Ciência
07/06/2019 às 10:01•3 min de leitura
Sua história tornou-se mais popular com o filme “O Jogo da Imitação”, com Benedict Cumberbatch, em 2014. Antes disso, limitava-se aos nichos profissionais e de entusiastas de tecnologia. Uma injustiça para uma pessoa “presente” em todas as nossas instituições, escritórios, lares e até em nossos bolsos: sem Alan Turing, o “Pai da Computação”, talvez estivéssemos ainda em um patamar bem mais atrasado.
O dia 7 de junho de 1954 é especial porque nessa data morria o homem que evitou a morte de milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial. Sua despedida precoce, resultado de uma perseguição cruel, é então sempre lembrada, ainda mais hoje, quando esse marco histórico completa 65 anos.
Turing nasceu em Londres, em 23 de junho de 1912, onde teve uma infância distante dos pais, com o irmão mais velho e um casal de aposentados, que cuidava das crianças. Ele sempre alimentou interesse por criptografia e, já saindo da adolescência, em 1930, criaria o que hoje podemos considerar o primeiro projeto de um computador e de inteligência artificial (IA).
Aos 24 anos, após se formar em matemática pela Universidade de Cambridge, Turing projetou uma máquina capaz de manipular, automaticamente, símbolos em um sistema de regras próprias. A partir daí, foi possível criar um esquema capaz de processar códigos em torno de conjuntos cognitivos. Isso o tornou famoso e, em 1938, o franzino, tímido, genial e excêntrico — muitas vezes arrogante — o rapaz integrou o GC&CS, o escritório de decodificação de mensagens da Inteligência Britânica.
Códigos eram encriptados na época de maneira bem semelhante como acontece atualmente no WhatsApp ou em transações bancárias
A equipe que passou a comandar (e incomodar, já que ele era uma pessoa de difícil convívio, segundo os relatos) tinha como missão decodificar o Enigma, uma máquina de escrever alemã com rotores, que mudavam seus códigos diariamente — algo muito semelhante com o que usamos no WhatsApp ou em transações bancárias atualmente. Ela servia justamente para embaralhar as mensagens trocadas entre as tropas de Hitler.
Fonte: Revista Galileu
A revelação desse segredo poderia ajudar os militares a interceptar as mensagens encriptadas que os alemães trocavam durante a Segunda Guerra Mundial. A única maneira de decifrar esse mistério era usando a mesma chave de encriptação original, que era trocada mensalmente, pois os rotores eram capazes de formular milhares de combinações — e ninguém tinha ameaçado trazer à tona esse conteúdo até então.
Turing descobriu como decifrar a Máquina Enigma usando uma técnica eletromecânica chamada de “bombas”: mecanismos que permitiam várias análises simultâneas de textos, na velocidade semelhante aos humanos. Com isso em mãos, em 1942, os ingleses conseguiam ler 50 mil mensagens por mês, uma por minuto. Assim, conseguiram desvendar os passos da investida nazista, incluindo onde estavam seus submarinos e até mesmo onde eles atacariam no Dia D.
Na sequência, a história que todos conhecemos é que a Inglaterra conseguiu resistir a Hitler e responder na campanha que derrotou os alemães. Quando o conflito acabou, Turing foi para o Laboratório Nacional de Física e ficou no anonimato, já que tanto sua identidade quanto todos os projetos em que trabalhou para a Inteligência Britânica foram mantidos em segredo durante décadas.
Ainda assim, em 1950 desenvolveu o chamado “Teste de Turing”, usado até hoje para identificar IA: se em uma conversa textual em tempo real entre um humano e uma máquina não há como discernir quem é quem em determinado período, o sistema pode ser considerado um autômato inteligente.
Ser gay era considerado crime na Grã-Bretanha até o final dos anos 60
Mesmo com essa descoberta incrível, o cientista não poderia ter sido “punido” da pior forma, por pura ignorância, medo e violência: ele era gay e isso era crime na Grã-Bretanha até 1967. Por conta disso, no início dos anos 50, foi condenado e humilhado em público, impedido de levar à frente os estudos sobre computação, e recebeu injeções de hormônios femininos em uma “castração” química.
Fonte: WikiMedia Creative Commons/John Callas
Transtornado com as alterações de seu corpo e com a vida que mantinha depois de ser afastado de tudo o que mais amava, comeu uma maçã envenenada e morreu em seguida, aos 41 anos. Mas, se depender da gente, sempre será lembrado por ser o “Pai da Computação” e ter contribuído não somente para a evolução da tecnologia, como também da humanidade.
Há 65 anos morria Alan Turing, o “Pai da Computação” e da IA via TecMundo