Artes/cultura
17/11/2022 às 13:00•2 min de leitura
Sabe aquelas figurinhas que nossas tias e avós nos mandam no WhatsApp desejando um bom dia? Por incrível que pareça, estas imagens podem se adequar em um estilo artístico. Falamos aqui do kitsch, um termo que passou a designar objetos ou obras de arte considerados como de mau gosto.
Neste texto, contamos o que é este estilo e como aquelas figurinhas que as pessoas mais velhas amam podem ter um fundo artístico mais interessante do que parece.
(Fonte: JSTOR Daily)
Originalmente, o termo kitsch não estava atrelado ao mundo artístico. Trata-se de uma palavra alemã de sentido controverso: imagina-se que ela possa ter surgido por volta dos anos 1870 e designava os detritos que ficavam nas ruas e eram às vezes reaproveitados para criar outras coisas.
O sufixo "tsch" da palavra, no alemão, costuma ser associado a coisas vulgares, ingênuas ou infantis. E isto tem a ver com a forma pela qual o kitsch foi apropriado nas artes. A palavra começou a ser usada para designar obras banais, ingênuas e que mostravam falta de profundidade - em oposição ao que se imaginava ser a função contemplativa das chamadas belas artes.
Com o tempo, o kitsch evoluiu e passou a incluir objetos de arte feitos propositadamente com esta função. Artistas começaram a criar obras que copiavam as referências da cultura erudita em produtos para as massas, que vulgarizavam o conceito original da arte.
(Fonte: Reforme)
Já há estudiosos pesquisando a associação do kitsch com linguagens estéticas que são correntes em imagens que transitam pela internet. E elas teriam forte associação com outras questões circulantes em parte da sociedade, como o conservadorismo e o patriotismo exacerbado.
O filósofo Thorsten Botz-Bornstein lançou um livro chamado The New Aesthetics of Deculturation: Neoliberalism, Fundamentalism, Kitsch em que apresenta o argumento que o kitsch seria uma espécie de "fundamentalismo estético". “O kitsch abunda quando verdades concretas enraizadas em ambientes culturais concretos não estão disponíveis. Então o prazer próprio se torna a grande referência estética”, escreve na obra.
Em outras palavras, aquelas imagens fofinhas e brilhantes de bom dia que chegam para nós pelas redes sociais revelariam uma falta de profundidade cultural - uma vez que se focam nas experiências imediatas de prazer e não na reflexão - e a uma tendência a enxergar o mundo de uma forma excessivamente simplista. "O resultado é a criação de verdades alternativas ou – se o mecanismo persistir – de realidades alternativas", diz Thorsten Botz-Bornstein.
Outro aspecto interessante, segundo os estudiosos da filosofia e da arte, é que este gosto pelo kitsch se liga a outros elementos da vida cotidiana. O ensaísta Kyle Chayka e o crítico Adam Platt já observaram que este efeito homogeneizador do kitsch se espalha também nos espaços físicos, tomados por uma estética "instagramável", em que tudo parece igual.
"O arco da estética digital tende ao minimalismo por causa de sua fotografabilidade. Por esse padrão, a beleza é o que se presta ao fluxo de mídia social. A feiúra significa não fotografável – e o kitsch é o claro beneficiário dessa mudança visual", escreve a jornalista Daisy Alioto.