadoras de Anjos começaram a matar pais, parentes com propriedades e irmãos com quem não se davam bem. Até crianças que não podiam ser sustentadas foram mortas.
Alguns relatos conflitantes surgiram como razão para que as Criadoras de Anjos fossem identificadas. Segundo Béla Bodó, historiadora húngaro-americana, tudo se tornou público com uma carta anônima endereçada ao editor de um jornal local acusando mulheres de envenenarem homens. No fim, 34 Criadoras de Anjos foram indiciadas, incluindo Fazekas. Duas até foram executadas.
Criadoras de Anjo caminhando para a prisão de Szolnok.
Durante os 16 anos em que viveu em Nagyrév, estima-se que Fazekas tenha tido participação em cerca de 50 mortes. Há relatos indicando que ela e suas cúmplices executaram cerca de 300 pessoas. Mas ela nunca foi julgada, já que se matou quando descobriu que seria presa.