Ciência
31/03/2021 às 03:00•3 min de leitura
Na noite do último domingo (28), o soldado Wesley Soares, da Polícia Militar da Bahia, estava em um surto psicótico enquanto atirava diversas vezes para cima e contra outros policiais na região do Farol da Barra. Após 3 horas e meia de negociações sem sucesso, agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) tiveram que intervir e o resultado da ação foi a morte do soldado.
A morte do militar trouxe à tona o debate se o policial estava certo ou errado em suas manifestações, sendo que tais questões estão sendo amplamente comentadas por políticos da base e da oposição ao Governo Federal. O que pouco se falou até o momento é sobre as razões que causaram este surto e como esta situação pode provocar sérios problemas para a pessoa e aqueles que a cercam quando acontecem crises como essa.
Foto: SSP / Alberto Maraux
Diversos fatores relacionados às condições psicológicas podem levar a um surto psicótico, sendo que a psicose é um indício das formas mais graves de transtorno mental e pode se manifestar repentinamente. Algumas causas são possíveis para provocar crises como essa, como doenças hepáticas, hormonais, doenças que afetam de forma significativa o sistema imunológico, além de causas relativas a disfunções graves nos neurotransmissores, e isso pode ser causado pelo abuso ou abstinência de substâncias químicas, medicamentos, lesões cerebrais, ou qualquer coisa que possa afetar o sistema nervoso central.
Quando estão surtadas, as pessoas costumam perder o contato com a realidade. Elas ficam com uma fixação exagerada em algo derivado do emocional que impede o envio de informação para a região racional do cérebro. A pessoa fica presa em sua própria atmosfera e realidade não percebendo as nuances ao seu redor, com falhas cognitivas. Se fecha em um estado perturbador, crítico que pode resultar até mesmo na morte de alguém ou suicídio.
Para se ter ideia, a própria nota da Secretaria de Segurança Pública da Bahia confirma que o policial estava transtornado naquele momento: "O soldado alternava momentos de lucidez com acessos de raiva, acompanhados de disparos. Além dos tiros de fuzil, o soldado arremessou grades, isopores e bicicletas, no mar", afirmou o órgão em comunicado sobre o caso.
Foto: SSP / Alberto Maraux
A melhor maneira de agir diante de uma pessoa com curto psicótico é mantendo a calma e não parecendo que está sob ameaça. Uma pessoa com surto psicótico não pode ser confrontada ou sentir-se acuada. Não procure familiares, pois envolver sentimentos pessoais não fará diferença, já que a pessoa está agindo de forma irracional. Deve-se chamar um serviço especializado em remoção para uma clínica especializada para tratar do socorro e auxílio.
Como no caso analisado, policiais são mais propensos a estes surtos que muitas outras profissões devido à rotina e pressão que enfrentam. Eles estão sujeitos a alterações hormonais devido à falta de sono e ao estresse constante. A própria genética pode influenciar no surto de acordo com o indivíduo. Um policial não faz testes genéticos completos para saber se a rotina desta vida profissional pode resultar em problemas no futuro ou devido a uma pressão maior devido às circunstâncias do momento. Estamos em um momento em que o controle emocional é primordial para que possamos atingir o equilíbrio.
Foto: SSP / Alberto Maraux
Enquanto os debates acerca da morte do soldado da PM se restringem ao campo ideológico e político, não se comenta com a mesma intensidade outros aspectos sobre a ação do Bope — a vida deste policial poderia ser preservada de alguma outra maneira? Poderiam ser usadas outras técnicas de negociação? E se as pessoas que fizeram a negociação tivessem desarmadas, como poderiam lidar com este cenário?
Por um lado, o comandante do Bope Major Clédson Conceição afirmou que os militares tentaram a melhor solução para essa situação: "Buscamos, utilizando técnicas internacionais de negociação, impedir um confronto, mas o militar atacou as nossas equipes. Além de colocar em risco os militares, estávamos em uma área residencial, expondo também os moradores".
Contudo, sugiro que as forças policiais utilizem um outro elemento a partir de agora quando se depararem com um indivíduo nesse estado: a pessoa quando está surtada precisa de ajuda, mesmo que naquele momento não consiga reconhecer isso e esteja colocando a vida de outros em risco. Mas, para preservar a vida de quem passa por situações como essa, uma sugestão que faço é que os militares possam usar armas com algum tipo de tranquilizante. Assim, a pessoa estará sedada, sem poder de reação, e poderá ser encaminhada para o melhor tratamento indicado”, completa.
Para quem sofre um surto psicótico ou precisa ajudar uma pessoa que passa por uma situação como essa, uma boa notícia: a pessoa pode ser controlada e existe tratamento médico. Após um diagnóstico minucioso, realizado por especialistas de diferentes áreas do conhecimento, pode-se oferecer técnicas de tratamentos psicológicos e psiquiátricos com uso de medicamentos que podem controlar o estado do indivíduo.
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Fabiano de Abreu Rodrigues, colunista do Mega Curioso, é Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University; Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio, Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal; Três Pós-Graduações em neurociência; cognitiva, infantil, inteligência artificial, Pós-Graduação em Psicologia Existencial e Antropologia, todas pela Faveni do Brasil; Especialização em Propriedade Elétrica dos Neurônios em Harvard, Neurociência Geral em Harvard; Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal; Idealismo Filosófico e Visões do Mundo – Universidade Autônoma de Madrid, Introdução à Filosofia da Passagens Escola de Filosofia, História de La Ética pela Universidad Carlos III de Madrid, MBA em Psicologia Positiva – Autorrealização, Propósito e Sentido de Vida – PUC RS.