Ciência
11/10/2024 às 06:00•2 min de leituraAtualizado em 11/10/2024 às 06:00
Há mais de 5 mil anos, uma grande cidade floresceu no que hoje conhecemos como Marrocos. Esse centro urbano, localizado em Oued Beht, cerca de 100 quilômetros de Rabat, está sendo considerado pelos arqueólogos como a maior cidade da época fora da famosa Bacia do Nilo. E por que essa cidade foi esquecida? Simples: até recentemente, sabíamos muito pouco sobre as civilizações que viveram no norte da África nesse período. Agora, uma nova descoberta está preenchendo essa lacuna.
Pesquisadores liderados pelo professor Cyprian Broodbank, da Universidade de Cambridge, acreditam que Oued Beht não apenas abrigava um dos maiores centros urbanos da África antiga, mas também mantinha relações comerciais com a Península Ibérica e, talvez, influenciasse boa parte do Mediterrâneo. A descoberta está começando a mudar nossa visão sobre o papel das civilizações africanas no mundo antigo.
Mas o que torna Oued Beht tão especial? Além de sua grandeza, os arqueólogos descobriram que essa cidade, por volta de 3000 a.C., era um centro agrícola florescente, comparável a cidades como Troia, durante seu auge na Idade do Bronze. “Essa é atualmente a mais antiga e maior complexidade agrícola da África fora do corredor do Nilo”, explicam os pesquisadores.
Os objetos encontrados ali são impressionantes: cerâmicas decoradas, ferramentas de pedra e poços semelhantes aos da Espanha, usados para armazenar alimentos ou eliminar resíduos. Essa conexão com a Península Ibérica, que já havia dado indícios através de objetos como marfim e ovos de avestruz — importados da África —, agora parece ter sido mais forte do que imaginávamos. Os achados sugerem que havia uma rede de trocas comerciais significativa entre essas duas regiões, e Oued Beht estava no centro disso.
O curioso é que, apesar de sua localização relativamente distante do Mediterrâneo — a cidade está no interior do Marrocos e exigiria a travessia das montanhas do Atlas para alcançar o mar — Oued Beht parece ter tido ligações comerciais importantes com o outro lado do Estreito de Gibraltar. Isso levanta a possibilidade de que a civilização tenha desenvolvido embarcações capazes de navegar no Atlântico e alcançar a Europa.
Além das cerâmicas e ferramentas, as escavações revelaram restos de paredes de pedra e mais de mil machados. Os pesquisadores também encontraram sinais de animais domesticados, como cabras, ovelhas, gado e porcos, o que mostra que a agricultura e a pecuária já eram bem desenvolvidas. E mesmo sem a presença de ferramentas de colheita, os grandes moinhos de pedra encontrados indicam que eles cultivavam cereais.
Tudo isso aponta para uma cidade altamente organizada e conectada com o mundo ao seu redor. “É crucial considerarmos Oued Beht dentro de um quadro maior de conexões entre os povos de ambos os lados do Mediterrâneo”, dizem os autores do estudo. Afinal, essa cidade africana pode ter sido uma peça fundamental no desenvolvimento das primeiras civilizações mediterrâneas, e sua redescoberta está ajudando a reescrever nossa compreensão da história antiga.