Saúde/bem-estar
06/11/2024 às 15:00•4 min de leituraAtualizado em 06/11/2024 às 15:00
Ao longo da história temos registros de eventos de histeria em massa que desafiam a lógica e mostram como o comportamento humano pode ser profundamente influenciado pelo ambiente social e psicológico. Esses episódios, onde grupos inteiros de pessoas experienciam sintomas físicos ou emocionais sem explicação médica, parecem uma mistura de pânico, crenças e efeitos psicológicos compartilhados.
Veja agora seis histórias curiosas sobre histeria coletiva que atravessam séculos, continentes e diferentes contextos culturais. Cada uma revela a forma como o medo e as crenças de uma época podem gerar fenômenos bizarros e inexplicáveis.
Os julgamentos de bruxas em Salém, Massachusetts, são um dos casos mais famosos de histeria em massa. Em 1692, quando jovens da vila começaram a ter ataques e convulsões, rapidamente espalhou-se a crença de que a culpa era de bruxas. Sob pressão, as meninas acusaram várias mulheres da comunidade, desencadeando uma série de julgamentos e execuções.
A paranoia coletiva foi alimentada pelo medo das guerras com tribos nativas e pelas tensões religiosas da época. Acredita-se que as meninas, ao lidar com esses medos intensos, tenham manifestado sintomas psicossomáticos que acabaram criando um ciclo de acusações e pânico.
A ideia de que a histeria coletiva influenciou o julgamento permanece como uma explicação plausível, já que quase ninguém escapava da suspeita. Décadas depois, estudos modernos tentaram explicar o ocorrido como um possível caso de envenenamento por fungos alucinógenos, mas a hipótese mais aceita continua sendo a histeria coletiva gerada pelo contexto opressor da época.
Em janeiro de 1962, algo inesperado aconteceu em uma escola em Kashasha, Tanzânia. Três meninas começaram a rir descontroladamente e, em pouco tempo, muitas colegas também se viram incapazes de conter o riso.
A situação logo escapou do controle e se espalhou pela região, com quase 1.000 pessoas — principalmente crianças — manifestando ataques de riso. O episódio, que forçou o fechamento de várias escolas, durou cerca de 18 meses. Na tentativa de explicar esse fenômeno, estudiosos sugerem que o “contágio do riso” foi uma forma de alívio para o estresse vivido por jovens em um país recém-independente, enfrentando tensões políticas e sociais.
Ainda hoje, o episódio é um dos casos mais emblemáticos de histeria coletiva, mostrando o poder do ambiente e das emoções em provocar respostas físicas incomuns.
Imagine uma praça na França, em 1518, onde, de repente, uma mulher chamada Frau Troffea começa a dançar descontroladamente. Em questão de dias, ela não está mais sozinha; dezenas e depois centenas de pessoas juntam-se a ela nessa dança desenfreada.
Esse fenômeno — conhecido como “Praga Dançante” — durou cerca de dois meses, deixando médicos e autoridades perplexos. Com tantas pessoas dançando até desmaiarem, a cidade tentou várias abordagens para conter a epidemia, incluindo a construção de salões de dança e o incentivo à música para "liberar" os afetados. Nada parecia funcionar, e cerca de 400 pessoas morreram de exaustão ou de problemas cardíacos.
As possíveis explicações variam de possessão demoníaca a envenenamento por fungo, mas, atualmente, a hipótese mais aceita é que foi um caso extremo de histeria coletiva, influenciado pelas duras condições de vida na época.
Em Ruwa, Zimbábue, uma escola se tornou palco de um evento peculiar em 1994, quando 62 alunos relataram ver um OVNI pousando perto do pátio. As crianças descreveram figuras humanoides saindo da nave, em um evento que durou cerca de 15 minutos.
Inicialmente, os adultos receberam as alegações com ceticismo, mas a seriedade das crianças ao relatar suas experiências levou os professores a considerar a possibilidade de que elas tivessem realmente visto algo. Uma equipe de ufólogos e até um professor de Harvard investigaram, coletando desenhos e testemunhos.
Embora houvesse teorias de que o país estava em uma “febre de OVNIs”, os especialistas acreditam que o evento foi um caso clássico de histeria em massa. A visão de um foguete que caiu na região dias antes pode ter ajudado a alimentar as crenças das crianças, gerando um cenário no qual a imaginação e o medo coletivo tomaram conta.
Nas décadas de 1980 e 1990, uma onda de pânico tomou conta dos Estados Unidos e de outros países, após relatos de supostos “abusos rituais satânicos” envolvendo crianças. Esse fenômeno começou com a publicação de Michelle Remembers, livro que afirmava expor rituais horríveis de um culto satânico. De repente, a mídia estava repleta de histórias sobre abusos ritualísticos, e escolas e creches foram alvos de investigações.
No entanto, muitas das acusações acabaram sendo baseadas em “memórias recuperadas” que, mais tarde, foram desacreditadas. Os julgamentos no caso da McMartin Preschool, na Califórnia, se destacam: dezenas de crianças foram interrogadas de forma questionável, o que levou a acusações sem fundamento.
Apesar de nenhuma evidência concreta de cultos satânicos ter sido encontrada, mais de 12.000 alegações de abuso ritual foram feitas durante o período. Até hoje, o “Pânico Satânico” é um exemplo de como o medo pode se espalhar e levar pessoas a acreditar no impossível.
Em 2016, uma onda de pânico social dominou os Estados Unidos e outros países, causada por rumores de palhaços aterrorizantes em locais públicos. Tudo começou com uma página na internet que trazia imagens de Gags, um palhaço que andava de sorrateiramente pelas ruas de Green Bay, no Wisconsin. Daí em diante, foi um caos.
A “Great Clown Panic” (Grande Pânico do Palhaço) começou com relatos de pessoas avistando palhaços agindo de maneira suspeita e ameaçadora. Apesar de poucos incidentes reais terem envolvido violência, o medo se espalhou rapidamente pelas redes sociais e pela mídia.
A imagem de palhaços já era ambígua — amada por uns, assustadora para outros — mas sua aparição em locais fora do esperado, como estacionamentos e florestas, intensificou o medo. Histórias e imagens de palhaços sinistros circulavam pela internet, amplificando o pânico e aumentando as chamadas à polícia. Psicólogos explicam que isso é típico de pânicos morais, quando temores subjacentes na sociedade são projetados em uma figura ou evento específico.
Ah... e o tal palhaço Gags?! Era só uma propaganda publicitária.