Ciência
09/12/2021 às 02:00•3 min de leitura
A extração predatória e o contrabando fizeram algumas espécies de plantas brasileiras quase entrarem em extinção. Entretanto, quem olha páginas de colecionadores de plantas ornamentais no Instagram pode ter uma visão diferente disso: elas são vendidas aos montes em posts online por valores que podem chegar a R$ 150 mil.
Conforme citado em uma reportagem da BBC, um exemplo disso é a Philodendron spiritus sancti, uma trepadeira nativa da região serrana do Espírito Santo. Se nos anos 2000 pesquisadores não encontraram nada sobre ela em seu hábitat natural, quando a espécie é pesquisada nas redes sociais, surgem mais de 4 mil anúncios. Entenda essa situação a seguir.
Philodendron spiritus sancti. (Fonte: @la_condesa_flora_collective)
Segundo o Centro Nacional de Conservação da Flora, principal instituição brasileira para monitorar as espécies de plantas ameaçadas, a Philodendron spiritus sancti está na lista vermelha de espécies entrando em extinção, que se aplica para as espécies que estão sob "risco muito elevado de extinção na natureza".
Portanto, é de se causar certo espanto quando nos deparamos com milhares delas sendo vendidas pela internet. A trepadeira capixaba é vista como uma das espécies mais visadas por contrabandistas, a Polícia Federal já até prendeu um homem que tentava embarcar no aeroporto de Rio Branco com 28 mudas da planta em abril deste ano.
A situação disponibilizada nas plataformas digitais é ainda mais grave, pois o comércio ou a coleta de plantas que estão presentes na lista de extinção é estritamente proibido no Brasil. Mesmo assim, os anúncios continuam aparecendo aos montes e não existe tanta regulação ativa para coibir esse contrabando.
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Um dos donos de um exemplar da Philodendron spiritus sancti é o colecionador Samuel Gonçalves, responsável pelo canal no YouTube "Um botânico no apartamento". Com mais de 491 mil inscritos, ele exibe as plantas de sua coleção e dá algumas dicas para o cultivo.
Doutor em Botânica e professor de Biologia no Ensino Médio em Belo Horizonte, Gonçalves afirma ter recebido a planta de presente de um amigo colecionador. Porém, a exibição da espécie rara na internet provoca opiniões divergentes no meio botânico. Enquanto o influenciador digital acredita que exibir uma coleção dessas espécies em extinção fornece um conhecimento único para os visualizadores de suas redes sociais, nem todas as pessoas têm a mesma visão.
Para Leyde Nayane, bióloga pela Universidade Estadual do Piauí e doutora em Botânica pela Universidade de São Paulo (USP), esse método de exposição digital pode influenciar a comercialização da planta e fazer que ela suma da natureza mais depressa. "Quando alguém coloca um conteúdo sobre uma planta rara, inevitavelmente atrai pessoas interessadas em comprar e vender essa planta, assim cria condições para que elas se conectem", ela disse à BBC.
(Fonte: Shutterstock)
Se, no Brasil, a comercialização de plantas brasileiras em extinção contrabandeadas ainda pode sofrer represálias das autoridades nacionais, o problema fica ainda maior quando essas espécimes chegam ao exterior. Em outros países, algumas espécies nativas brasileiras são vendidas sem que nada possa ser feito.
No Instagram, a Philodendron spiritus sancti é vendida em páginas nos Estados Unidos e na Europa, como também nos países asiáticos Japão e Tailândia. Como a legislação brasileira não se aplica no exterior, essas plantas podem ser vendidas "legalmente" e por valores exorbitantes que ultrapassam a marca dos R$ 39 mil.