Ciência
16/05/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 16/05/2024 às 12:00
Talvez o nome de Eadweard Muybridge seja estranho para você, mas boa parte do entretenimento que você consome dependeu de suas iniciativas criativas. Isso porque Muybridge foi um fotógrafo inglês reconhecido por seu trabalho pioneiro em estudos fotográficos de movimento e na projeção de filmes.
Em outras palavras, foi ele que criou a imagem em movimento, o princípio que levaria depois ao desenvolvimento do cinema. Sua invenção envolveu dispositivos que foram pioneiros na projeção da locomoção de animais e seres humanos – que, curiosamente, estavam nus nessas imagens.
Nascido em 1830 e falecido em 1904, Eadweard Muybridge foi o homem que trouxe ao mundo a imagem em movimento. Mas, além dessa invenção incrível, ele mesmo foi uma figura notável, com uma história de vida um tanto bizarra. Para começar, ele matou o amante da própria esposa, e foi absolvido em um júri polêmico, sob o argumento de que se tratava de um "homicídio justificável". Além disso, Muybridge promoveu a primeira exibição de cinema comercial do mundo.
Outra coisa bastante curiosa foi que Muybridge foi também elaborando pequenas fotos para ajudar a compreender o movimento humano. Só que, quase sempre, as pessoas eram retratadas totalmente nuas. Os títulos desses vídeos precários são, no mínimo, sugestivos: entre eles, estão “uma mulher nua alimentando um cachorro”, “um homem nu jogando boliche”, “uma mulher obesa saindo do chão”, “uma mulher nua no chão com convulsões induzidas artificialmente”, “duas mulheres se beijando”.
Seu interesse pelas imagens foi se desenvolvendo com o tempo. Após migrar da Inglaterra para os Estados Unidos, ele foi enviado pelo governo americano para fotografar o recém-adquirido estado do Alasca e os faróis do país. Seu trabalho acabou chamando a atenção do ex-governador da Califórnia, Leland Stanford, que o contratou para ir em sua fazenda e estudar o movimento dos cavalos de corrida.
As fotos criadas por Muybridge se tornariam icônicas, e mostrariam várias coisas que até então eram desconhecidas sobre esses animais. Ao mesmo tempo, o fotógrafo acabou ficando sabendo que sua esposa, Flora, estava tendo um caso com um soldado. Após localizar o amante, ele o matou com um tiro à queima-roupa. Foi preso, julgado e foi absolvido pelo crime.
Logo mais, Eadweard Muybridge criou uma máquina chamada “zoopraxiscópio”, que foi usada para exibir suas fotos ao público, criando a primeira sessão de cinema da qual se tem conhecimento. Mas, em boa parte desses filmes, as pessoas foram fotografadas nuas.
Várias vezes ele foi questionado por tirar as fotos dessa forma. Ele justificou assim: "eu tiro as roupas não para ver a carne, mas para ver melhor o movimento. Se eu fosse capaz, arrancaria também a carne para ver o músculo, depois arrancaria o músculo para ver o osso, e até jogaria fora o próprio esqueleto se isso pudesse me proporcionar a oportunidade de ver a essência livre de uma ação".
As pessoas que eram fotografadas por Muybridge não eram modelos profissionais. Ele usava apenas cidadãos locais ou estudantes universitários, e os fotografava em cenários montados contra uma grade para conseguir observar melhor seus corpos.
Ainda assim, muita gente se escandalizou por conta das fotos serem de pessoas nuas. Em um ensaio, o pesquisador de cinema Anthony Slide escreveu: “pode ser fácil considerar ultrajante a sugestão de que Muybridge estava ciente de quaisquer elementos sexuais evidentes nas suas experiências. Muybridge se divertiu com seus nus; os nus masculinos talvez fossem mais atraentes para seu amigo e supervisor, o grande pintor americano Thomas Eakins”.
A referência é porque o pintor, que auxiliava Muybridge, tinha a seguinte filosofia: para pintar um nu, você deve estar disposto a ficar nu. Hoje devemos a todos esses sujeitos – Eadweard Muybridge, Thomas Eakins e todos os modelos – a contribuição inicial para a criação do cinema.