Ciência
25/11/2021 às 06:30•3 min de leitura
Astor Pantaleón Piazzolla nasceu em 11 de março de 1921 na cidade de Mar del Plata, região litorânea da Argentina. Uma deformidade congênita no pé exigiu uma série de cirurgias, o que deixou sua perna direita problemática para sempre. Uma ironia do destino, já que como músico Piazzolla quebrou paradigmas e estabeleceu novos estilos de dança.
Em 1925, mudou-se com a família para Nova York (EUA). Desde pequeno, Piazzolla demonstrava afinidade e um intenso interesse pela música. Quando tinha 8 anos, seu pai lhe deu um bandoneón (instrumento musical semelhante à sanfona); aos 9, ele já estudava música clássica com um renomado pianista húngaro.
Viúva e neto de Piazzolla. (Fonte: Enrique Garcia Medina/El País/Reprodução)
Com apenas 11 anos, Piazzolla já atraía a atenção de muita gente com suas habilidades musicais. Na época, participou de um show em Manhattan voltado para a música argentina, sendo anunciado como a “maravilha infantil do bandoneón”.
Talento e popularidade fizeram que Carlos Gardel (1890-1935), a megaestrela do tango, que estava em Nova York gravando um filme, convidasse o pequeno Piazzolla para participar como figurante da produção El Dia Que Me Quieras. E ele aceitou.
Gardel com Piazzolla:
Tempos mais tarde, em 1935, Gardel fez outro convite; dessa vez, para que o jovem o acompanhasse em uma turnê. Mas a família não permitiu a viagem, já que Piazzolla ainda era menor de idade. Porém, sua vida pode ter sido salva devido a esse impedimento. Naquele ano, Gardel e vários membros de sua banda morreram em um acidente de avião na Colômbia, nas proximidades de Medellín, cidade que estava no roteiro da turnê.
Com cerca de 34 anos, Piazzolla voltou para a Argentina. Mesmo tendo certa fama como músico, ainda mantinha em seu interior o desejo de ter a própria orquestra de tango.
(Fonte: STF/AFP/Getty Images/Reprodução)
Assim, ele decidiu formar um octeto em seu país natal. Adicionou uma guitarra dando claros sinais de que estava deixando de lado os ritmos tradicionais. Sua música, que misturava tango com riffs irregulares e improvisados, composições clássicas e sons do jazz, era algo além do tango. Como era de se esperar, a Argentina não gostou nada. Piazzolla, que desde cedo era um prodígio na música com sólidas raízes nas tradições musicais de seu país, passou a ser chamado de "assassino do tango".
Seu temperamento forte e com pouca disposição para discussões, aliado à aversão e ao desprezo com que passou a ser tratado por muitos, rendeu brigas com gerentes de estações de rádio, taxistas e até motoristas de ônibus. Cansado de tudo, voltou para Nova York. Como ele mesmo disse depois: "Fiquei bastante desanimado. E, quando fico desanimado, vou embora".
Nos anos 1960, a família voltou para Buenos Aires. Na época, Piazzolla criou um quinteto que acabou se tornando seu grupo de maior sucesso: lotava boates com facilidade e sua música cativava as pessoas. Com a fama internacional a pleno vapor, Piazzolla decidiu se mudar para a Itália no início dos anos 1970. Por lá, gravou um álbum com o saxofonista de jazz dos EUA Gerry Mulligan (1927-1996).
O início de tudo. (Fonte: Saskatoon Symphony/Reprodução)
Piazzolla retornou várias vezes para a Argentina, incluindo durante a brutal e sangrenta ditadura militar que assolou o país entre 1976 e 1983. Na época, sua filha, uma ativista social, chegou a ser exilada no México. O músico não gostava de se misturar com política, tanto que chegou a se desculpar publicamente por um almoço em que ele e outros artistas estiveram com Jorge Rafael Videla (1925-2013), o ditador do país.
Em 1983, uma apresentação no Teatro Colón, com a Orquestra Filarmônica de Buenos Aires, deixou claro que o país já tinha se rendido a ele. Mas não se sabe ao certo se ele se importava com isso, visto que até o fim da vida não se considerava nos padrões exigidos pelo público para o tango e para a música argentina.
Astor Piazzolla morreu em 1992, aos 71 anos. Em 2021, a Argentina celebrou intensamente a vida e a obra do músico nas comemorações de seu centenário.