Estilo de vida
24/05/2024 às 09:00•2 min de leituraAtualizado em 24/05/2024 às 09:00
O dilema do bonde é um dos experimentos filosóficos mais conhecidos. Criado pela pensadora Philippa Foot, sua ideia é simples: você comanda um bonde descontrolado que vai matar cinco pessoas, mas você pode apertar um botão e mudar o trajeto do bonde, matando só uma. Então é melhor apertar ou não apertar esse botão?
A princípio, essa parece uma questão fácil de responder — mas ela se torna mais interessante se nós colocamos outros elementos nos trilhos. Um ser humano de um lado e um cachorro de outro: quem você salvaria? E caso o animal nos trilhos fosse uma vaca, você a salvaria no lugar de um ser humano?
Se você é um hindu, essa pergunta tem outro significado, já que a vaca é um animal sagrado para essa religião. Inclusive, esse talvez tenha sido o dilema verdadeiro de um maquinista de trem em Bihar, em 6 de junho de 1981 — no que se tornou o pior desastre ferroviário do país.
Embora as causas do acidente nunca tenham sido plenamente esclarecidas, uma das teorias mais divulgadas é que o maquinista tentou parar o trem para não atingir uma vaca que estava sobre os trilhos. Assim, o trem descarrilou e o acidente resultou em centenas de morte.
Em 6 de junho de 1981, o trem da linha 416 trafegava entre as cidades de Mansi e Saharsa, no estado de Bihar, no norte da Índia. Os trens eram e continuam sendo um dos principais meios de transporte do país, com infraestrutura herdada da época do Raj Britânico.
A infraestrutura antiga é um grande problema do transporte ferroviário indiano, bem como as chuvas de monções, que atingem o país todo ano. Quando o desastre de Bihar aconteceu, os níveis do rio Bagmati já estavam muito acima do normal.
Então, quando o trem 416 passava por uma ponte sobre esse rio, com fortes chuvas, sete dos nove truques (que são como os eixos de um trem) se desprenderam dos trilhos. Com isso, toda a composição e seus passageiros acabaram caindo nas águas do rio Bagmati.
Como o trem afundou, centenas de passageiros foram levados pelas águas. Para piorar, todas as iniciativas de resgate foram atrapalhadas pelas fortes chuvas. Porém, nos dias seguintes, as dimensões do desastre ficaram evidentes, conforme os corpos eram empilhados nas margens do rio Bagmati — e os parentes desesperados, cobravam respostas.
Somente 88 passageiros sobreviveram, segundo matérias do jornal India Today. Ao todo, 235 corpos foram resgatados das águas, mas o real número de mortes provavelmente é bem maior.
Isso porque os passageiros se amontoavam no trem como sardinhas em lata, incluindo famílias que participavam de quatro festas de casamento. Sendo assim, estima-se que algo entre 500 e 800 pessoas morreram no desastre de Bihar. Na época, os jornais estimaram até 2000 mortos.
Logo depois do acidente, o condutor do trem e o bombeiro que lhe acompanhava fugiram do local. Eles se entregaram à polícia só dois dias depois, enquanto o Ministro das Ferrovias dizia que a tragédia tinha sido "enviada por Deus" — ou seja, não tinha uma explicação natural.
Depois de algum tempo, as autoridades justificaram o descarrilamento do trem com um ciclone que o teria atingido repentinamente, enquanto passava pela ponte. Logo alguns sobreviventes contestaram essa versão, afirmando que o trem descarrilou quando o condutor pisou fundo no freio para não atingir uma vaca.
A verdade é que mesmo que essa teoria seja verdade — e o condutor tenha freado para não atropelar uma vaca —, passar por cima dela talvez não tivesse evitado o desastre. Afinal, vacas são animais que podem descarrilar um trem com seu tamanho e peso. Aliás, isso aconteceu na Inglaterra, em 2015. Felizmente, sem nenhum morto ou ferido.