Qual o segredo das “magras de ruim”?

14/06/2012 às 08:585 min de leitura

Fonte: Thinkstock

Você já deve ter escutado alguém dizer que uma amiga é “magra de ruim”. Em geral, essa é uma das expressões usadas para definir aquelas pessoas que comem de tudo – do hambúrguer ao brigadeiro – sem engordar um grama. Enquanto isso, você resiste às tentações dos restaurantes e sua a camisa na academia para compensar as refeições gordurosas.

A curiosidade a respeito do segredo dessas pessoas para continuarem magras, independente do número de calorias que consomem, saiu do senso comum faz tempo para virar tema de pesquisas em universidades do mundo todo. A boa notícia é que já foram descobertos vários fatores que influenciam o organismo desses poucos sortudos.

Alguns especialistas apostam no metabolismo. Eles defendem que essas pessoas queimam mais calorias do que a média para manter o corpo funcionando, ou seja, para respirar, garantir o funcionamento dos órgãos e pensar, o que possibilita comer uma quantidade maior de alimentos.

Outros pesquisadores, no entanto, defendem a influência dos genes como determinantes para esse perfil. Assim, a genética teria de 40% a 70% de participação na definição do gasto calórico. Em resumo, o corpo já nasceria programado para gastar mais calorias ao realizar cada atividade.

Um exemplo desse contexto é um estudo publicado recentemente na revista Nature. De acordo com ele, existem certos genes associados ao acúmulo de gordura (ou reserva de energia), como o FTO. Assim, quem nasce com ele em sua composição genética será uma “magra de ruim”.

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O endocrinologista André Daher Vianna, do Centro de Diabetes de Curitiba, explica que a genética realmente tem um papel fundamental para esses sortudos. “Devido a mecanismos predominantemente genéticos, existem pessoas que apresentam uma dificuldade maior para fazer depósitos de energia. Os organismos consomem praticamente toda a energia que é ingerida e acumulam muito pouco na forma de gordura. Chamamos esses casos de ‘magreza constitucional’, que difere daqueles casos em que a magreza se deve a algum tipo de doença ou à constituição”, explica ele.

Em resumo, a associação de genes favoráveis e metabolismo acelerado faz com que esses pacientes possam comer de tudo, mantendo a silhueta em ordem. Em contrapartida, o funcionamento oposto do organismo é o mais comum. Ou seja, não fique triste por engordar ao se entregar a uma panela de brigadeiro, pois você faz parte da maioria. Segundo Vianna, os organismos dos “gordinhos” tendem a depositar energia em forma de gordura, como se fossem mais preparados para períodos de escassez de alimentos.

E é fácil entender por que esse tipo de metabolismo é o mais comum. Os “magros de ruim” são minoria porque a seleção natural favoreceu o oposto, já que apenas aqueles com capacidade de armazenar energia conseguiram resistir aos grandes períodos de fome enfrentados pela humanidade no passado. “Acontece que no mundo moderno essa escassez não existe e o organismo dessas pessoas tende a acumular cada vez mais energia em forma de gordura”, alerta o endocrinologista. Assim, não tem jeito: para evitar que cada vez mais pneuzinhos se formem, é preciso esgotar as reservas na academia.

Há, porém, pesquisadores que defendem que a genética não é tudo. Segundo eles, o percentual de massa muscular presente no corpo também influencia no gasto calórico. Em resumo, quem possui mais músculos no corpo gasta mais energia, já que estudos recentes apontam que um quilo de massa magra gasta 80 calorias por dia apenas para sobreviver. Em contrapartida, um quilo de gordura precisa de somente 5 calorias para se manter em funcionamento.

Nesse contexto, a idade do “magro de ruim” também influencia no peso. Isso porque, com o passar dos anos, o corpo perde massa muscular, o que significa que o gasto calórico do organismo vai diminuir. Em resumo, o metabolismo dessas pessoas também tende a desacelerar com a chegada da velhice, mas sem que isso represente que ele necessariamente poderá engordar.

Confira alguns estudos feitos nos últimos anos sobre o tema e desvende os segredos desses sortudos.

Fonte: ThinkstockMais sobre a influência da genética

O mistério sobre o motivo de algumas pessoas poderem comer o que quiserem sem engordar intriga pesquisadores há décadas. Um dos primeiros estudos na área é de 1967, quando o médico Etham Sims propôs um experimento inusitado na prisão de Vermont (Estados Unidos).

Conforme descreve a BBC News Magazine, ele recrutou um grupo de prisioneiros para comer o quanto aguentassem com o objetivo de aumentar em 25% o seu peso corporal. Em troca, eles teriam a redução da pena.

O fato surpreendente é que alguns dos voluntários não conseguiram alcançar o objetivo, mesmo tendo consumido mais de 10 mil calorias em um dia. Assim, o pesquisador concluiu que, para algumas pessoas, a obesidade seria impossível.

Com base nesse estudo, o programa Horizon, do canal de TV BBC, resolveu repetir a experiência em 2009. Para tanto, foram selecionados 10 voluntários, todos magros sem nunca precisar recorrer à dieta. Eles deveriam passar 10 semanas consumindo uma dieta entre 3.500 e 5 mil calorias, para mulheres e homens, respectivamente.

