Atlantropa: o supercontinente que juntaria África e Europa

16/07/2020 às 13:003 min de leitura

Nos anos 1920, o arquiteto alemão Herman Sörgel desenvolveu um plano no qual acreditava ter a resposta para os fins dos conflitos no planeta Terra: a criação do supercontinente "Atlantropa". A ideia mirabolante uniria África e Europa em uma tentativa de aumentar o território habitacional humano.

Naquela época, o mundo encontrava-se devastado e ainda tentando se resgatar dos destroços deixados pela Primeira Guerra Mundial. Sörgel, então, avistou a possibilidade de desenvolver um plano que fosse capaz de atenuar os conflitos políticos que se espalhavam pelos continentes e trazer paz para todos.

Por mais absurdo que pareça, o planejamento criado pelo alemão foi levado a sério por instituições públicas até meados de 1950, quando o projeto perdeu forças. Sörgel acreditava que a existência de mais terra fértil para plantações seria suficiente para acabar com o caos humano.

A Panropa de Herman Sörgel

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Antes de chegar no nome Atlantropa, o projeto nasceu com o batismo de "Panropa". Aos 42 anos de idade, Sörgel se inspirava em construções como o Canal de Suez — uma via navegável artificial que liga o Mediterrâneo ao Mar Vermelho —  para basear sua criatividade.

E como funcionária a elaboração do supercontinente? A comunidade internacional construiria barragens em diversas regiões da área, como no Estreito de Gibraltar e no Estreito do Silício, que formariam uma enorme estrada conectiva entre a Europa e a África.

Na visão de Sörgel, a construção abriria espaço para mais de 660 mil km² de terra fresca e pronta para a plantação, que usariam da energia hidrelétrica gerada pelas novas represas para fornecer eletricidade para mais de 250 milhões de pessoas todos os dias.

Com espaço, energia e irrigação abundante, o supercontinente estaria preparado para gerar uma quantidade de alimentos infinita para toda a população. Por consequência, os conflitos e disputas territoriais ao redor da Terra chegariam ao fim.

A fundamentação da Atlantropa e a divulgação em massa da ideia

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

A obra de Herman Sörgel surge de um conceito alemão chamado de Lebensraum (em português, Espaço Vivo). O conceito, que posteriormente faria base da ideologia Nazista, acreditava que a característica principal para a prosperidade de um povo seria a abundância territorial.

Na visão de diversos europeus daquela época, o espaço existente naquele momento dentro do continente seria insuficiente para atingir as demandas da população. E, assim, a ideia foi ganhando força.

Em 1929, Sörgel lançou o livro Abaixando o Mediterrâneo, Irrigando o Saara: o projeto Panpora. Não demorou muito para que a "solução universal" começasse a se espalhar pela Europa e também pela América do Norte. 

O conceito parecia cada vez mais palpável depois que projetos arquitetônicos como a inundação do Tennessee Valley e a construção da Barragem Hoover tiveram sucesso na década de 1930. 

Posteriormente, o projeto também daria palco para a criação de filmes e romances inspirados pelo plano mirabolante e alcançaria os grande holofotes da mídia mundial.

Racismo e nazismo: o lado sombrio de Sörgel

(Fonte: Wikimedia Commons)(Fonte: Wikimedia Commons)

Engana-se quem acredita que Herman Sörgel era um ser humano de caráter ímpar dentro da sociedade nazista alemã. Ao contrário de seus compatriotas, seus problemas não eram com os judeus, mas sim com as populações africanas e asiáticas.

O projeto Atlantropa tinha uma boa quantidade de racismo enraizado em sua concepção. O plano de Sörgel era simples: as barragens impediriam que as religiões asiáticas encontrassem seus caminhos dentro do novo supercontinente e a soberania europeia poderia continuar a reinar.

Além disso, a criação de barragens automaticamente significaria que a água escoada teria que inundar outras regiões. Não somente o Saara seria irrigado, mas também regiões da África Central — onde milhões de pessoas residiam — seriam destruídas e, com elas, milhares de vidas seriam levadas.

Para Sörgel isso pouco importava. Na Atlantropa, os europeus brancos seguiriam como a raça dominante e usariam da mão de obra escrava africana para desenvolver o supercontinente.

Falta de apoio do partido nazista e fim do projeto

Ganhando força dentro da Alemanha, o partido nazista já tinha grande poder dentro das decisões políticas no país. Sörgel levou seu projeto até a alta cúpula nazista e viu seu sonho ser rechaçado. Ao focar na África Central, o arquiteto não conquistou o interesse de Adolf Hitler, focado em acabar com as forças soviéticas.

Sem apoio político e financeiro, Sörgel viu seu sonho ficar cada vez mais distante. A Segunda Guerra trouxe a criação das usinas nucleares, o que fez com que a energia hidrelétrica perdesse espaço dentro da Europa.

Em Dezembro de 1952, aos 67 anos, Sörgel foi atropelado enquanto pedalava sua bicicleta pelo campus da Universidade de Munique, matando-o. Oito anos depois, o Instituto Atlantropa fecharia as portas pela última vez, enterrando os últimos resquícios de um dos planos mais malucos da história da humanidade.


NOSSOS SITES

  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • TecMundo
  • Logo Mega Curioso
  • Logo Baixaki
  • Logo Click Jogos
  • Logo TecMundo

Pesquisas anteriores: