Ciência
05/06/2023 às 13:00•3 min de leitura
Quando os Estúdios Walt Disney lançaram em 1989 a animação A Pequena Sereia, a empresa pavimentou o caminho para uma era que ficou conhecida como o "Renascimento da Disney", um período em que os estúdios voltaram a fazer filmes de animação de grande sucesso, sendo a maioria baseada em histórias clássicas.
A princípio, A Pequena Sereia deveria ter sido lançada em 1930, mas só saiu do papel quase 60 anos depois em meio a um período de fracasso e falência da produtora. A ideia de produzir o filme extremamente caro e complexo foi do então CEO Michael Eisner e do presidente da Disney Jeffrey Katzenberg, visando revitalizar e dar uma nova roupagem à história de Hans Christian Andersen.
Considerado um dos "pais" dos contos de fadas, quando o dinamarquês não estava escrevendo histórias que ecoariam pelos séculos, ele provavelmente estava se masturbando. Pois é, poucos sabem que o autor de A Pequena Sereia mantinha, inclusive, um diário de masturbação.
Hans Christian Andersen. (Fonte: Wikipedia/Reprodução)
Por incrível que pareça, isso diz muito sobre a vida do autor. A vida pessoal de Andersen sempre foi enigmática, sobretudo sexualmente falando. O homem nunca se casou, mesmo tendo demonstrado em diferentes momentos de sua vida que se apaixonou por homens e mulheres. Além disso, tudo permaneceu em sua cabeça, e ele externou suas vontades, medos e frustrações escrevendo histórias que não parecessem tão infelizes quanto sua vida — e também se masturbando para tentar se entender melhor.
Acredita-se que Andersen nunca tenha tido relações sexuais, o típico resultado de uma infância conturbada, repulsa por seus sentimentos sexuais e extrema culpa religiosa pela atração pelo mesmo sexo. Tudo isso teria construído um homem reprimido e recluso.
Ele serviu como a própria inspiração para o Patinho Feio, que era desajeitado, afeminado e evitado por seus colegas. Falando sobre transformação, redenção, solidão e saudade, no final das contas, seu protagonista se torna um lindo cisne após tanto sofrer – e era o que, talvez, ele esperava. Mas isso não aconteceu, nem mesmo com a fama, dinheiro e prestígio.
Jenny Lind. (Fonte: Europeana/Reprodução)
Sim, Andersen se cercou de amigos, pôde ter contato com os mais belos homens e mulheres, mas nunca sentiu que pudesse ir além. É possível pensar que ele tenha se exilado em si mesmo porque continuava se achando o mesmo estranho de quando era desconhecido, ainda mais por ser disléxico e ter vários tipos de fobia, como o medo obsessivo de ser queimado.
Tudo e todos que Andersen desejou o rejeitaram. A começar pela famosa cantora Jenny Lind, depois Edvard Collin, filho de seu mentor profissional; e até mesmo a sua irmã Louise. O mais próximo que Andersen chegou de um relacionamento foi o tempo em que passou como companheiro próximo do dançarino Herald Scharff, a quem ele atribuiu o "período mais erótico de sua vida".
(Fonte: GettyImages/Reprodução)
E provavelmente foi nesse período que Andersen começou a ser mais efusivo no hábito de se masturbar. Essa sua obsessão foi descoberta por meio de seu diário — historiadores perceberam que ele se referia à prática por meio de um código: ele usava duas cruzes como sinais de mais para mostrar que havia se "aliviado" naquele dia.
Todo mundo que Andersen encontrava para falar de trabalho ou da vida, despertava nele o desejo de se masturbar até três vezes seguidas. Existe a possibilidade de que em algum momento ele tenha tido contato físico de natureza sexual com alguém, mas o medo e vergonha mantiveram isso fora de seus diários. No mais, permanece a ideia de que ele era celibatário.
Andersen cresceu com uma mãe prostituta, portanto, na vida adulta, se tornou um hábito visitar bordéis – ou como ele chamava, "lojas humanas" – apenas para encher sua mente com material o suficiente para se divertir longe da vergonha e da tentação.
Ele gostava de visitar bordéis em Paris apenas para falar de maneira depravada sobre sexo e depois se masturbar até que arrancasse sangue de suas genitálias. Ele se queixou bastante de seus excessos nas páginas dos diários, descrevendo o resultado como "pênis dolorido", "pênis doente", "pênis sensível" e "pênis muito ruim" após horas de masturbação.
Certamente, nada disso ofusca suas incríveis realizações literárias — muito pelo contrário, apenas humaniza o gênio que foi, cuja capacidade em cunhar histórias atemporais é debatida até hoje.