'Zona de interesse': a história real por trás da figura de Rudolf Höss

04/03/2024 às 15:003 min de leituraAtualizado em 04/03/2024 às 15:55

Para as famílias alemãs tradicionais, a vida na Europa Central, mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, parecia um sonho. Em sua biografia, o patriarca da família Rudolf Höss descreveu como sua esposa e filhos tiveram todos os desejos concedidos pelo governo durante essa época. Os cinco filhos de Höss, por exemplo, brincavam com tartarugas, gatos e lagartos em sua moradia perto da Cracóvia.

Porém, essa vida perfeita mascavara uma verdade sombria: Rudolf era o oficial nazista encarregado por Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio onde os comandados de Adolf Hitler mataram cerca de 1,1 milhão de pessoas — sendo a maioria delas judeus. O filme candidato ao Oscar Zona de interesse (2023), de Jonathan Glazer, imagina a vida cotidiana da família se aventurando pelas fronteiras da vila até reconhecer a realidade que escondiam. Mas como a história real aconteceu?

A vida real de Rudolf Höss

(Fonte: Wikimedia Commons) (Fonte: Wikimedia Commons)

Ao contrário de outros filmes importantes sobre o Holocausto, Zona de Interesse nunca retrata explicitamente os horrores cometidos pelos nazistas. Em vez disso, o filme trabalha com o poder da sugestão, mostrando breves vislumbres das chaminés dos crematórios e uma trilha sonora marcante. Porém, o longa-metragem também se desvia muito do seu material original, um romance feito por Martin Amis em 2014 com mesmo nome.

No livro, um oficial nazista se apaixona pela esposa do comandante de Auschwitz, que é vagamente baseado em Rudolf Höss, mas não carrega seu nome. E a história real vai mais além. Nascido na Alemanha em 1900, Höss lutou na Primeira Guerra Mundial antes de ingressar em um grupo paramilitar nacionalista. Em 1922, tornou-se um dos primeiros seguidores de Adolf Hitler e logo juntou-se ao Partido Nazista. 

No ano seguinte, Rudolf e vários cúmplices assassinaram um professor que traiu um colega soldado aos franceses. Ele foi condenado a dez anos de prisão, mas acabou sendo liberto em 1928 sob anistia geral. Entre 1934 e 1940, Höss trabalhou nos campos de concentração de Dachau e Sachsenhausen que, na época, abrigavam principalmente presos políticos. Foi a partir dali que sua jornada de terror foi iniciada.

Ascenção militar

(Fonte: GettyImages) (Fonte: GettyImages)

Tendo seu trabalho reconhecido no passado, Höss foi nomeado comandante do recém-criado Auschwitz. Nessa função, ele transformou o campo no principal centro de extermínio dos nazistas, optando pelo Zyklon B como método mais eficiente de gaseamento. Inclusive, ele mesmo teria dito que essa era a melhor forma de poupas os soldados do peso de "executar múltiplas vítimas, especialmente por causa das mulheres e crianças entre elas".

De acordo com historiadores, Höss não era apenas um mero fantoche de Hitler, mas criou suas próprias formas inovadoras e organizadas de matar. No auge do seu campo de concentração, as câmaras de gás de Auschwitz eram capazes de assassinar 2 mil pessoas por hora. Sua família, por sua vez, morava em uma vila administrada pelas forças nazistas ao redor do campo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, 9 mil habitantes locais foram expulsos da área para impedir que eles testemunhassem as atrocidades e isolando os prisioneiros do resto do mundo. Contudo, o comandante também teve o "cuidado" de esconder dos filhos a chaminé do crematório, erguendo um muro no jardim e plantando árvores que obstruíam a visão da casa.

O fim da família Höss

(Fonte: Wikimedia Commons) (Fonte: Wikimedia Commons)

Em sua autobiografia, Rudolf Höss afirmou que sua esposa Edwiges não tinha conhecimento dos assassinatos ocorridos em Auschwitz. Porém, evidências sugerem o contrário. Os Höss viviam uma vida de luxo, empregando prisioneiros de campos como trabalhadores forçados e apreendendo itens confiscados dos mortos. Além disso, tanto Edwiges como Rudolf eram profundamente antissemitas. 

Tal como no filme, Rudolf foi transferido para Berlim no final de 1943, com a tarefa de supervisionar as operações em todos os campos de concentração, enquanto sua família permaneceu em Auschwitz. Perto do fim da guerra, os Höss se esconderam no norte da Alemanha, na esperança de poder fugir para a América do Sul — onde muitos nazistas procuraram refúgio.

No entanto, todos acabaram sendo capturados em 1946. Após sua captura, Rudolf testemunhou nos julgamentos de Nuremberg, fornecendo detalhes sobre Auschwitz e seu papel nos assassinatos. Sua autobiografia foi escrita enquanto ele esperava sua execução, que aconteceu em 16 de abril de 1947 dentro do campo de extermínio onde cometeu seus crimes. O restante da família ficou na Alemanha, preferindo esconder sua ligação com o infame nazista e minimizar seus crimes.

NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: