Ciência
18/12/2021 às 07:00•3 min de leitura
Na década de 1960, um novo jornal despontava nos Estados Unidos (EUA) como uma alternativa para os consumidores. Ao contrário do material encontrado na TIME ou na Reader's Digest, o Grit tinha um diferencial: oferecer manchetes de paz e positivismo para a sociedade.
Em 1969, sua clientela subiu para um público de 1,5 milhão de assinantes. O objetivo do periódico era não carregar notícias sensacionalistas de guerra, embora muitas tivessem sido publicadas após seu lançamento, em 1880. E, com essa mensagem, a marca foi se expandindo.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Quando o Grit foi criado, na década de 1880, o fato de seguir uma filosofia positivista no jornalismo poderia ser visto como uma "aberração", mas era o que os colaboradores do jornal adotavam em suas publicações. Não havia notícias sobre assassinatos, tragédias ou assaltos, e os colunistas não davam opinião sobre as políticas recorrentes.
Tudo o que sobrava era notícia boa. Um dia, o fundador, Dietrick Lamade, chegou a dizer para sua equipe: "Sempre evite que Grit seja pessimista. Não faça nada que incentive o medo, a preocupação ou a tentação. Sempre que possível, sugira paz e boa vontade aos homens. Dê aos nossos leitores coragem e força para suas tarefas diárias. Coloque pensamentos felizes, alegria e contentamento em seus corações".
O objetivo de Lamade era se distanciar de produtores de conteúdo como Randolph Hearst, que inclusive chegou a ser acusado de angariar apoio para a Guerra Hispano-Americana graças às suas histórias sensacionalistas do conflito em Cuba. Dietrick, filho de imigrantes alemães, não apoiava a maneira como Hearst vendia jornais e queria uma mudança no cenário.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Na época de sua criação, o Grit ainda era um jornal voltado para o público rural e não despertava a mesma atenção que Lamade desejava. Em uma tentativa de expandir a marca para o restante dos Estados Unidos, o empresário alemão teve uma ideia: recrutar crianças para distribuir o material.
Como ele não tinha qualquer contato direto com esses jovens, decidiu colocar um anúncio no periódico na esperança que o público mais jovem se voluntariasse para a missão. Aqueles que se inscreveram recebiam um alfinete no peito e deveriam preencher formulários de vendas semanalmente, enviando o dinheiro coletado para o Grit.
Para cada edição do jornal, que custava 10 centavos, o vendedor teria que mandar 7 centavos de volta para o Grit e poderia ficar com o resto. Em média, uma criança vendia de 5 a 450 cópias por semana. Alguns jovens percorriam um trajeto de 8 km por dia para realizar suas vendas.
(Fonte: Wikimedia Commons)
De 1932 para 1969, a circulação do Grit passou de 400 mil cópias para 1,5 milhão com a ajuda de cerca de um exército de 30 mil crianças à disposição, que passavam de porta em porta tentando arrecadar mais vendas. A estratégia foi tão bem-sucedida que essa se tornou uma das poucas publicações nos EUA a não depender majoritariamente de publicidade para sobreviver.
Além do mais, as publicações haviam atingido um público não explorado: pela estimativa, 65% das cópias do Grit eram vendidas em cidades com população inferior a mil habitantes. Mesmo após a aposentadoria de Lamade, em 1936, e a morte dele aos 78 anos, em 1938, o periódico continuou espalhando positividade pelo país.
Como consequência, o Grit acabou sendo passado para as mãos dos filhos de Dietrick, George e Howard Lamade, e posteriormente para os netos. Porém, o aumento da competitividade por causa de outros meios de comunicação mais modernos, a queda de colaboradores e a diminuição da margem de lucro fizeram o modelo de negócio da empresa mudar.
Em 1981, a família Lamade concluiu a venda do Grit para uma corporativa norte-americana, dando fim a um negócio familiar de 97 anos. Em 2006, o Grit deixou de trabalhar como um jornal para se tornar uma revista bimestral, formato que continua até hoje.