Artes/cultura
06/10/2021 às 04:00•2 min de leitura
Só em 2019, a indústria norte-americana importou cerca de 3,86 milhões de toneladas de açúcar, em sua maioria do México, para poder dar conta da demanda, tornando a maior importação desde 1981. Isso porque as condições climáticas resultaram na queda de 10% das colheitas com a destruição das safras por neve e fenômenos da natureza, além de que também serviu para contabilizar o quanto a sociedade norte-americana consome de açúcar.
Desde que começou a ser produzido, em 1501, o açúcar passou a desempenhar um papel primordial na vida do ser humano, com os países modernos importando-o em quantidades recordes ao longo dos séculos.
Na Índia antiga, na Grécia e em Roma, o açúcar foi tratado como remédio para várias doenças, porém nenhum deles sabiam as verdadeiras consequências de uma dieta rica em açúcar. Demorou até 1942 para que os efeitos prejudiciais do produto fossem discutidos de maneira séria. Estudos realizados em 1966 sobre a relação do açúcar com a diabetes também impactaram a indústria dos adoçantes alternativos.
Antes que a humanidade soubesse dos perigos que o açúcar poderia causar ao organismo, o produto se tornou sinônimo de riqueza.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Mesmo quando o cultivo da cana-de-açúcar e o uso culinário do produto se espalharam da Índia para a China, Oriente Médio e Europa, ele ainda permaneceu um aditivo caro, de uso raro e indicativo de requinte e poder.
A descoberta europeia das Américas, no entanto, veio para mudar essa realidade, visto que o ambiente caribenho era perfeito para o cultivo de enormes plantações de cana-de-açúcar, que também, diretamente, foram a força motriz para a escravidão no mundo inteiro — principalmente no Brasil.
(Fonte: Briefings for Britain/Reprodução)
Com o aumento da produção de açúcar, também veio a alta demanda dos ricos pelo produto na Europa. Então, consequentemente, a capacidade de comprar açúcar não só se tornou um símbolo de status, como o quanto se podia comprar. A consequência disso foi o verdadeiro regresso nos hábitos de higiene bucais que, por incrível que pareça, foi prezado antes da era moderna, ainda que de maneira intuitiva.
Antes da introdução do açúcar no cotidiano, os povos das Ilhas Britânicas tinham métodos de higiene oral rigorosos, como mastigar sementes, usar uma pasta de dente orgânica e realizar bochechos com água para lavar os dentes.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Quando o açúcar entrou na vida dos ricos, eles foram os primeiros a jogarem o progresso pela janela. A obsessão da Rainha Elizabeth I pelo produto fez com que seus dentes escurecessem de tanta cárie, e isso foi enaltecido por todos e tido como meta para a vida.
Com o capitalismo rapidamente aflorado, a sociedade elitizada se encarregou de fazer de tudo para induzir uma aparência semelhante para transmitir a mesma ideia de riqueza. Foi criado, por exemplo, um creme dental à base de puro açúcar, que degradava os dentes das pessoas em pouco tempo.
(Fonte: South China Morning Post/Reprodução)
A Casa de Tudor, extinta em 1603 após mais de 200 anos de reinado, foi a principal responsável por promover esse tipo de decomposição oral, que seria a desgraça na vida dos dentistas se ainda existisse.
Ao longo de muitos anos, o sorriso de dentes apodrecidos se tornaram tão significativos que perdiam em comparação a joias ou roupas caras. Esse movimento considerado “moderno” foi apenas mais uma vírgula no passado doentio dos séculos anteriores, sentando-se ao lado de bizarrices como a maquiagem à base de chumbo e roupas altamente inflamáveis — essas que ficaram por mais tempo do que deveriam.