Estilo de vida
27/03/2021 às 10:00•2 min de leitura
Dois membros da First Sound Initiative, um projeto que busca disponibilizar para o público as primeira gravações sonoras da humanidade, Patrick Feaster e David Giovannoni, conseguiram a um só tempo reescrever a história de gravações de áudio no mundo e contestar o pioneirismo do genial inventor americano Thomas Alva Edison como a primeira pessoa a gravar a voz humana.
Tudo começou em 2008, conta Feaster à BBC, quando ele descobriu algumas fotocópias praticamente ilegíveis de um dispositivo chamado fonoautógrafo, que um bibliotecário francês chamado Édouard-Léon Scott de Martinville havia patenteado em 25 de março de 1857.
Fonte: BBC/Reprodução
Continuando a investigação, o colega de Feaster, Giovannoni, foi a Paris para consultar os documentos de Scott de Martinville no Escritório de Patentes da França, onde encontrou a prova histórica: dois fononautogramas, ou gravações de som, datadas de 1860, 28 anos antes do feito de Edison.
Eram folhas de papel cobertas de fuligem, com marcações da vibração da voz feitas por um fio de pelo de javali. O fato de terem sido submersas em um fixador permitiu que aqueles vestígios registrados há décadas se mostrassem incrivelmente bem preservados. Porém, como reproduzi-los?
Fonte: Académies des Sciences/Institut de France/Reprodução
Com a ajuda de seu computador, Feaster utilizou como referência as vibrações inscritas por um diapasão por Scott no início das folhas. O editor de manuscritos e tipógrafo francês havia feito a máquina para poder gravar os seus sonhos no meio da noite. E foi durante uma noite inteira sem dormir, conta o historiador de áudio à BBC, que ele conseguiu ouvir a gravação: era a canção folclórica "Au Clair de la Lune".
Emocionados com a experiência, pois nem o próprio Scott de Martinville havia escutado aquela gravação, Feaster e Giovannoni, resolveram divulgá-la ao público, na voz de uma garota que ambos pensaram ser a filha do inventor.
A apresentação na BBC rádio 4 foi um fracasso: enquanto alguns se emocionaram, a maioria achou os registros assustadores e até mesmo ridículos. Felizmente, os dois historiadores descobriram que haviam tocado a música com o dobro da velocidade: quando corrigiram o erro, viram que a voz era do próprio Scott de Martinville, cujas gravações acabaram reconhecida pela Unesco.