Estilo de vida
27/05/2023 às 06:00•2 min de leitura
Originária na América do Sul, a batata foi fruto da colonização, chegando ao continente europeu em meados de 1500. A princípio, o tubérculo foi rejeitado pela maioria, sobretudo os franceses, que se referiam a ele como “ração de porco” e acreditavam que causava doenças típicas da época, como hanseníase, a famosa lepra.
O pouco conhecimento sobre a batata também contribuiu para sua reputação. Parte da família Solanaceae – que inclui uma série de plantas venenosas para os seres humanos, como a mortal beladona –, muitas pessoas desconfiavam do tubérculo, tanto que o Parlamento francês chegou a proibi-lo oficialmente em 1748.
(Fonte: The Granger Collection/Alamy Stock Photo/Reprodução)
Demorou até o século XIX para que esse cenário começasse a mudar. Em um dos períodos de maior escassez da Europa, a batata foi vista como uma fonte de alimentação barata e nutritiva para boa parte do continente, à exceção do povo da Prússia (mais tarde parte da Alemanha moderna), que era apegado ao ditado popular “o que o camponês não conhece, ele não come”.
Quando a Guerra de Sucessão Austríaca espalhou a iminência de uma grande fome pela Prússia, o rei Frederico, o Grande, inventou uma maneira de convencer o povo a comer batata.
Frederico, O Grande. (Fonte: Wikimedia Commons)
Frederico, o Grande, sempre foi um defensor orgulhoso da batata e, quando surgiu o risco de fome generalizada causada pelo conflito que duraria oito anos, ele sabia que o alimento poderia ajudar seu povo a sobreviver, por ser fácil de cultivar e altamente nutritivo. Não é para menos que até aprovou uma ordem para aumentar as safras de batata, mas, ao se deparar com o medo dos prussianos sobre a procedência do tubérculo, ele precisou ser rápido para contornar o problema.
Portanto, o rei apelou para uma tática: a escassez. Para tornar a batata mais atraente para o povo e dar a falsa ideia de que estava sendo consumida em larga escala, em vez de promovê-la, ele a removeu. Eram os primórdios da típica lei de oferta e procura.
Ele plantou campos de batata ao redor de toda Berlim e ordenou que seu exército montasse guarda em uma demonstração de proteção de alto nível, para dar a impressão de que temiam que as batatas fossem roubadas de tão populares que eram.
(Fonte: Deutsches Historisches Museum/Wikimedia Commons)
E Frederico, o Grande, estava mais do que certo. Não demorou para que os camponeses começassem a especular sobre o tubérculo e tentassem roubá-los. Os guardas foram instruídos a fingirem descuido, como cochilar ou fazer rondas preguiçosas, para permitir que os camponeses tivessem acesso ao produto.
Foi assim que as batatas ganharam o gosto popular, sendo amplamente cultivadas e se estabelecendo como alimento primordial na dieta austríaca e alemã.
(Fonte: Deror avi/Wikimedia Commons)
Frederico, o Grande, conseguiu entender o ditado de que "se algo vale a pena guardar, vale a pena roubar". Os camponeses nunca estiveram certos sobre o que estavam comendo, mas se o rei fazia parecer precioso, então era o que importava.
A neurociência provou que a estratégia de marketing em tornar restrita a disponibilidade de um produto ou serviço, aciona no cérebro humano uma imediata resposta de desejo. Isso também está associado à lei da escassez, que dá disponibilidade limitada ao consumidor a certo produto.
A perspicácia do rei se tornou uma verdadeira lenda. Não é para menos que em Potsdam, uma cidade ao leste da Alemanha, há um vinhedo no palácio Sassouci, onde Frederico, o Grande, foi sepultado, em 17 de agosto de 1786. Até hoje as pessoas visitam sua lápide para deixar batatas.