Ciência
20/11/2024 às 20:00•2 min de leituraAtualizado em 20/11/2024 às 20:00
Arqueólogos da Bélgica fizeram uma descoberta impressionante ao investigar um esqueleto antigo, encontrado na década de 1970 em um cemitério romano da cidade de Pommerœul. Esse esqueleto, aparentemente único, revelou-se uma montagem composta por ossos de pelo menos cinco pessoas diferentes, cujas mortes ocorreram em períodos distintos, com até 2.500 anos de intervalo.
Análises de radiocarbono, DNA e a posição dos ossos indicam que essa montagem inusitada pode ter sido criada por motivos rituais ou espirituais, sugerindo que os romanos, ao encontrarem restos neolíticos no local, tenham reorganizado os ossos para recriar um "indivíduo". Mas o que teria levado pessoas tão distantes no tempo a se unirem em um só corpo?
Os primeiros arqueólogos a escavarem o local na década de 1970 suspeitaram que o esqueleto datava da era romana, devido ao estilo do pino de osso achado próximo ao crânio, um objeto típico do período. No entanto, uma análise posterior em 2019 revelou algo surpreendente: enquanto o crânio e o pino datavam da era romana, muitos outros ossos eram ainda mais antigos, remontando ao Neolítico.
Essa diferença temporal lançou uma nova luz sobre a sepultura, levando pesquisadores a questionarem como esses ossos se juntaram em um só "indivíduo" e qual era o propósito dessa composição.
Uma hipótese é que os romanos, ao enterrarem seus mortos, tenham perturbado uma sepultura neolítica e decidido “completar” o esqueleto com um crânio e pino romanos para restaurar sua integridade. Isso faria sentido, já que, para os romanos, a preservação espiritual do falecido era crucial para sua passagem para a vida após a morte.
Outra teoria, contudo, sugere uma motivação ainda mais profunda. De acordo com os pesquisadores, os romanos podem ter conscientemente montado o esqueleto misto como uma maneira de conectar-se aos antigos habitantes da região. Nesse caso, a montagem seria uma forma de reivindicar a terra, demonstrando respeito ou até superstição em relação aos antepassados.
Como explica Barbara Veselka, arqueóloga que liderou o estudo, os romanos, ao formar o esqueleto, podem ter seguido uma prática ritualística, reorganizando cuidadosamente os ossos para simular um corpo humano. Esse cuidado meticuloso, segundo os especialistas, evidencia o conhecimento anatômico e o respeito pelos costumes funerários daquela época.
O fato de o sepultamento estar próximo a um rio também adiciona mais uma camada de significado espiritual à descoberta. Rios eram tradicionalmente vistos como locais sagrados em várias culturas antigas, incluindo a romana.
Ao longo dos séculos, essas regiões eram usadas para práticas religiosas e rituais, reforçando a ideia de que a localização do enterro foi uma escolha intencional e espiritualmente significativa. Os pesquisadores acreditam que o rio tenha sido visto como uma conexão com o mundo espiritual, um ponto de passagem simbólico para os mortos.
Mesmo com esses avanços nas investigações, a montagem do esqueleto continua cercada de mistérios. O uso de ossos neolíticos ao lado de um crânio romano sugere não só uma ligação com práticas espirituais, mas também um possível respeito pelos ancestrais da região.
A presença de artefatos da época romana, como o pino de osso, reafirma que o "indivíduo" composto foi tratado com cuidado e simbolismo, como se os restos ali dispostos pudessem manter, de alguma forma, um elo entre culturas e épocas tão distintas.