Artes/cultura
05/08/2022 às 08:58•3 min de leitura
O humorista, jornalista e apresentador Jô Soares faleceu hoje aos 84 anos, depois de ficar uma semana internado com suspeita de pneumonia. O triste fato tem feito com que muita gente relembre da vasta carreira que Jô consolidou em quase sete décadas de atuação nas artes, com passagens no teatro, na televisão, na literatura e no cinema.
Boa parte do público se lembra de Jô por conta de seus dois programas de entrevista. Ele estreou no formato talk show no SBT apresentando o Jô Soares Onze e Meia, que foi ao ar entre 1988 e 1999. Em 2000, foi para a Globo, e ficou à frente do Programa do Jô entre os anos de 2000 e 2016.
Muita gente se recorda das incontáveis entrevistas (foram mais de 20 mil!) inteligentes, tensas ou engraçadas que Jô Soares comandou durante os dois programas. Neste texto, relembramos 7 destes encontros icônicos.
Em 1991, Jô Soares recebeu a então ministra da Fazenda do governo Collor Zélia Cardoso de Mello. Jô a recebeu com pompa, chamando-a de "superministra" e a comparando a personagem Supergirl. Enalteceu-a como a política mais carismática do país, dizendo que ela era capaz de enfrentar todos os percalços do seu caminho.
Curiosamente, meses depois, o Plano Collor seria anunciado, congelando as poupanças de milhões de brasileiros e deixando muitos cidadãos em apuros financeiros. Zélia se tornaria então uma figura odiada em todo o país.
Uma das entrevistas mais icônicas do Programa do Jô ocorreu em 2000, quando Hebe Camargo (que era contratada do SBT, emissora concorrente da Globo) participou do programa junto com suas amigas Nair Bello e Lolita Rodrigues.
Até hoje essa entrevista é lembrada por muitos fãs como a melhor do programa. Juntas, elas riram (e fizeram Jô rir muito) e contaram casos engraçadíssimos, revelando a amizade que tinham. Inclusive, de tempos em tempos trechos desta entrevista viralizam nas redes sociais.
Em 1997, o ator mexicano Carlos Villagrán (o intérprete do personagem Quico, do seriado Chaves) estava no Brasil fazendo turnês com seu circo. Jô Soares o recebeu no programa Jô Soares Onze e Meia, do SBT.
A entrevista foi marcante para os fãs de Chaves porque lá ocorreu o primeiro encontro entre Villagrán com Nelson Machado, seu dublador no Brasil.
Em julho de 1989, ainda no SBT, Jô entrevistou em seu programa o piloto Ayrton Senna, que falou de automobilismo, mas também de assuntos que foram considerados polêmicos. Ele namorava a apresentadora Xuxa Meneghel na época e fez revelações sobre o relacionamento dos dois. Senna morreria em um acidente cinco anos depois.
Nos 15 anos de seu Programa do Jô, exibido na Globo, em setembro de 2003, Jô Soares se vestiu com traje de gala para receber três nomes de peso do humor brasileiro: Chico Anysio, José Vasconcellos e Paulo Silvino. Todos eles haviam trabalhado com o apresentador durante sua carreira.
Agildo Ribeiro também estava agendado para estar no programa, mas teve uma intoxicação alimentar e teve que faltar. Jô Soares fez questão de deixar sua cadeira vazia durante toda a entrevista.
O encontro do quarteto foi um momento de peso no programa e fez jus à trajetória de todos eles na comédia brasileira, gerando um documento de importância histórica.
Em 2015, a então presidente Dilma Rousseff sofria enorme pressão no seu governo. Jô Soares conseguiu entrevistá-la, em um encontro que durou mais de uma hora. Ele foi muito criticado na época por ter sido bastante cordial com a presidente, que estava sendo constantemente atacada.
Na época, Jô declarou ao jornalista Maurício Stycer sobre este momento: "Achei essa a entrevista a mais importante da minha carreira pelo momento em que a gente está vivendo. É um momento difícil para a presidente e achei corajoso ela me receber. Me deixou emocionado".
Em 2016, Jô Soares anunciou que estava na última temporada de seu programa - portanto, muitas das entrevistas realizadas naquele ano foram especiais. Uma delas foi com o apresentador Fausto Silva, que dificilmente comparecia em programas deste tipo.
Jô declarou na época que queria muito entrevistar o amigo, e que se arrependeu por não ter programado Fausto para ser o último convidado do programa. “Eu bobeei. Deveria ter guardado essa entrevista para ser a última, porque para mim teria sido um fecho de ouro, mas qualquer momento em que você senta aqui é um fecho de ouro. Faustão é um irmão, me conhece de dentro para fora e de fora pra dentro", disse durante a entrevista.