Saúde/bem-estar
05/11/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 05/11/2024 às 15:00
Em 29 de agosto de 1954, quando Godzilla, o mais famoso kaiju (monstro gigante) de todos os tempos, foi lançado pela primeira vez no cinema, o Japão vivia um dos momentos mais dolorosos de sua história. Nove anos antes, no mesmo mês de agosto, duas bombas atômicas norte-americanas devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki, matando mais de 220 mil pessoas.
Naquele mesmo ano, em março, o navio Lucky Dragon 5, uma embarcação de pesca japonesa foi atingida pela radiação do teste da primeira bomba de hidrogênio, também americana, na Ilha Bikini. Não por acaso, o Godzilla desperta no filme original devido a esses testes nucleares realizados no Pacífico. Exposto à radiação, o monstro trazia em sua pele texturizadas as cicatrizes queloides dos sobreviventes das bombas.
Só que 20 minutos desses conteúdos sombrios e dolorosos do que era para ser uma poderosa metáfora foram cortados da versão exibida nos cinemas americanos e distribuída para o resto do mundo. De força poderosa, sofrida e vingativa da natureza, aquele Gojira (o God foi invenção americana) se transformou em um monstrinho travesso.
Lógico que, com o passar do tempo, o Godzilla evoluiu junto com o cenário geopolítico. Na década de 1960, ainda “do mal”, Godzilla é liberto de uma geleira e encarado por King Kong. Nos anos 1970, Godzilla se transforma em um cara ligados às causas ambientais, e luta contra Hedorah, um monstro mutante criado pela poluição industrial, que ameaça o Japão e mundo.
Em 1985, Godzilla embarca na onda da Guerra Fria, e ataca um submarino soviético, o que leva o mundo à beira de uma guerra nuclear. Preocupado, o primeiro-ministro japonês revela que foi o monstro, e nãos os EUA, o responsável pelo ataque. As duas superpotências se unem e propõem usar armas nucleares contra Godzilla, mas o Japão recusa e o kaiju vai para dentro de um vulcão.
Ao chegar aos seus setenta anos de vida, podemos dizer que o Godzilla seja talvez o personagem mais estável da história do cinema, conseguindo se metamorfosear para captar as mais variedades ansiedades sociais e culturais em relação às ameaças planetárias. Nesse sentido, ele foi insuperável, um verdadeiro influencer.
No entanto, não conseguiu ainda realizar sua vocação original de metáfora da destruição nuclear, segundo o diretor do recente Godzilla Minus One, Takashi Yamazaki, que também recebeu o Oscar de Melhores Efeitos Visuais neste ano.
O filme leva Godzilla de volta aos anos pós-Segunda Guerra Mundial, onde a população japonesa, desesperada e destruída pela dor, ainda tem que encarar um Godzilla furioso, levando o país a um nível abaixo de zero, isto é, minus one.