Ciência
18/08/2020 às 05:00•2 min de leitura
Enquanto teorizamos sobre os efeitos do aquecimento global, um grupo de cientistas russos, liderados por Alexander Kizyakov, exploram a cratera de Batagaika, na Sibéria, conhecida como "portal para o submundo", que é na verdade uma rachadura no permafrost, o solo que deveria ficar permanentemente congelado nas regiões árticas.
Essa cratera surgiu na década de 1960 como consequência dos desmatamentos da floresta boreal. A região, que era inteiramente coberta por gelo, ficou exposta aos raios solares sem a proteção das árvores e começou a derreter. Com o degelo, formou-se uma rachadura, que se transformou num barranco que hoje tem 900 metros de largura e cerca de 85 metros de profundidade.
Cientistas descem o paredão (Fonte/; Thomas Opel/Reprodução)
Se, por um lado, o crescimento da cratera, a uma velocidade que chega a 14 metros por ano, representa um risco ao meio-ambiente, ela acaba se tornando para os cientistas uma cápsula do tempo a céu aberto, com amostras de climas e ecossistemas antigos.
Thoms Opel, paleontologista do Instituto Alfred Wegener na Alemanha, explicou à revista Science que a exploração da cratera, feita de rapel no paredão íngreme, "nos dá uma janela para os tempos em que o permafrost era estável e os tempos em que estava se desgastando”. O gelo coletado revelou mostras do mais antigo permafrost exposto na Eurásia, abrangendo os últimos 650 mil anos.
O principal motivo para o crescimento da cratera é o aquecimento global. Nos últimos 30 anos, as temperaturas do Ártico foram o dobro das médias registradas no resto do mundo. Em julho passado, a cidade de Verkhoyansk na Rússia registrou o recorde de temperatura de todos os tempos na região, chegando a 38ºC.
Fonte: Alexander Gabyshev / Instituto de Pesquisa em Ecologia Aplicada do Norte - Reprodução
A cidade, que fica a apenas 75 km da cratera de Batagaika, tem sido um dos muitos exemplos dos impactos causados pelo degelo do permafrost. Explosões do gás metano liberado perfuraram as desoladas planícies russas de Yamai e Gydan com buracos de dezenas de metros de diâmetro.
Nas áreas urbanas, prédios de apartamentos têm tombado e desmoronado no terreno agora instável, causando prejuízos que podem chegar a US$ 2 bilhões por ano. Os incêndios florestais ocorridos durante os últimos três verões queimaram milhões de hectares em toda a Sibéria, cobrindo a terra com fuligem e carvão que absorvem calor e aceleram o degelo.