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10/08/2020 às 15:00•3 min de leitura
Em 4 de outubro de 1957, o lançamento do Sputnik 1, primeiro satélite artificial criado pela União Soviética, causou uma onda de medo pelos Estados Unidos, pois significou que os adversários tinham uma vantagem tecnológica na Guerra Fria – além de mexer com a possibilidade de que a função do satélite fosse redirecionada para espionagem internacional.
Em 6 de dezembro do mesmo ano, para acalmar a população inflamada pela crise que a mídia alimentava, o governo norte-americano televisionou o lançamento de seu próprio satélite, o Vanguard TV3, que acabou explodindo na plataforma de lançamento, aparentemente devido a um problema no sistema de combustível.
Em 1º de outubro de 1958, dessa vez para aplacar a humilhação mundial depois do ocorrido, os Estados Unidos fundou a NASA com o intuito de destinar esforços exclusivos na conquista pelo poderio do espaço, finalmente dando início à corrida espacial.
(Fonte: Scoop/Reprodução)
Em 1961, depois que o soviético Yuri Gagarin se tornou o primeiro homem a chegar no espaço, o presidente John F. Kennedy declarou que os norte-americanos deveriam direcionar as suas forças para ir à Lua. Enquanto eles criaram o programa Apollo para alcançar essa meta, do lado dos soviéticos o programa Soyuz ("União", em russo) foi moldado com o mesmo objetivo.
Depois de terem causado a morte em rede mundial do cosmonauta Vladimir Komarov durante a missão Soyuz 1, em 1971, o governo soviético criou a primeira estação espacial feita pelo homem, a Salyut 1, visto que os norte-americanos já tinham pisado na Lua. Três dias depois, foi lançada a cápsula Soyuz 10 com Vladimir Shatalov, Aleksei Yeliseyev e Nikolai Rukavishnikov para uma missão de reabastecimento da nova estação espacial.
No entanto, os cosmonautas tiveram um problema no momento em que tentaram atracar na estação, por isso tiveram que voltar à Terra. Durante a reentrada no planeta, a nave apresentou problemas de mau funcionamento no suprimento de ar e começou a encher a cápsula com fumaça tóxica. Muito embora um dos tripulantes tenha desmaiado por conta disso, a equipe conseguiu chegar viva em solo.
Entretanto, a Salyut 1 ainda estava em órbita e sem combustível. Sendo assim, uma segunda missão foi planejada com o intuito de reabastecer a estação espacial. Assim surgiu a missão Soyuz 11, a mais chocante de toda a História.
(Fonte: AeroTime/Reprodução)
Enquanto os EUA investiam cerca de 4% de seu PIB na corrida espacial, os soviéticos tentavam fazer da ativação da Salyut 1 a melhor maneira de retomar o posto perdido. Logo que a data de lançamento foi definida, todos os profissionais se esforçaram ao máximo para que tudo estivesse perfeito, uma vez que não haveria adiamentos.
Foram escalados os cosmonautas Valeri Kubasov, Alexei Leonov e Pyotr Kolodin para a missão, depois de uma peneira de testes que durou meses. Quatro dias antes do lançamento, uma radiografia mostrou que Kubasov estava com tuberculose. De acordo com as regras da missão, a equipe principal foi substituída pela de apoio, integrada por Georgy Dobrovolsky (comandante), Vladislav Volkov (engenheiro de voo) e Viktor Patsayev (engenheiro de testes).
Em 6 de junho de 1971, a Soyuz 7K-OKS foi lançada no deserto de Baikonur, no Cazaquistão. No dia seguinte, eles atracaram com sucesso na Salyut 1, onde permaneceram a bordo por 22 dias – um recorde de resistência espacial que só seria quebrado pelos norte-americanos 2 anos depois, com a missão da Skylab 2, que totalizou 28 dias no espaço.
(Fonte: RAZA/Reprodução)
Assim que entrou na estação, a equipe foi surpreendida por fumaça e vários circuitos queimados, o que significava que a estação poderia explodir ou desativar a qualquer momento. Eles fizeram a manutenção do sistema de ventilação e conseguiram seguir com os protocolos da missão.
Com o passar do tempo, os cosmonautas foram percebendo que vários equipamentos presentes na estação ainda estavam sendo testados pela Agência Espacial Soviética e que eram todos de caráter experimental, pondo a vida deles em risco. A esteira ergométrica, por exemplo, que eles eram obrigados a usar duas vezes ao dia, causava a oscilação de toda a estação. As transmissões televisivas, por outro lado, roubavam grande parte da atividade computadorizada da estação, comprometendo por horas o seu funcionamento adequado.
No 10º dia de expedição, uma pane elétrica causou um incêndio dentro da Salyut 1, mas a equipe conseguiu contê-lo antes que poluentes tomassem conta do local e algum mecanismo de oxigênio fosse danificado.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Em terra firme, os cosmonautas se tornaram celebridades; havia cartazes gigantescos pelas ruas com os nomes de Dobrovolski, Volkov e Patsayev. Eles chegaram a ter o próprio programa de televisão, onde se transformaram em ídolos juvenis. Portanto, para o desembarque depois de quase 1 mês no espaço, foram feitas centenas de festividades em Moscou.
Apesar de terem perdido comunicação com a equipe da nave, tudo parecia ter corrido normalmente, desde a reentrada à Terra até o pouso em segurança no Cazaquistão, em 30 de junho de 1971. No entanto, quando a equipe de resgate chegou ao local de desembarque e um dos membros bateu na lateral da Soyuz, não obteve resposta. Instantes depois de abrirem a escotilha, descobriram que os três cosmonautas estavam mortos, com danos que aparentavam ser internos.
(Fonte: DeMemoria/Reprodução)
Os tripulantes tinham manchas azuladas por todo o rosto e sulcos de sangue escorrendo de ouvidos e nariz. Mais tarde, o relatório completo da autópsia revelou que os homens sofreram uma hemorragia cerebral enquanto ainda estavam no espaço, provavelmente devido a um mau funcionamento de uma válvula de ventilação que teria despressurizado a nave e os exposto ao vácuo do espaço.
Capa da revista Time da época, a tragédia foi o primeiro evento que marcou o início do desabamento da Guerra Fria. Depois de enterrados na Necrópole da Muralha de Kremlin, na Praça Vermelha, os cosmonautas também tiveram os seus nomes escritos em uma placa colocada na Lua durante a missão Apollo 15, em solidariedade a todos os que morreram pela ambição espacial de suas respectivas nações.