Estilo de vida
15/06/2020 às 04:39•3 min de leitura
Desde o início da pandemia de covid-19, a lista de sintomas e estragos causados pelo Sars-CoV-19 só aumenta, e já incluem desde insuficiência renal aguda a lesão de órgãos e catastróficos coágulos sanguíneos – o novo vírus ataca não apenas os pulmões, mas também vasos sanguíneos.
A descoberta foi feita pelo cardiologista Frank Ruschitzka, chefe de departamento no Hospital Universitário de Zurique, Suíça. A autópsia de infectados mostrou pequenos coágulos e células mortas espalhados pelos capilares dos pulmões; os vasos sanguíneos que levam sangue ao restante do corpo estavam distendidos pela inflamação generalizada.
Esse ataque ao sistema vascular seria uma segunda etapa na evolução da doença, uma semana depois de o paciente ser internado.
Os relatos vão desde um aumento em até nove vezes no surgimento de coágulos (em relação a casos de gripe H1N1) a derrames em jovens saudáveis. Isso explicaria por que obesos, diabéticos e doentes cardíacos são pacientes considerados de risco: as células que revestem seus vasos sanguíneos já estão comprometidas.
Segundo Peter Carmeliet, biólogo vascular do instituto de pesquisa belga VIB e coautor de um artigo na Nature Reviews Immunology, “a chave é o dano às células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos, principalmente nos pulmões”.
Células imunes se aglomeram em um alvéolo inflamado, cujas paredes se rompem durante o ataque do vírus, diminuindo a captação de oxigênio dos pulmões.
Nos pulmões, o ataque é brutal. O Sars-CoV-19 invade as células dos alvéolos; algumas cometem suicídio antes mesmo da reprodução do vírus em seu interior. “A morte das células não é tranquila; todo o seu conteúdo vaza para o exterior”, disse à Science Magazine o médico intensivista pulmonar do Hospital da Universidade da Pensilvânia, Nilam Mangalmurti.
As células endoteliais danificadas nos vasos sanguíneos avisam outras do ataque, e esse alerta desencadeia vazamentos vasculares, que inundam os alvéolos com fluido (característica da síndrome do desconforto respiratório agudo, ou SDRA).
O vírus ataca as células endoteliais que revestem os vasos sanguíneos ao redor dos alvéolos. Elas então vertem fluidos para dentro dos pulmões, desencadeiam coagulação e convocam células imunes, causando inflamação generalizada.
Os glóbulos brancos migram em massa para os pulmões, e as células endoteliais e imunológicas aglutinam ainda mais fatores de coagulação e plaquetas. Mais coágulos se formam.
Estes acabam por bloquear o suprimento de sangue para todos os órgãos vitais. O corpo, tentando reagir ao invasor, desencadeia um processo final de inflamação, inundando os tecidos com células de ataque. Nesse ponto, a reação à covid-19 está fora de controle, e o paciente entra em choque. “Todo o processo é um ciclo vicioso”, disse Mangalmurti.
O vírus entra nas células endoteliais dos vasos sanguíneos; a consequente infecção pode provocar de coágulos sanguíneos a ataques cardíacos.
Fica pior. "É razoável supor que o vírus chegue até o cérebro", disse o neuroimunologista Avindra Nath ao site francês TrustMyScience. Desmaios, convulsões e derrames são alguns dos sintomas neurológicos mais graves relatados, além de perda de olfato e de paladar, dores de cabeça e tontura. Alguns pacientes desenvolveram encefalite, uma inflamação no cérebro potencialmente fatal.
Imagem do cérebro de uma mulher infectada que desenvolveu encefalite, com danos aos tecidos do cérebro (setas).
"Temos visto cada vez mais infectados vítimas de AVCs, lesões e sangramento no cérebro. Isso explicaria por que alguns pacientes, depois de entrarem em suporte de vida, apresentam sinais de danos cerebrais sérios ao ponto de a chance de acordarem parecer extremamente baixa", explicou ao TrustMyScience a neurologista vascular intensiva Jenifer Frontera.
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