Estilo de vida
19/11/2021 às 12:00•3 min de leitura
Membro de uma equipe de mergulho de saturação que consertava oleodutos em um poço de petróleo no campo de exploração Huntington, na costa leste da Escócia, o mergulhador Chris Lemons se preparava para mais um dia de trabalho em 2012. O que ele não sabia, entretanto, é que teria que lutar pela sua vida por 30 minutos.
Enquanto Lemons estava submerso, um alto barulho assustador veio de longe: o cabo que lhe conectava ao navio na superfície se rompeu por completo. Esse objeto funcionava como um “cordão umbilical”, levava energia, comunicação, calor e ar até sua roupa de mergulho a 100 metros de profundidade no mar. A partir desse momento, tudo se transformou em caos.
(Fonte: Dogwoof/Reprodução)
Embora os colegas de trabalho tenham relatado o estrondo apavorante causado pelo rompimento do cabo, Chris Lemons não ouviu absolutamente nada. Naquele momento, ele ainda estava junto à estrutura de metal em que estava trabalhando e logo em seguida caiu de costas em direção ao fundo do mar.
Por conta disso, ele já não tinha mais esperanças de retornar ao barco. Porém, o maior problema era outro: seu ar estava acabando. Como a conexão vital com a superfície não existia mais, só restava para o mergulhador um suprimento emergencial de oxigênio que duraria para mais seis ou sete minutos.
Nos próximos 30 minutos, Lemons permaneceria no fundo do Mar do Norte completamente sem ar, vivenciando uma experiência que poucos viveriam para falar a respeito. “Eu sabia que tinha uma quantidade bem pequena de ar nas minhas costas, e as minhas chances de sair de lá eram quase inexistentes. Uma espécie de resignação tomou conta de mim. Eu me lembro de ter sido tomado por uma tristeza, de certa forma”, contou em entrevista à BBC.
(Fonte: Dogwoof/Reprodução)
Para trabalhar como soldador subaquático, os mergulhadores precisam passar um período de um mês fora de casa vivendo em um ambiente adaptado dentro do navio, separados do restante da tripulação por uma parede de metal e vidro. Essa parte da embarcação é construída com câmaras para eles poderem se familiarizar com a pressão que enfrentarão embaixo d'água.
Antes de poderem deixar essa câmara hiperbárica, são necessários seis dias de descompressão. Por isso, dependem exclusivamente uns dos outros. A profissão é perigosa por inúmeros motivos, mas Lemons se sentia preparado para a missão apesar de ser o mais inexperiente dos três mergulhadores — Dave Youasa e Duncan Allcock eram os outros.
Ele já tinha experiência de oito anos de mergulho nas costas e mais um ano e meio como mergulhador de saturação. Entretanto, ele nunca havia enfrentado um mar tão agitado quanto no dia 18 de setembro de 2012, o que acabou provocando o rompimento do cabo.
(Fonte: Dogwoof/Reprodução)
Naquele dia, Lemons e Youasa eram os mergulhadores em atividade. Quando notaram que havia algo de errado com o navio, os dois tentaram escalar os cabos de respiração para voltar à superfície. Nesse momento, eles perceberam que algo estava errado: a embarcação estava se movendo e Youasa estava sendo puxado para longe. Enquanto isso, Lemons tinha ficado para trás sem ter como subir e sem ar para respirar.
De maneira milagrosa, ele conseguiu ficar de pé no fundo do mar e foi andando até a base da e estrutura de metal do poço de petróleo. Ele tinha como objetivo escalá-la e tocar o sino em pedido de ajuda — tentativa essa que não resultou em nada. Foi então que Lemons decidiu conservar um pouco do oxigênio e se deitar no fundo do oceano em posição fetal.
Ele já não tinha esperanças de ser resgatado, mas dessa forma pelo menos ele poderia aumentar suas chances.
(Fonte: Dogwoof/Reprodução)
Um submarino controlado foi enviado pelo Bibby Topaz, barco onde estavam trabalhando, na esperança de encontrar Lemons. A embarcação só conseguiu reiniciar o seu sistema 30 minutos depois do acidente e finalmente enviar uma ajuda humana para tentar recuperar o corpo do mergulhador.
Quando Youasa retornou ao local, Lemons não se mexia. Então, ele entregou o corpo do colega para Allcock e juntos removeram seu capacete. Com a cara completamente azul e sem respirar, ele recebeu duas respirações de ressuscitação. De maneira completamente surpreendente, ele recobrou a consciência.
O mais incrível dessa situação é que Lemons sobreviveu a essa experiência sem qualquer tipo de sequela, identificando somente alguns machucados na perna após o trauma. O acontecimento acabou virando tema do documentário Last Breath (2018), dos diretores Richard da Costa e Alex Parkinson.
Após esse acidente, a comunidade de mergulhadores decidiu mudar as normas por completo. Agora, os tanques de emergência precisam ter um mínimo de 40 minutos de suprimento de oxigênio em vez dos cinco utilizados originalmente.