Em poema, Michelangelo reclama sobre trabalho na Capela Sistina

24/10/2021 às 13:002 min de leitura

Tido como um dos artistas mais célebres da cultura ocidental, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1475-1564) está intimamente ligado à construção da história da arte, graças a uma série de obras simbólicas influenciadas pela Antiguidade clássica, Renascimento, Humanismo e Neoplatonismo. Responsável por atuar, em grande parte, no Vaticano, sua fama universal o nomeou como “O Divino”, título especialmente herdado após a conclusão da Capela Sistina, considerada seu magnum opus.

O projeto da Sistina, encomendado pelo Papa Júlio II em 1503, demorou cerca de quatro anos para ser concluído por Michelangelo e hoje o local é um cartão postal europeu, com cerca de cinco milhões de visitantes por ano e 30 mil diários em época de alta temporada. Porém, o que é um verdadeiro deleite para o público, foi um verdadeiro pavor físico para o artista, segundo documento enviado em 1509 para o amigo Giovanni da Pistoia.

De acordo com o artista italiano, trabalhar 20 metros no ar em andaimes personalizados e em um projeto tecnicamente exigente lhe deixou extremamente angustiado, além de tê-lo levado ao auge do desgaste físico, já que seu pescoço tinha que estar constantemente ajustado em direção ao teto. Sua fadiga, então, tornou-se principal objeto de um lamurioso poema, Meu Pobre Traseiro, que serviu como alívio emocional para o pintor, visto os anos que ele ainda teria pela frente para concluir sua obra na Capela.

(Fonte: Wikipedia / Reprodução)(Fonte: Wikipedia/Reprodução)

Confira abaixo o soneto na íntegra (traduzido do inglês) e descubra que mesmo os maiores artistas do planeta têm direito a ser levemente dramáticos.

Meu Pobre Traseiro

“Já ganhei bócio com essa tortura,

encurvado aqui como um gato na Lombardia

(ou em qualquer outro lugar onde a água estagnada seja venenosa).

Meu estômago está esmagado sob meu queixo, minha barba está

apontando para o céu, meu cérebro está esmagado em um caixão,

meu peito torce como o de uma harpia. Meu pincel,

acima de mim o tempo todo, goteja tinta,

então meu rosto faz um bom piso para excrementos!

Minhas ancas estão esmagando minhas entranhas,

meu pobre traseiro se esforça para funcionar como um contrapeso,

cada gesto que faço é cego e sem objetivo.

Minha pele está solta abaixo de mim, minha espinha está

toda amarrada de dobrar sobre si mesma.

Estou tenso como um arco sírio.

Como estou preso assim, meus pensamentos

são uma tripa maluca e pérfida:

qualquer um atira mal por uma zarabatana torta.

Minha pintura está morta.

Defenda para mim, Giovanni, proteja minha honra.

Não estou no lugar certo — não sou pintor.”

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