Saúde/bem-estar
03/11/2024 às 21:00•2 min de leituraAtualizado em 03/11/2024 às 21:00
Contêineres ou espaços lacrados especialmente projetados para preservar itens atuais, com o objetivo de serem descobertos no futuro, foram uma verdadeira “febre” nas décadas de 1930-1940 em todo o mundo. Refletindo o otimismo tecnológico da época, as chamadas cápsulas do tempo tinham como principal objetivo preservar a história em um período de grandes mudanças globais.
Um dos melhores exemplos é a Cápsula Westinghouse, criada para a Feira Mundial de Nova York em 1939. Considerada o primeiro objeto da espécie, ela foi idealizada pelo consultor de relações públicas George E. Pendray para ser aberta em 6939, e continha os seguintes objetos: despertador, barbeador elétrico, dinheiro da época, sementes, documentos microfilmados, noticiários e objetos do dia a dia.
No entanto, existem registros de alguns precursores de cápsulas do tempo, com propósitos bem mais perversos. Essas práticas anteriores à da Westinghouse tinham como objetivo ocultar segredos, informações ou símbolos de poder para preservar alguns legados sombrios ou mesmo perpetuar visões preconceituosas e discursos de ódio para intimidar e influenciar as gerações futuras.
Em 2020, o pesquisador Nick Yablon, da Universidade de Iowa, nos EUA, mapeou as origens das cápsulas do tempo até o final da década de 1870, quando o objeto não tinha ainda esse nome. O historiador fez uma descoberta perturbadora: essas protocápsulas do tempo foram iniciadas para promover a odiosa eugenia, uma pseudociência que queria "melhorar" a raça humana de forma "científica".
Em 1876, relata Yablon à ABC, o político Charles Mosher criou um Memorial Safe (espécie de cofre) com cerca de 10 mil retratos de pessoas que ele julgava geneticamente “adequadas”, ao lado de materiais sobre escolas e leis que promoviam a eugenia. Esse projeto de “engenharia social” teve, no século 20, um papel central na ideologia nazista, e inspirou muitas das políticas raciais e de “purificação” de Hitler.
Não demorou para que outros eugenistas, muitos deles biólogos, geneticistas, médicos e psicólogos, seguissem os passos de Mosher, e começassem a confeccionar várias cápsulas do tempo para preservar suas ideias racistas sobre aperfeiçoamento genético. Yablon garante que esses discursos, principalmente na forma de panfletos, apareciam em quase todas as protocápsulas do início dos anos 1900.
Até onde sabemos, as cápsulas do tempo atuais são montadas dentro do espírito de "encorajar as pessoas a tornar o mundo um lugar melhor para aqueles que eventualmente abrirão a cápsula, diz Yablon.
Em 1977, a NASA lançou as espaçonaves gêmeas Voyager 1 e 2 ao espaço interestelar, levando a bordo Discos de Ouro, com imagens e sons para servir como cápsula do tempo. Atualmente a música de Chuck Berry está a mais de 20 bilhões de quilômetros da Terra, no espaço interestelar.