Ciência
09/03/2024 às 13:00•3 min de leituraAtualizado em 09/03/2024 às 13:00
O progresso costuma ter um preço. E em termos de natureza, isso geralmente exige que algum elemento precise desaparecer, ou, ao menos, ficar escondido. Um bom exemplo são os rios que cortam grandes e populosas cidades ao redor do mundo, cujo destino reservou estarem camuflados sob quilos de concreto.
E antes que você pense que essa é uma realidade reservada apenas a cidades localizadas em países menos desenvolvidos, é importante ressaltar que isso ocorre de modo indiscriminado. Ou seja, vale tanto para cidades cujo crescimento é desenfreado, como as que tiveram a possibilidade de serem planejadas, mesmo que minimamente. Conheça alguns desses casos.
Farset tem origem no gaélico Béal Feirste, e antes de ser "enterrado" em 1848, foi responsável por dar origem ao nome de Belfast, capital da Irlanda do Norte. Era por meio de suas águas que o comércio da cidade florescia, cortando parcela considerável do caminho, até se encontrar com outro rio, o Lagan. No entanto, o desenvolvimento industrial no século XIX causou severos estragos ambientais no Farset.
A poluição era causada principalmente pelas fábricas de linho, pelas quais Belfast era conhecida. Como forma de prevenir problemas de saúde e, ao mesmo tempo, sanar o problema com o mau cheiro e incentivar o uso do Lagan, considerado já um rio mais importantes, o Farset foi canalizado totalmente em 1848. Há cerca de 10 anos, um debate em Belfast tem sido feito para que uma parte do rio possa tornar a ser exposta.
Moscou é uma cidade repleta de mistérios e histórias. Uma dessas diz respeito ao rio Neglinnaya, que foi canalizado e "meio escondido", e guarda um passado imponente no qual formou, juntou ao rio Moscou, as redondezas por onde o Kremlin foi erguido pela primeira vez, no norte de Moscou, no final do século XV.
As inundações e a poluição do desenvolvimento da cidade fizeram com que ele se tornasse um problema para a capital russa, sendo canalizado em 1812, após o incêndio que tomou conta de Moscou naquele ano. Quem visita a cidade pode encontrar o local porque há uma torre branca de barbacã do lado de fora dos muros oficiais do Kremlin. Ali, havia uma ponte que ligava as torres de Kutafya e Troitskaya.
Quem vê gravuras e pinturas antigas de Londres pode se perguntar sobre um rio que aparece nelas e não é mais visto pela capital da Inglaterra. Trata-se do rio Fleet, canalizado em 1880, que cruzava parte considerável de Londres até desaguar no rio Tâmisa em seus tempos áureos.
Com o crescimento da cidade, o Fleet foi se tornando um local poluído, recebendo os resíduos das indústrias locais. Com a piora da situação e o aumento do mau cheiro, os governantes iniciaram, em 1730, um processo de emparedamento do circuito do rio, até ele ser totalmente coberto em 1880, passando a fazer parte do sistema de esgoto da cidade.
Uma das intersecções urbanas mais icônicas em todo o mundo é o cruzamento de Shibuya, na cidade de Tóquio, no Japão. O local é muito conhecido por suas largas e finas faixas de pedestres, incluindo uma que cruza diagonalmente. Um dos palcos urbanos favoritos de turistas, ali era o ponto em que os rios Onden e Uda se uniam para formar o rio Shibuya.
Construída de modo semelhante a Veneza, cheia de rios e canais, Tóquio sofreu com o Grande Terremoto de Kanto, em 1923, os bombardeios da Segunda Guerra Mundial e a intensa poluição do Shibuya. Pensando nas Olimpíadas que ocorreriam em 1964, engenheiros decidiram canalizá-lo, dando fim ao rio.
Durante os preparativos para os Jogos de 2020, discutiu-se a possibilidade de reabrir trechos do Shibuya, em um projeto que contaria com plantio de áreas verdes na capital japonesa. A ideia não foi adiante, mas o rio resiste sob o cruzamento mais famoso de Tóquio (e pelos canais que cruzam a cidade).