'Longtermism': a preocupante filosofia que dominou o Vale do Silício

23/11/2022 às 02:003 min de leitura

No livro What We Owe the Future (2022, em tradução livre, "o que devemos ao futuro?"), escrito pelo filósofo William MacAskill, professor associado de filosofia na Universidade de Oxford, o longtermism ("longoprazismo") aparece como uma ideia de que devemos influenciar de maneira positiva o futuro distante como uma prioridade moral fundamental do nosso tempo, e que não está apenas baseado nos esforços para reverter as mudanças climáticas ou evitar pandemias. Os seres humanos devem garantir que a civilização se recupere se entrar em colapso; que seja contrariado o fim do progresso moral e que sejamos preparados para um planeta onde os seres mais inteligentes são digitais, não humanos – ou seja, implicando na dominação da inteligência artificial.

O longoprazismo, que tem um pouco de filosofia e também de credo ético foi, em parte, criado por professores da Universidade de Oxford, como MacAskill, e liderado pelas gigantes de tecnologia que dominam o Vale do Silício, na Califórnia. A crença pede que as pessoas olhem mil anos para frente e para todos os habitantes que podem nascer em uma humanidade que vive próspera no futuro.

O problema é que esta ideia está associada aos gênios e gigantes tecnológicas, como se estes fossem os responsáveis por salvar o mundo, reforçando a ideia de que os poderosos vão salvar a todos. Essa presunção de poderio e alucinação apocalíptica estão incrustadas na medula espinhal do longoprazismo, levantando questionamentos sérios sobre a ideia do que é melhor para todos.

Lutando pela "efetividade"

(Fonte: Createquity/Reprodução)(Fonte: Createquity/Reprodução)

O longoprazismo nasceu da filosofia e movimento social do "altruísmo eficaz", que aplica evidências e razão para determinar as formas mais eficazes de beneficiar os outros, encorajando as pessoas a consideraram todas as causas para atuar da maneira que tragar o maior impacto positivo.

É como você considerar se deve dar dinheiro para um desabrigado ou para uma organização que ajuda pessoas em situação de rua. É sobre a importância de ser inteligente sobre onde e como ajudamos o próximo. A partir do momento em que o altruísmo eficaz se enraizou na Universidade de Oxford, rendeu organizações como o Center for Effective Altruism, angariando pelo menos US$ 46 bilhões em financiamento para a causa.

(Fonte: Conditio Humana/Reprodução)(Fonte: Conditio Humana/Reprodução)

“Nossa preocupação é com decisões relativamente importantes, como direcionar financiamento filantrópico significativo”, foi escrito em The Case for Strong Longtermism, do Global Priorities Institute (GPI).

MacAskill, membro do GPI, define o longoprazismo em "significância, persistência e contingência". Em ordem, essas palavras evocam as seguintes perguntas: "qual o impacto de uma decisão atual no futuro?", "quanto tempo durarão as consequências de tal decisão?", e "qual é a probabilidade de que tal decisão possa acontecer novamente?".

A caixa de areia

(Fonte: Folha/Reprodução)(Fonte: Folha/Reprodução)

O problema é que o longoprazismo é utópico e construído no pensamento cultuado pela elite, ignorando de maneira sistemática a pobreza, opressão e sofrimento da humanidade.

Na porção extrema da filosofia, está a ideia de que os "fins justificam os meios", uma falácia moral muito utilizada na História para tentar minimizar a destruição já causada pelo ser humano pelo próprio bem, pensando em um "futuro melhor". Por esse ângulo, está tudo bem se para haver um futuro brilhante seja necessário a morte de milhões.

Como parte desse intelectualismo, o longoprazismo aparece na literatura como uma obsessão numérica, se apresentando em um monte de taxas e estatísticas sobre o futuro da humanidade como forma de querer estrategiar o melhor possível nossos passos, fazendo o que for necessário para chegarmos lá. Não é para menos que a mídia criticou fortemente o movimento e o classificou como "eticamente incorreto".

(Fonte: BBC/Reprodução)(Fonte: BBC/Reprodução)

Pode até parecer que isso seja apenas uma grande bobagem de um bando de acadêmicos, porém, o que começou como uma discussão filosófica, foi absorvido pelo Vale do Silício e cooptado por nomes de grande influência, como Elon Musk, que já se diz apegado a filosofia.

Jaan Tallinn, fundador do Skype, se afeiçoou ao longoprazismo por ter fundado o Centro para o Estudo do Risco Existencial, da Universidade de Cambridge, especializado nos perigos da inteligência artificial – um dos nervos da filosofia.

Em artigo ao The Washington Post, a jornalista Christine Emba parece ter resumido a opinião de muitos sobre o longoprazismo ao classificá-lo como a projeção de uma arrogância comum aos profissionais de tecnologia e finanças, baseada em uma confiança injustificada na capacidade de seus adeptos de prever o futuro e moldá-lo a seu gosto. Afinal, focar no futuro significa que não precisam sujar as mãos lidando com os seres humanos reais em necessidade.

"Uma população que ainda não existe não pode reclamar, criticar ou interferir, o que torna o futuro uma caixa de areia muito mais agradável", escreveu ela.

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