Ciência
28/12/2022 às 12:00•2 min de leitura
Sob os arcos góticos e as torres da Oglethorpe University, em Atlanta, está uma das mais ambiciosas e polêmicas cápsulas do tempo: a Cripta da Civilização. A estrutura foi criada em 1937 e selada em 1940, mede 6 x 3 x 3 metros e guarda mais de 150 objetos, desde brinquedos infantis até microfilmes contendo mais de 800 trabalhos clássicos de literatura — como a Bíblia, o Alcorão, a Ilíada de Homero, e o Inferno de Dante — que somam aproximadamente 640.000 páginas.
Idealizada pelo historiador Thornwell Jacobs, ela foi inspirada pelas pirâmides e tumbas do Egito que foram abertas na década de 1920. Jacobs percebeu que muito pouco conhecimento das civilizações do passado foram preservadas e acreditou que seria importante criar uma forma disso não se repetir para as gerações futuras.
Também foram os egípcios que o ajudaram a definir o tempo que a cripta deveria permanecer selada. A data de abertura da cripta foi fixada no ano 8113. Jacobs acreditava que o calendário egípcio foi estabelecido no ano de 4241 a.C., ou seja, 6.177 anos antes da criação da cripta. Por esse motivo ele jogou o mesmo tempo para o futuro, chegando ao ano 8113.
Outra preocupação de Jacobs foi a possibilidade de o inglês não ser a língua falada nos EUA — ou até mesmo ser completamente esquecida — pelas gerações futuras. Para evitar que o significado da cripta se perdesse, uma máquina chamada "Integrador de linguagem" foi colocada na frente da câmara selada para ensinar os abridores a falar inglês.
Thornwell Jacobs. (Fonte: Oglethorpe University/Reprodução)
Quando a cripta foi selada, em 1940, foi colocada uma placa com uma mensagem, informando se tratar de um memorial de preservação daquela geração. Na placa também consta que não foram colocados metais preciosos ou joias, e que ela deveria permanecer fechada até 8113.
Porém, a informação referente a conter "memoriais da civilização que existiu nos Estados Unidos e no mundo em geral durante a primeira metade do século XX" não foi bem vista por muitos historiadores.
Segundo o autor William Jarvis, a grande maioria das cápsulas do tempo atuais não tem valor de uma perspectiva histórica. Ele descreve o conteúdo delas como "lixo inútil", por revelarem pouco sobre a sociedade que as criou. Jarvis argumenta que a maioria dos objetos colocados em cápsulas do tempo estão em bom estado, enquanto são itens usados que fornecem mais informações.
Outro problema do conteúdo da cápsula do tempo é que ele é foi curado para refletir apenas os aspectos intelectuais da sociedade — e, nesse caso, de uma sociedade bastante específica: a dos EUA. Com isso, ficam de fora itens que revelem informações importantes sobre outras culturas, outros modos de vida e tradições, além de excluir as experiências das pessoas comuns.
Jarvis acredita que pichações políticas desenterradas em Pompéia — um tipo de cápsula do tempo gigante e não intencional — oferecem informações mais relevantes do que apenas alguns objetos escolhidos por uma pessoa ou por um pequeno grupo de pessoas.
É difícil saber se a cripta (ou a humanidade) irá resistir aos mais de seis mil anos. Além disso, muitos dos itens podem não ter nenhum significado daqui a alguns milhares de anos. Mais difícil ainda é saber como as gerações futuras irão interpretar os objetos colocados ali — no caso dos faraós egípcios, suas tumbas não foram feitas para preservar uma tradição e nem para serem abertas. Porém, independentemente do caso, nós não estaremos mais por aqui para saber qual foi o destino da Cripta da Civilização.