Por que monumentos tendem a valorizar homens brancos e violentos?

02/11/2021 às 10:003 min de leitura

Desde a origem do movimento Black Lives Matter, nos Estados Unidos, o ativismo global tem voltado seus olhos para uma causa importante: por que existem tantas homenagens a figuras notoriamente racistas e escravistas nas praças públicas? Em termos mundiais, existe uma tendência em valorizar homens brancos e violentos.

Em São Paulo, por exemplo, menos de 3% dos mais de 360 monumentos da capital paulista — que homenageiam personalidades e fatos históricos — representam pessoas negras ou indígenas. Então, vamos nos aprofundar nesse problema e entender como ele se difundiu no Brasil e no mundo.

Maioria branca

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

O levantamento feito pelo Instituto Pólis avaliou 367 monumentos oficiais de São Paulo, visando identificar como parcela da sociedade é representada na história visual da cidade. Dessas 367 obras, 200 retratavam figuras humanas, mas somente cinco eram de pessoas negras — quatro homens e uma mulher.

Ao todo, outras quatro estátuas apresentavam temática indígena, todas com figuras masculinas. Enquanto isso, homens brancos foram homenageados em 137 obras. Se não bastasse, a escultura da Mãe Preta — a única de uma mulher negra na capital —retrata uma ama de leite com as formas distorcidas e a cabeça menor que o corpo.

Segundo os pesquisadores, esse tipo de representação pode ser interpretado como um reforço da ideia de controle e subalternidade das mulheres negras. Enquanto isso, a escultura do bandeirante Borba Gato tem cerca de 13 metros de altura e exibe a imponência do homem branco.

Falta de representatividade

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Assim como ocorre no Brasil, os Estados Unidos sofrem um problema de falta de representatividade histórica. Uma longa auditoria feita pelo Monument Lab, um estúdio artístico sem fins lucrativos, analisou os dados sobre 48 mil monumentos convencionais espalhados por todos os estados e cidades norte-americanas.

Dessa lista, 80% das homenagens foram feitas a pessoas descritas como homens brancos nos dias atuais; e 76% deles eram donos de terras. Apenas 10% dessas obras eram de pessoas negras ou indígenas e não há nenhum registro de homenagens a norte-americanos com origem latina, asiática ou autoidentificada como LGBTQIA+.

A auditoria encontrou cerca de 22 estátuas de sereias e somente duas de congressistas norte-americanas, abrindo brecha para questionamentos importantes a respeito de como a sociedade enxerga as mulheres. Assim como acontece em outras partes do mundo, guerra e conquistas territoriais foram os temas mais celebrados.

Por exemplo, pelo menos 100 monumentos vangloriavam massacres — seja a morte de colonos por tribos indígenas ou vice-versa. Entre as figuras mais homenageadas estiveram: presidentes, generais do exército e almirantes navais, com algumas dessas figuras tendo lutado pelos Confederados durante a Guerra Civil.

Mudança de cenário

(Fonte: Keir Gravil/Reuters)(Fonte: Keir Gravil/Reuters)

Desde os assassinatos de George Floyd e de Breonna Taylor em 2020, diversos movimentos começaram a "pipocar" pelo mundo para exigir a mudança no nome de algumas ruas ou até mesmo forçar a derrubada de monumentos.

Em países como o Reino Unido e os Estados Unidos, por exemplo, estátuas de Robert E. Lee, Cristóvão Colombo, Edward Colston e Pedro de Valdivia foram completamente depredadas por conta de seus passados opressores. Na Inglaterra, o governo chegou a anunciar que dará fim a todo tipo de monumento que homenageava escravocratas.

O debate também alcançou espaços como o Rio Grande do Sul através do movimento chamado "Porto Alegre Contra o Racismo na Rua". Em 2020, um abaixo-assinado por 1.080 pessoas de 33 entidades diferentes pediu a troca do nome da Rua Barão de Cotegipe, batizada assim em 1916 e homenageava um importante político que defendia a escravidão.

Desafio para o futuro

(Fonte: TV Globo/Reprodução)(Fonte: TV Globo/Reprodução)

Em geral, monumentos são um retrato sobre o nosso passado e sobretudo daqueles que foram "vitoriosos" de certa forma em algum período histórico. Como os escravistas foram as figuras que detiveram o poder por muito tempo, isso explica o fato de termos tantos monumentos erguidos homenageando esse tipo de gente.

O problema, entretanto, é que a história progride e nem tudo que era considerado correto no passado continua tendo o mesmo significado ou pertencimento atualmente. Sendo assim, imagens de homens brancos que tiveram como grande glória ser donos de terra, matar outras pessoas e inferiorizar outras classes já não inspira ninguém — ou pelo menos não deveria.

Por esses motivos, existe uma crescente demanda entre a comunidade artística em expor e representar essas culturas e pessoas que foram subjugadas por tanto tempo. É possível que o visual das nossas cidades mude consideravelmente em breve, para algo que se aproxime mais da nossa realidade atual e dê voz para mais pessoas.

Entretanto, para isso acontecer, ainda existe uma longa trajetória de luta pela frente e a esperança de que as autoridades públicas contribuirão para que as mudanças ocorram. 

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