Ciência
26/09/2022 às 08:00•2 min de leitura
Iniciada no final dos anos 1100 na Inglaterra, a heráldica é um código de símbolos e cores baseado na interpretação do visível. Utilizada para formalizar brasões voltados aos mais diversos fins, a linguagem conecta elementos sensíveis para fornecer informações sobre valores, origens e aspirações, transformando um conceito abstrato em uma representação padronizada. Como sua compreensão pode ajudar a entender o passado humano?
Durante a Idade Média, cavaleiros inscritos em torneios e outros eventos reais não se mostravam; seus rostos e braços estavam cobertos por armaduras pesadas de metal e impossibilitavam que o herói fosse identificado. Os únicos registros, então, que podiam dar um vislumbre sobre suas origens eram brasões destacados por bandeiras e pinturas. Assim, esses escudos os tornariam capazes de serem reconhecidos por outros ao redor.
Basicamente, a heráldica consiste em símbolos e cores inscritas em um escudo de formato customizado. O conjunto desses elementos resulta em um brasão, que pode ser composto pela gravação de artefatos de cavalaria como elmos, armas e mais, cargas como estrelas, argolas, cruzes e bolas, e ordinários — marcações — como faixas, molduras e outros adornos contrastantes. Além disso, um animal mitológico ou real era comumente inserido nas imagens para transmitir a personalidade desejada.
(Fonte: Wikipedia / Reprodução)
É possível utilizar o brasão da família real britânica — acima — como exemplo. Na gravura, os lemas "Dieu et mon droit" ("Deus e meu direito") e "Honi soit qui mal y pense" ("Envergonhe-se quem nisto vê malícia") estão inscritos no código heráldico. Um leão coroado e um unicórnio se destacam no meio do escudo e sustentam a coroa ao centro da imagem. Ambos significam coragem e força, enquanto o felino transmite nobreza e valor e o ser mítico pureza e virtude.
No total, cinco cores são tradicionalmente utilizadas na formação de um brasão: gules (vermelho), vert (verde), azure (azul), sable (preto) e purpura (roxo). Além delas, dois metais, argent (prata, de argentum) e or (ouro, de aurum), são comumente vistos em modelos heráldicos. Outra questão que envolve a simbologia é o "encargo" animal. Qualquer fera escolhida para ser incluída no escudo pode estar representada de uma forma diferente.
(Fonte: Pinterest / Reprodução)
Segundo o código, se um animal olha para o espectador, ele está "em guarda". Já o leão caminhante, por exemplo, caminha, com três patas no chão, uma levantada e o rabo curvado sobre o dorso, enquanto o desenfreado está ereto com uma pata traseira no chão, outras três patas levantadas, cauda levantada e cabeça de perfil. Além desses, destacam-se as feras "em pé" — sob duas patas — e as "exibidas", como no caso de pássaros e outras aves.
(Fonte: Wikipedia / Reprodução)
Esses dispositivos pessoas eram utilizados para transmitir valores, aspirações, origens e lealdades. O distintivo de Ana Bolena, por exemplo, patenteado para o casamento com Henrique VIII, era um falcão coroado segurando um cetro em um toco de árvore, onde brotavam rosas vermelhas e brancas. O conceito simbolizava desejo incansável por algo, esperança, alegria e fecundidade. Já a fênix de Jane Seymour significava renovação, segurança e promessa de herdeiros.
Assim, a heráldica não oferece interpretações exclusivamente visuais, mas também comunicativas e simbólicas. Através dela, é possível determinar traços de personalidade de pessoas e instituições, compreendendo detalhes íntimos relacionados a cada figura e conectando épocas completamente distintas através de uma proposta visual, mas legitimamente cognitiva.