Ciência
12/03/2023 às 10:00•3 min de leitura
Desde que foi mencionado pela primeira vez, no século XII, o Santo Graal adquiriu um caráter místico. Imortalizado como o cálice no qual Jesus Cristo bebeu na Última Ceia, e que o santo José de Arimateia usou para coletar seu sangue após a crucificação, o objeto espalhou a lenda e mito que a pessoa que beber dele terá vida eterna.
Ao longo dos séculos, essa ideia foi reforçada por várias obras literárias, se tornando tema popular na literatura medieval pela Europa, que retratou o Santo Graal como possuidor de poderes milagrosos de cura.
Mas o Santo Graal não foi o único objeto de veneração após a passagem de Jesus Cristo pela Terra — até hoje pessoas vão à Gruta do Leite porque acreditam que o leite da Virgem Maria que pingou naquela caverna pode curar a infertilidade.
(Fonte: BBC/Reprodução)
Em Belém, na Palestina, há um lugar dedicado à maternidade divina chamado Gruta do Leite. É lá que a fé e a fertilidade andam de mãos dadas, e também para onde milhares de peregrinos vão todos os anos em busca de um milagre.
Para os cristãos e muçulmanos, é um consenso de que, quando a Sagrada Família encontrou refúgio durante o emblemático Massacre dos Inocentes da Bíblia, promovido pelo Rei Herodes – que teria ordenado a execução de todos os meninos da vila de Belém para evitar perder o trono para Jesus –, Maria teria derramado algumas gotas de seu leite materno no local, transformando as paredes da caverna em uma areia branca calcária abençoada.
(Fonte: John Sanido Poulos/Reprodução)
Até hoje, tanto homens como mulheres coletam o pó dessa parede e o transportam para suas casas para misturá-lo com água ou leite e bebê-lo, na esperança de que aquelas gotas que, supostamente, pingaram no chão da caverna há mais de 2 mil anos, cure a infertilidade – um problema que afeta 48,5 milhões de casais pelo mundo.
Muitos fiéis já compartilharam histórias de milagres concedidos depois que rezaram na gruta e consumiram a poeira abençoada de suas paredes.
(Fonte: See the Holy Land/Reprodução)
A tradição da Gruta do Leite, localizada a cerca de 200 metros ao sul da Basílica da Natividade, surgiu em meados do século VI, sendo que um folheto do começo dos anos 2000 dizia que a fórmula para intercessão era simples: primeiro, o casal precisava rezar de maneira devota à Nossa Senhora, confiando em seu poder de intercessão junto a Deus. Depois, a cada dia, o homem e a mulher deveriam ingerir um pouquinho do pó das paredes da gruta, com leite ou água, durante todo o ciclo fértil da mulher. Por fim, pedir a intercessão de Nossa Senhora junto a seu filho Jesus para curar o problema do casal.
No folheto daquela época, também era pedido que os casais que alcançassem a graça de conceber um bebê praticando esse rito de devoção pura deveriam mandar uma foto da criança acompanhada de um testemunho.
É por isso que, hoje em dia, a caverna subterrânea está repleta de altares e obras de arte da Virgem Maria e seu filho. O local, no entanto, é um lugar de homenagem desde o século IV d.C., com uma igreja sendo construída na era bizantina. O papa Gregório XI concedeu permissão para ampliar o local no século XIV, sendo que a atual Capela da Gruta do Leite foi construída no século XIX.
(Fonte: Musica Classica/Reprodução)
Enquanto alguns dizem que o "leite em pó" só pode ser obtido visitando pessoalmente o santuário, vários sites, como Etsy e eBay, divulgam a disponibilidade de sachês do produto para que casais desesperados possam pedir pelo milagre. Contudo, esse tipo de comércio não é exclusivo da era da internet.
Em uma matéria de dezembro de 2001 da Folha de São Paulo, um casal de brasileiros já agradecia um padre americano por enviar o pó sagrado da Gruta do Leite. “Estou extremamente feliz agora ao lado do meu filho tão esperado. O poder do leite de Maria nos salvou”, dizia a carta.
E quando o padre foi questionado sobre se foi feito algum estudo científico para verificar se a rocha possui alguma propriedade especial, ele deu a resposta que, certamente, prevalece até hoje: “O importante é a fé”.