Ciência
12/05/2023 às 13:00•3 min de leitura
O dia 13 de maio é conhecido no Brasil como o Dia da Abolição da Escravatura. Ou seja, foi nesta data, em 1888, que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea e colocou oficialmente fim a três séculos de regime de escravidão no Brasil, prática que já era comum em outros lugares do mundo.
E a pergunta que talvez fique no ar é: quando, de fato, a escravidão de pessoas negras começou no mundo? Se esse questionamento já passou pela sua cabeça, basta continuar a leitura para descobrir isso e muito mais.
A escravidão é algo antigo no mundo, e no princípio estava mais associada a dominação de povos após o final de alguma guerra. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Antes de falarmos da escravidão de pessoas negras, é preciso voltar bastante no tempo para entender quando, de fato, essa prática começou no mundo.
O conceito de escravidão era uma realidade em diversas civilizações antigas, e estava geralmente associado com vitórias em guerras. Em Atenas e Esparta, por exemplo, era comum que esses escravos fossem pessoas de áreas dominadas pelos exércitos das duas cidades, algo que também era visto na sociedade romana.
Entretanto, na Roma Antiga era comum ver o comércio de pessoas com fins de escravidão. Muitos desses escravos eram colocados para fazer trabalhos braçais na agricultura, mas também podíamos encontrar aqueles treinados para se tornarem gladiadores, malabaristas e músicos, por exemplo.
Com o avanço do tempo, o regime acabou se espalhando para outras regiões do globo, especialmente após a descoberta das Américas e a colonização desses espaços em nosso continente. Foi pouco antes desses eventos que a justificativa para escravizar as pessoas deixou de ser um motivo de dominação para se tornar puramente racial.
O comércio de escravos vindos da África ganhou mais notoriedade graças aos povos árabes. (Fonte: GettyImages/Reprodução)
Ao contrário do que muitas pessoas talvez possam imaginar, a escravidão de africanos não começou com a chegada de povos brancos que os forçavam a entrar em navios e viajar dias e mais dias para outros continentes, mas entre os próprios habitantes dessa região.
A escravidão entre africanos não tinha um viés mercantil (ou seja, não havia o intuito de lucro com essa ação), mas sim uma relação mais doméstica. Muitos desses escravos eram usados como um auxílio extra em ações como colheita, pecuária, mineração, caça e até mesmo em batalha, e em muitos casos havia a preferência por mulheres.
Assim sendo, era comum ver mulheres trabalhando como escravas nas tarefas de agricultura, sendo que elas ainda eram capazes de gerar novos membros para a comunidade (e muitas dessas crianças eram consideradas totalmente livres).
Sendo tais regiões comunidades totalmente matriarcais, era comum que essas crianças nascidas de escravas carregassem o nome da mãe e pudessem até progredir dentro da sociedade. Para se ter uma ideia, um escravo fiel ao senhor poderia até ganhar algum cargo de prestígio e possuir seus próprios escravos.
Foi só com a chegada do século VII que os povos africanos passaram a ser vistos de fato como mercadorias com a chegada dos árabes e a conquista de áreas como Magreb e o leste africano. Curiosamente, os próprios africanos eram comumente usados na captura de pessoas comercializadas, realizando essas ações em grupos inimigos ou áreas com menos condições de se defender.
Estima-se que, entre os séculos VII e XIX, foram aproximadamente 5 milhões de africanos comprados na África pelos árabes, número que se tornou absurdamente maior com a chegada dos portugueses ao nosso continente vizinho.
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
Falando especificamente do Brasil, antes da chegada dos negros em nosso país era comum os portugueses utilizarem os povos indígenas para trabalhos forçados, uma realidade que foi bastante vista entre 1540 e 1570. Porém, o conhecimento das matas e florestas para fuga dificultava o uso destes povos (sem contar a alta taxa de mortalidade por conta do contato com as epidemias trazidas pelos brancos), momento em que houve uma mudança nesse quadro.
Com a aproximação do século XVII, passou a aumentar o número de navios negreiros trazendo escravos da África para trabalhar em nosso solo, sendo que praticamente todos eles realizavam esse transporte em condições desumanas (muitas pessoas inclusive morriam no trajeto).
Chegando em solo nacional, a situação não era melhor. As condições em que os escravos viviam eram precárias, tanto é que, em média, a expectativa de vida de um escravizado era de 10 anos - e isso não se dava apenas pela exposição, mas também pelos castigos frequentes aos quais eram submetidos.
Isso fez com que alguns deles se rebelassem e passassem a viver em quilombos, oferecendo resistência aos que tentavam recapturá-los. Entre muitas idas e vindas e luta da parte dos escravizados, o trabalho escravo foi encontrando seu fim depois que o governo português se viu forçado pela Inglaterra a acabar com essa prática em suas colônias (sendo no Brasil em 1888).
Ao contrário do que alguns podem imaginar, a prática da escravidão de pessoas negras não é algo que ficou preso apenas ao passado e permaneceu ativa em alguns lugares até tempos mais recentes. Para se ter uma ideia, o último país a de fato abolir um sistema nesse estilo foi a Mauritânia, onde esse processo se deu apenas em 1981.
Entretanto, a transformação da escravidão em crime por lá aconteceu apenas em 2007, e até essa data só dois donos de escravos foram condenados judicialmente por seus atos — que envolviam inclusive casos de estupros, já que por lá a escravidão era considerada algo hereditário e seus donos podiam fazer literalmente qualquer coisa com seus dominados.
Apesar de tais números serem cada vez mais baixos, não é raro ouvir sobre casos de regimes de escravidão praticados em diversas partes do mundo. Porém, em muitos desses casos ele deixou de ser um fator puramente étnico.