Ciência
24/01/2019 às 08:00•3 min de leitura
Adornos de ouro, diamantes ou os dois combinados são utilizados desde a Antiguidade como símbolos de status e riqueza. Porém, em um duelo de raridade, qual dos dois seria mais difícil de se encontrar? Ambos podem ser reproduzidos em laboratório, mas será que isso afetou o valor ou status deles? Veja abaixo as condições de formação de cada um, com suas características específicas.
O metal é um dos mais raros elementos encontrados no planeta Terra. Sempre muito valorizado, sua origem ocorreu após a colisão de estrelas de nêutrons, segundo Ulrich Faul, cientista e professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Após o acontecimento, enquanto a Terra se formava, os elementos mais pesados, como o ouro, se depositaram no centro, restando pouco material próximo à superfície.
"É possível encontrar ouro em inúmeros locais, mas sempre em baixíssimas concentrações, o que inviabiliza sua mineração", afirmou Yana Fedortchouk, professora de Ciências da Terra e codiretora do Laboratório de Pesquisa Geológica Experimental de Alta Pressão da Universidade Dalhousie, em Halifax, no Canadá.
Segundo dados fornecidos pela pesquisadora, a concentração média de ouro na crosta terrestre é de 4 partes por bilhão, ou seja, baixíssima. Como comparação, para que determinado local seja considerado viável economicamente à mineração, precisa apresentar pelo menos 5 mil partes por bilhão.
Desde a Antiguidade, cientistas tentam encontrar a fórmula mágica para produzir ouro em laboratório — estão incluídos nessa lista algumas figuras históricas, como Isaac Newton, Roger Bacon e Robert Boyle. Glenn T. Seaborg, em 1980, conseguiu elaborar o tão desejado metal de forma artificial, mas o custo da produção se mostrou tão alto que o experimento se limitou à demonstração dessa possibilidade.
Sem a necessidade de eventos astronômicos de grandes proporções, os diamantes são basicamente carbono, que conhecemos bem como o grafite de nosso lápis, altamente pressurizado. A concentração média do material na crosta terrestre é de 200 mil partes por bilhão, de acordo com o geólogo William Fyfe — muito mais do que o necessário para um local ser considerado uma mina de ouro. Mesmo assim, sua valorização ocorre mais pela dificuldade em sua mineração do que propriamente pela concentração.
"Diamantes só podem ser produzidos no manto da Terra e precisam, de alguma maneira, ser trazidos à superfície, mas podem também ser formados durante o impacto de meteoritos", disse Fedortchouk, mas o material dificilmente é uma gema valiosa. Ela ainda complementa: "Os diamantes que surgem no fundo do manto da Terra podem ser trazidos pelo magma ou durante a lenta elevação das rochas profundas, nos processos de crescimento das montanhas. O problema é que, durante esse processo, os diamantes se transformam em grafite e nunca aparecem como pedras preciosas".
Diferente do ouro, diamantes podem ser produzidos em laboratório de maneira relativamente fácil, mas as condições de produção natural são um tanto quanto extremas.
Sua formação exige a presença de carbono a 150 quilômetros de profundidade, que precisa ser aquecido a 1204 °C enquanto sofre uma pressão de 5000 MPa (o concreto convencional possui resistência de 25 MPa). Após esse processo, é necessário que o recém-formado diamante seja trazido rapidamente até a superfície por uma erupção vulcânica, para que seja resfriado e mantenha as propriedades adquiridas.
Quando consideramos todo esse complexo processo, as gemas de diamantes mineráveis precisam de muito mais esforço para serem encontradas. A questão se inverte quando é levada em conta somente a forma elementar do material, onde o ouro ainda se mostra mais raro.
Outra importante questão é que, ao contrário do ouro, diamantes conseguem ser produzidos em laboratório de forma economicamente viável. Mesmo assim, as pedras sintéticas não são tão valorizadas — o valor se mantém 30% menor do que o cobrado por pedras naturais.
Segundo Faul, essa questão torna a utilização desse tipo de pedra muito mais comum, pois “os diamantes, abaixo de um certo tamanho, não valem a mineração. Quem quer comprar um diamante que precisa de uma lupa para ser observado?”. Ele ainda complementa, dizendo que “o ouro é mais abundante do que os grandes diamantes, mas os diamantes como uma classe de material não são particularmente raros. Acho que parte da sua reputação tem a ver com relações públicas surpreendentes”.
Cada uma com suas peculiaridades e raridades específicas, tanto ouro quanto diamantes vão continuar significando status e riqueza para quem utiliza adornos produzidos com eles.
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