Artes/cultura
30/03/2022 às 06:30•3 min de leitura
Foi em meados de 1971 que o Hospital Changsha, localizado na capital da província de Hunan, sul da China, contratou um grupo de trabalhadores para construir um abrigo antiaéreo na encosta de uma colina nos fundos do edifício, quando, a 30 metros de profundidade, os homens descobriram três tumbas antigas.
Os túmulos foram identificados por especialistas como pertencentes ao período da Dinastia Han ocidental, do século II a.C. Os corpos encontrados pertenciam a três membros da dinastia governantes do feudo “han” de Dai, sendo a tumba mais antiga a de Li Cang, o Marquês de Dai. Dezoito anos mais velha, estava a tumba de Li Xi, irmão ou filho do Marquês, morto aos 30 anos.
O maior túmulo de todos era do ano seguinte ao de Li Xi, e pertencia a Xin Zhui, esposa de Li Cang, mais conhecida como Lady Dai — não confundir com a ex-princesa de Gales Lady Diana. Foi seu corpo que causou um frenesi entre os especialistas.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Estima-se que Lady Dai nasceu em 217 a.C., carregando mais de 2 mil anos entre o tempo em que foi descoberta pelos trabalhadores no século XX e a data de sua morte, em 168 a.C. Em sua tumba foram encontrados mais de mil artefatos preciosos, como maquiagens, produtos de higiene pessoal e figuras de madeira esculpidas que representavam sua equipe de servos. Além disso, uma refeição foi colocada ao lado de seu cadáver para que ela a desfrutasse no Além.
Contudo, o que realmente chocou os pesquisados foi o extraordinário estado de preservação dos restos mortais de Lady Dai, o que poderia a conferir o status de "múmia mais bem preservada do mundo" — se ela tivesse sido considerada uma.
Reconstrução de como Lady Dai era antes da morte. (Fonte: Pinterest/Reprodução)
As fotos e até mesmo o corpo em exposição no Museu de Hunan (Changsha, China) não fazem jus à maneira como foi descoberto, isso porque ficou comprometido assim que o oxigênio no ar o tocou, dando início a um processo imediato de deterioração.
Mas quando foi desenterrada, Lady Dai ainda possuía uma pele alabastrina, lisa, macia, com umidade e elasticidade; características que não combinam com o de um cadáver morto há mais de 2 mil anos, ainda que fosse mumificado — o que não foi seu caso. Seu cabelo ainda estava no lugar, incluindo os pelos de suas narinas, bem como as sobrancelhas e cílios. Tudo o que não é encontrado com tamanha perfeição em um cadáver de milhares de anos.
(Fonte: Reddit/Reprodução)
A autópsia confirmou tudo o que os cientistas imaginavam: o cadáver de Lady Dai estava em condição semelhante ao de uma pessoa falecida recentemente. Todos os seus órgãos estavam intactos, inclusive suas veias, que ainda carregavam sangue do tipo A. Eles detectaram nas veias coágulos que foram responsáveis por indicarem que a causa de sua morte foi por ataque cardíaco.
A nobre chinesa sofria também com cálculos biliares, pressão alta, doença hepática e colesterol alto. Foram encontrados 138 sementes de melão não digeridas em seu estômago e intestinos, sendo que elas geralmente levam apenas uma hora para serem digeridas. Ou seja, isso indica que o melão foi sua última refeição.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Provavelmente, você deve estar se perguntando como Lady Dai foi tão bem preservada, passando pela tecnologia e técnicas mais elevadas feitas pelos egípcios antigos. Acredita-se que muito se deve pela tumba hermética onde a nobre chinesa foi enterrada, que possuía 12 metros de profundidade até o caixão de pinho minúsculo onde ela foi repousada.
Lady Dai também foi envolta em 20 camadas de tecido de seda embebidos em 21 galões de um líquido ácido com um pouco de magnésio. Havia também terra no chão da tumba, muito carvão para absorver a umidade e uma quantidade imensa de argila selando a tampa do caixão para manter o oxigênio longe tanto quanto as bactérias da decomposição. A tumba por si só foi fechada com mais de um metro de barro para que água não a penetrasse.
Foi assim que o cadáver de Lady Dai resistiu a 2 mil anos nos fundos daquela colina, se tornando o corpo mais bem preservado da História.