Ciência
20/07/2020 às 04:00•3 min de leitura
Na última terça-feira (14), a revista científica britânica The Lancet publicou um estudo feito por pesquisadores do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde da Universidade de Washington (IHME). Segundo esses cientistas, a população do mundo encolherá para 8,8 bilhões de pessoas no final deste século.
Financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates, o IHME é uma referência mundial por seus estudos globais em saúde pública. Na atual pesquisa, cujo objetivo foi avaliar o impacto das doenças no planeta, os estudiosos previram um pico populacional a partir de 2064, para 9,7 bilhões de pessoas e o declínio acelerado até o final do século para 8,8 bilhões.
Isso significa taxas decrescentes de fertilidade em quase todos os países do mundo. Em alguns deles, como Espanha e Japão, a população deverá cair pela metade em 2100. A taxa de fertilidade global, estimada em 2,4 no ano de 2017 deverá cair para 1,7 no final do século. Outra consequência será um envelhecimento dramático das populações.
Fonte: Pixabay
A taxa de fertilidade, que é o número médio de filhos gerado por uma mulher durante a vida, já está em queda atualmente. Quando ela ficar abaixo de 2,1, a população mundial começará a cair. Para se ter uma ideia dessa queda, basta lembrar que, em 1950, as mulheres tinham em média 4,7 filhos.
Logicamente esse declínio depende do grau de desenvolvimento da educação das meninas e do acesso aos controles de natalidade, o que implica em questões políticas e até religiosas. Porém, as estimativas deste estudo deixam para trás os números de queda de fertilidade previstos pela ONU.
Um dos participantes da pesquisa, o diretor do IHME Christopher Murray se assustou com os resultados: "Isso é uma coisa muito grande; a maior parte do mundo está em transição para o declínio natural da população. Eu acho incrivelmente difícil pensar nisso e reconhecer a sua extensão. É extraordinário, teremos que reorganizar as sociedades".
O índice de 2,1 filhos por mulher (essa fração de 0,1 é para compensar a mortalidade infantil), cairá no final do século, em 183 dos 195 países estudados.
A China é um país que também poderá perder cerca de metade de seus habitantes, dos atuais 1,4 bilhão para 730 milhões em 2100, o que certamente trará alguns reflexos no seu crescimento econômico avassalador. Nesse cenário, os Estados Unidos, com a supremacia mundial em xeque, poderão ultrapassar a China no período, se a imigração compensar o declínio da fertilidade.
Os continentes asiático e europeu irão perder grande parte da sua população conforme o estudo. Nos dois blocos, pelo menos 23 países terão suas populações reduzidas pela metade: Japão (de 128 a 60 milhões), Tailândia (71 a 35), Espanha (46 a 23), Itália (61 a 31), Portugal (11 a 4,5), Coreia do Sul (53 a 27). Alguns países, como a França (65 a 67 milhões), escaparão dessa tendência de redução populacional.
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São "boas notícias para o meio ambiente", brinca Murray, lembrando que menos pessoas irão gerar uma menor pressão nos sistemas de produção de alimentos e gerarão menor quantidade de CO2 na atmosfera.
Se, por um lado, o planeta agradece, é bom lembrar que uma inversão da pirâmide etária terá consequências impactantes nos sistemas de assistência social e nos serviços de saúde, para dar conta de atender a uma população onde as pessoas com mais de 80 anos serão seis vezes mais numerosas do que hoje (de 141 para 866 milhões em 2100).
Outra situação curiosa será a ascendência de pessoas de origem africana na estrutura populacional global. A população da África Subsaariana, por exemplo deverá triplicar de tamanho até 2100, chegando a 3 bilhões de pessoas. No mesmo tempo, a Nigéria se tornará o segundo país mais populoso do mundo, com 791 milhões de habitantes.
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Como os países de etnias predominantemente caucasiana e mongoloide estão em declínio, e terão que receber correntes migratórias, pensar em termo de "black lives matter" em 2100 será emblemático, ou como diz Murray, "o reconhecimento global dos desafios em torno do racismo será ainda mais crítico...".
Uma sugestão para modificar essa trajetória demográfica sugerida pelos especialistas é a criação de "políticas sociais" para ajudar as mulheres a trabalharem e terem disponibilidade para gerar os filhos que desejarem.
Outra inversão que deverá ocorrer será nas políticas de imigração, com a substituição da atual tendência xenofóbica. "No final do século, os países que precisarem de trabalhadores imigrantes terão que competir para atraí-los", e esses, com certeza, virão da África e do mundo árabe, prevê o líder da pesquisa.