Ciência
30/08/2022 às 09:07•2 min de leitura
O corpo do "Índio do Buraco" foi encontrado no último dia 23 de agosto dentro de sua rede de dormir na Terra Indígena Tanaru, de acordo com informações concedidas pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Também conhecido como o "homem mais solitário do mundo", o rapaz era o último sobrevivente da sua tribo e havia se privado do contato com o mundo exterior nos últimos 26 anos.
Agentes da Funai monitoravam o homem de longe desde 1996, mas ninguém nunca descobriu seu nome de fato. O apelido "Índio do Buraco" surgiu por conta das inúmeras covas que ele cavou ao longo dessas décadas para capturar animais ou simplesmente para se esconder. Ao que tudo indica, ele morreu pacificamente por volta dos 60 anos de idade.
(Fonte: Survival International/Divulgação)
Embora a morte do "Índio do Buraco" tenha parecido realmente tranquila, a situação não parece ter sido a mesma com os outros membros de sua agora extinta tribo indígena, que morava nas profundezas de Rondônia. De acordo com reportagem produzida pela CNN, o homem teria testemunhado a destruição dos seus companheiros ao longo dos anos.
A partir da década de 1970, a tribo local sofreu repetidos ataques de pecuaristas e grileiros — apesar de o território ser protegido pelo governo brasileiro. Talvez até por isso o homem tenha criado grande desconfiança com pessoas não indígenas, fugindo de qualquer tipo de contato com o mundo exterior.
Ex-funcionários da Funai chegaram a relatar que possivelmente fazendeiros ilegais deixavam açúcar misturado com veneno de rato para envenenar os membros da tribo do "Índio do Buraco" durante a década de 1980. A instituição acredita que essa tenha sido a causa da morte de todos os indivíduos restantes, exceto o solitário homem.
(Fonte: Funai/Divulgação)
Nos 26 anos seguintes da morte de seus colegas, o "Índio do Buraco" começou a viver em completo isolamento. Com o passar do tempo, alguns membros da Funai até tentaram lhe entregar ferramentas, sementes e comida, mas os presentes nunca eram aceitos pelo rapaz.
Mesmo assim, foram diversas ações para tentar preservar a vida do homem mais solitário do mundo. Na década de 1990, agentes da Funai criaram uma área cercada para que ele pudesse morar, apelidando o local de Reserva Tanaru — algo que permitiu com que ele vivesse longe de novos ataques.
Durante esse tempo, o homem tornou-se completamente autossuficiente. Em seu acampamento agora abandonado, pesquisadores encontraram evidências de plantação de milho e mamão, além de cabanas e escotilhas construídas com palha.
(Fonte: Survival International/Divulgação)
Após o "Índio do Buraco" ter sido encontrado morto, seu corpo foi levado para Brasília, onde deve passar por uma rápida perícia. Posteriormente, o cadáver voltará para o mesmo local onde foi descoberto em Rondônia, onde será sepultado. De acordo com informações obtidas pelo G1, os peritos responsáveis pelo caso são os mesmos que atuaram no caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
Como o indígena era o último sobrevivente de sua comunidade — a qual possui etnia desconhecida — seu povo agora é considerado oficialmente extinto. Além disso, a Polícia Federal também informou na última sexta-feira (26) que alguns exames foram feitos no local da morte do indígena.
O estudo analisou a última habitação do homem e a área ao seu redor, a qual possuía pequenas plantações e armadilhas para caçar animais. A Funai também informou que não havia nenhum sinal de violência ou presença de pessoas no local no momento da morte, mas que o "Índio do Buraco" usava vestes de celebração, feitas de penas, "como se estivesse esperando a morte".