Nas refeições, estava liberado abusar de pizza, salgadinhos, sorvete e chocolate. Além disso, eles não poderiam praticar exercício físico, sendo que os participantes deveriam caminhar o mínimo possível.

De acordo com as informações da BBC, o estudo teve a supervisão do especialista da Columbia University (Nova York), Rudy Lebel, que acredita que todos nós somos biologicamente determinados a manter um determinado peso, independente se ele é considerado excessivo. Assim, o corpo faz esforços para mantê-lo, o que também justificaria o funcionamento do organismo dos “magros de ruim”, que teriam um baixo peso pré-determinado.

Em entrevista à revista, ele também chamou a atenção para o fato de que há outros fatores que influenciam no peso de um indivíduo. Metade da influência viria dos genes e o restante seria determinado pelo ambiente.

Para o professor, a pesquisa demonstrou, além da impossibilidade do excesso do peso desse tipo de metabolismo, os diferentes comportamentos que as pessoas podem ter diante de uma dieta altamente calórica. Isso porque alguns voluntários sofreram com a falta de exercícios, enquanto outros nem sequer conseguiam cumprir a cota diária de calorias, vomitando após as refeições.

Ao fim do período de experimento, os voluntários conquistaram entre 3,5 e 5,5 quilos, sendo que entre aqueles que não conseguiram cumprir o desafio, um ganhou apenas meio quilo, enquanto o outro chegou a emagrecer.

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A influência da leptina

Um grupo de pesquisadores da Universidade de Saúde e Ciência de Oregan detectou nos últimos anos outro fator biológico que pode favorecer que o corpo se mantenha magro. Conforme divulgou o jornal The Telegraph, o segredo estaria na leptina, um hormônio proteico que informa ao organismo o quanto ele possui de gordura.

Nas pessoas com pouca propensão a engordar, o nível do hormônio no corpo estava normal, enquanto em outra região do sistema nervoso havia níveis muito baixos do peptídeo SOCS-3. Em contrapartida, indivíduos com tendência para a obesidade possuíam poucos receptores para a leptina e altas concentrações de SOCS-3.

A partir disso, os pesquisadores puderam concluir que essa substância cria uma resistência do corpo à leptina. O resultado é que o cérebro não consegue identificar a quantidade de gordura real existente no corpo, passando a armazenar gordura excessivamente.

Assim, a partir da pesquisa, foi identificada a necessidade de combater os altos níveis de SOCS-3, que seriam um dos segredos dos magros de ruim. Em resumo, se o nível dessa substância estiver baixo no seu corpo, a chance de você engordar vai diminuir.

Vale ressaltar que ainda não existem tratamentos específicos para esse fator disponíveis por enquanto.

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A influência das enzimas

O segredo das “magras de ruim” também pode estar na enzima que controla qual a finalidade da gordura ingerida. É isso que sugere uma pesquisa da Universidade da Califórnia, finalizada em 2009.

Conforme divulgou o Daily Mail, os pesquisadores localizaram uma enzima chamada de MGAT2, presente em humanos e camundongos. Ao longo do estudo, eles descobriram que os ratos que não possuíam a substância eram capazes de consumir muito mais calorias do que os demais, sem engordar.

Isso seria possível porque a gordura que eles consumiam era queimada como fonte de energia, em vez de ser armazenada no tecido adiposo. Além dos benefícios para a boa forma, os animais favorecidos processavam melhor o açúcar, eliminando o risco do surgimento de diabetes, além de ter baixos níveis de colesterol no sangue.

Para os pesquisadores, a possibilidade de cortar a atividade da MGAT2 por meio de medicamentos adequados deve ser uma solução para o futuro para diminuir não apenas o índice de obesidade, mas também para combater doenças crônicas. Por hora, resta esperar que testes comprovem a eficácia do método.

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Não sou “magra de ruim”. E agora?

Ao conhecer essas pesquisas, é possível notar que ser “magra ruim” depende de uma combinação favorável de fatores que são determinados mesmo antes de você nascer.

Porém, vale ressaltar que os benefícios desse tipo de organismo são amplos, mas é preciso não descuidar da saúde. O endocrinologista André Vianna ressalta que as pessoas que acumulam menos gordura têm menor risco de desenvolver doenças metabólicas como hipertensão, colesterol e diabetes. No entanto, quem sabe dessa condição acaba abusando da sorte e se esquecendo de cuidados básicos.

“Uma alimentação rica em açúcares, gorduras e calorias, além do sedentarismo, pode fazer com que esses magros acumulem uma gordura que é extremamente prejudicial. Trata-se da gordura visceral, que se concentra principalmente no abdome. Nos magros, mesmo uma pequena quantidade desse tipo de gordura pode favorecer o aparecimento de doenças”, explica ele.

E, se você não faz parte do seleto grupo daquelas que comem de tudo e não engordam, não se preocupe. Vianna aconselha uma maneira simples de acelerar o metabolismo, para que ele gaste mais calorias. “Recomenda-se comer mais vezes ao dia, incluindo lanches saudáveis e de baixo valor calórico entre as refeições. Isso pode ajudar a acelerar o gasto energético”, finaliza.

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