Ciência
01/01/2024 às 14:00•2 min de leitura
Há pouco mais de 10 anos, no dia 10 de dezembro de 2013, o Uruguai tomava uma decisão importante na sua história: a regulamentação da produção, da venda e do consumo da cannabis. A regularização da maconha, segundo especialistas da área, tem cumprido o objeto de gerar um novo mercado legalizado para uma substância que antes apenas circulava clandestinamente, na mão de traficantes.
Dez anos depois, já é possível ver alguns efeitos dessa decisão política. De acordo com o então presidente uruguaio, José "Pepe" Muijca, a ideia era que o novo mercado quebrasse o narcotráfico no país e melhorasse a segurança pública. Nem tudo aconteceu até o momento. Mas o que já pode ser constatado? Vejamos a seguir alguns dados já consolidados.
(Fonte: GettyImages)
De acordo com o Instituto de Regulamentação e Controle da Cannabis (IRCCA), o número de usuários de maconha registrados para compra no Uruguai é atualmente de 86.207 pessoas. Isso corresponde a cerca de 2,5% da população inteira do país.
Contudo, os dados também mostram que muitos consumidores maiores de 18 anos continuam sem se registrar. Ou seja, dois a cada três usuários (cerca de 66%) recorre ao chamado "mercado cinza", em que a maconha é produzida legalmente, mas distribuída fora do mercado regular.
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Dados de 2022 da pesquisa da empresa Cifra indicam que 19% dos usuários maiores de 16 anos voltaram a consumir maconha depois de prová-la pela primeira vez. Em 2016, o dado era de 10%.
A empresa analisa que provavelmente mais pessoas passaram a assumir o consumo da cannabis, já que há pelo menos dez anos ela é legalizada no Uruguai. "Acredito que exista um aumento do consumo em determinada população, porque é mais fácil, mas também que as pessoas estão declarando o seu uso", afirmou a diretora da Cifra, Mariana Pomiés.
Ainda assim, o número indica que não houve um grande aumento de consumo de maconha entre essa população, o que era um grande medo de certas camadas da sociedade.
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Em média, um pacote de 5 gramas de maconha, vendido nas farmácias autorizadas no Uruguai, custa cerca de US$ 12 ou R$ 59. Esse é o valor cobrado pela variedade gama, mas há outras, com menor percentual de THC, que costumam ser mais baratas.
Esses preços são considerados relativamente menores que os custos em outras localidades. Só a título de comparação, entre as grandes cidades, o valor mais baixo é encontrado em Montreal, no Canadá (US$ 5,90 ou cerca de R$ 29), e o mais alto em Tóquio, no Japão (US$ 33,80 ou cerca de R$ 166).
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Desde que o país regulamentou o mercado da maconha, 66% dos uruguaios passaram a se manifestar como favoráveis à nova lei. O percentual praticamente dobrou desde a última medição de opinião, que havia sido feita em 2012. Já em relação ao número de pessoas que se opõem à lei, o percentual caiu de 66% para 45%.
Para Mariana Pomiés, diretora da Cifra, está ocorrendo uma mudança cultural no Uruguai em decorrência da lei. "O que mais colaborou para que as pessoas mudassem de opinião foi o transcurso da vida cotidiana sem grandes problemas após a regulamentação. As pessoas que poderiam ter predisposição favorável à legalização, mas tinham medo, foram perdendo o temor", conclui.