Artes/cultura
05/06/2023 às 04:00•2 min de leitura
Um dos episódios mais odiosos da escravização e comércio de seres humanos no mundo, o chamado massacre do Zong foi um assassinato em massa de 130 pessoas africanas escravizadas à força. Nos dias seguintes a 29 de novembro de 1781, a tripulação desse navio negreiro decidiu jogar ao mar mais de 130 cativos africanos.
O extermínio teve início depois que a tripulação da embarcação foi atingida por uma doença e teve problemas de abastecimento de água. Sem hesitar, os marinheiros levaram o navio até um pedaço do mar no Oceano Atlântico chamado "the Doldrums" ("as calmarias"). Ali, descartaram seu carregamento menos preciosa, no caso, mulheres e crianças amarrados por pesadas correntes.
O assassinato foi omitido pelos tripulantes e teria sido definitivamente esquecido pela História não fosse um questionamento judicial, não pela perda de seres humanos, mas sim pelo extravio da "carga", reclamada pelo dono do Zong, William Gregson, quando o navio chegou à Jamaica.
Com problemas de abastecimento, a tripulação jogou os africanos no mar.
Até os dias fatídicos do final de novembro de 1781, o Zong era um entre muitos navios negreiros que transportavam pessoas capturadas na África através do Oceano Atlântico. Segundo estimativa do site do canal História, entre seis a sete milhões de africanos foram sequestrados na África no século XVIII e vendidos como escravos no chamado "Novo Mundo".
No mês de agosto de 1781, o Zong deixou o porto de Acra, em Gana, com 442 pessoas escravizadas, todas amontoadas abaixo do convés, visto que o número era pelo menos o dobro da capacidade projetada para o navio na Holanda.
De acordo com o Daily Mail, navio negreiro já estava próximo ao destino — a Jamaica — com problemas de doenças e falta d'água, quando um navegador confundiu o porto de destino com uma colônia francesa hostil. O navio se desviou, o que precipitou a morte de 17 tripulantes e mais de 50 africanos, até o triste episódio nos Doldrums.
Lorde Mansfield comparou o massacre a jogar "cavalos" no mar.
Depois que William Gregson teve seu pedido de indenização de perda da carga pelas seguradoras, ele as levou a um tribunal, que aceitou a tese de que os escravizados afogados equivaliam à carga perdia. Mas as seguradoras recorreram — defendendo a tese de assassinato — e o caso atribuído ao juiz britânico Lorde Mansfield.
Considerando que o caso dos escravizados estava sendo tratado como se “cavalos tivessem sido jogados ao mar”, o nobre ordenou um novo julgamento para apurar responsabilidades. Conforme o The Guardian, esse julgamento jamais ocorreu.
Anos mais tarde, a história foi retomada pelo abolicionista africano Olaudah Equiano e pelo ativista inglês Granville Sharp, que formaram uma parceria poderosa, transformando o massacre do Zong em uma disputa legal que provocou uma indignação nacional na Inglaterra.