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15/10/2021 às 13:00•3 min de leitura
Nem É o Tchan promoveu uma mistura tão boa entre Brasil e Egito Japão: cultivar mandioca na Terra do Sol Nascente para fazer uma legítima farofa, do outro lado do mundo. Mas, além de o fato ser curioso por si só, a história que motivou a farofa japonesa é muito interessante — e envolve um romance. Dê o play em Ariga Tchan e venha conhecer esse caso.
Tudo começou quando a física brasileira Gabriela Bailas — a Bibi — foi fazer um pós-doutorado no KEK, o maior laboratório de física de partículas do Japão. Ela é pesquisadora na área e atua no Japão há 3 anos, além de ter um canal sobre física com 220 mil inscritos no YouTube.
Por meio de um amigo em comum do laboratório, ela conheceu Hiro Takagi, um japonês de 27 anos que trabalha com consultoria científica para agricultores. O romance teve início em janeiro de 2020, e logo em um dos primeiros encontros ela resolveu fazer strogonoff para o amado — o prato que surgiu na aristocracia russa, mas se tornou brasileiríssimo.
A gente geralmente combina strogonoff com arroz e batata palha, mas Bibi aproveitou o clima brasileiro do jantar e apresentou a farofa para Hiro. Farofa da Yoki — nome que até hoje é associado ao assassinato do então CEO, em 2012. A brasileira achou de bom tom contar os detalhes do crime para o namorado no segundo ou terceiro encontro.
Mesmo assustado com o papo estranho, o que marcou esse jantar para o japonês foi mesmo o sabor da farofa. Hiro se apaixonou pelo alimento e começou a comê-lo com tudo. Chegou ao ponto de levar seu potinho de farofa na mochila para colocar nos pratos dos restaurantes, já que no Japão isso não existe em lugar algum.
O romance continuou, e Bibi foi conhecer a família de Hiro, que vive em Omitama, uma cidade de 50 mil habitantes. Lá, os avós da família Takagi mantêm uma fazenda orgânica há 60 anos, onde cultivam repolho, alface, batata, amendoim, tomates e outras plantas. Aí veio a ideia de plantar mandioca.
Hiro descobriu que sua amada farofa vinha dessa planta. Também descobriu que é proibido importar mandioca fresca para o Japão, já que ela contém veneno. De vez em quando, eles encontravam alguma mandioca congelada em mercados de produtos brasileiros — mas que era produzida na Tailândia.
Por mais que o coração estivesse satisfeito com o romance, o estômago de Hiro Takagi pedia algo: farofa de mandioca caseira. Então, o casal pesquisou, descobriu que existiam algumas poucas plantações em ilhas como Okinawa (bem no sul do Japão) e percebeu que era possível, sim, fazer farofa na terra do Sol nascente. Ele conseguiu importar os talos que serviram como mudas e começou a plantação na fazenda dos avós.
(Fonte: Projeto Omitama/Reprodução)
Como Bibi já tinha uma audiência grande na internet (e esperamos que ela republique esta matéria), surgiu a ideia de documentar o processo nas redes sociais.
Hiro é bem tímido e começou a aprender português por causa da esposa, mas atualiza sempre a página do Projeto Omitama no Instagram, com detalhes da produção. Além disso, ele divide suas experiências com outras coisas brasileiras, como açaí e a música "Dig Dig Joy", de Sandy & Júnior, que ele ama. A malemolência do casal na coreografia impressiona.
Talvez você tenha chegado ao fim deste texto só querendo saber se a farofa japonesa deu certo... e não é que deu? Os avós (incluindo uma senhorinha de 88 anos muito fofa) e o irmão de Hiro estão cuidando da plantação, que "pegou" bem no solo japonês. Há algumas semanas eles colheram as primeiras raízes e provaram petiscos como mandioca frita.
A farinha de mandioca mesmo só saiu nesta semana. Ainda aguardamos novidades sobre a farofa de verdade. Hiro está experimentando algumas receitas com ingredientes japoneses, como wasabi, para criar sua farofa original.
Só há uma coisa estranha nessa história: lembra que eu disse que o Hiro começou a levar um potinho de farofa na mochila para comer com tudo? Em uma das entrevistas do casal, ele disse que ama farofa com curry japonês, com nabemono (uma espécie de sopa com vegetais e carne), com gyudon (uma tigela de arroz com carne) e com oniguiri.
Algumas dessas misturas até devem ficar boas, mas parecem meio estranhas, né? Bom... Essa é a justa vingança dos japoneses pelo fato de os brasileiros colocarem cream cheese no sushi.